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Paraibano da Capital. Tocador de violão e saxofone, tenta dominar o contrabaixo e mantém, por pura teimosia, longa convivência com a percussão, pandeiro, zabumba e triângulo. Escritor, jornalista e magistrado da área criminal do Tribunal de Justiça da Paraíba.

Breves notas sobre a topada

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publicado em 30/06/2024 ás 12h34

Dos pequenos incidentes aos quais todos estamos sujeitos, poucos são mais irritantes que a velha topada. Há algo de indigno na  topada, talvez, por conta da perda da pose ou da elegância, com que a vítima caminhava momentos antes do infausto. O freguês vem andando, sobranceiro, ocupando o pensamento  com elucubrações , ou profundas questões filosóficas,  e , na fração de segundo seguinte, está  estatelado, totalmente arrasado, com a cara na terra.

Por vezes, quando ocorre essa modalidade mais grave de topada, que leva o vivente ao chão, a solidariedade humana aflora , e alguma alma caridosa, segurando o riso, se presta a ajudar. Segurando o riso , sim, pois quase todos acham engraçadíssimo ver o semelhante se estabacar.

Mesmo quando a topada não é das que levam ao solo, as consequências podem ser danosas. Tem aquela topada cuja lapada é no dedão no pé.  Em casos extremos, pode quebrar a unha ou o próprio dedão. Dói como o diabo, e força o sujeito a dar dois, três , passos desengonçados, “catando tostão” , tentando não cair.

Doer, doer mesmo, de verdade, entretanto, é quando o dedo atingido é o mínimo. Em regra, a pessoa vai andando descalça rapidamente, e, ao passar por uma quina , os quatro primeiros dedos do pé vão embora, e o mínimo fica, na tal quina. É daqueles momentos em que alma desprega do corpo, vai ao inferno, dá bom dia ao cão e volta. Bate angústia , dá saudade dos parentes que já morreram. A saraivada de impropérios e palavrões , em voz alta, é inevitável. Só quem vivenciou a experiência sabe.

A dor física pode ser agravada pela dor moral. Como sabido, há quem se acabe de rir com a desgraça alheia, e a topada parece carregar elementos de comicidade suficientes para açular os risos , gritos e assovios,  de quem se diverte com isso. Diante de uma topada imensa, sofrida na calçada desnivelada do Mercado Central, por um senhor corpulento e carregado de sacolas, e dos muitos passos trôpegos dados para manter o equilíbrio , ouviu-se o grito: “Tu morre gordo, só quem bota pobre pra frente é topada .”

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