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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

As pessoas que nós somos

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publicado em 02/07/2024 às 07h00
atualizado em 02/07/2024 às 04h46

Por cá temos muito disto – confusões prosaicas presunçosas, gente que não traz a literatura no beiço, e se traz, não se refaz, não tem jeito, se lança nas conversas dos outros e armam situações embaraçadas. Não é política e quando é, não é. Não custa lembrar que Saramago afirmava que a literatura não serve para nada. Como assim?

Numa entrevista do escritor português no Programa Roda Viva, em 2003, ele já tinha 81 anos e fala da vitalidade, de que uma pessoa com saúde, com equilíbrio, ela pode ir bem mais – é o que esperamos de Caetano Veloso, um extraordinário artista brasileiro, que chega em agosto, aos 82 anos.

Saramago diz que não se deve ter tempo para utopia, que a utopia, não é realizável.

Indagado sobre o mundo, a um Saramago de 2003, há 21 anos, sobre a influência dele, como um escritor político desde o “Ensaio da Cegueira”, ele diz que toda influencia é imediata e, no mundo de hoje – de ontem – em 2003, “tudo é exaurível, que entra no caos informativo, dura 24 horas e desaparece. Alguma coisa fica”, registra.

Não impressiona quando Saramago diz que nada muda o mundo, das pessoas que o encontravam e diziam que, depois que leram o “Ensaio da Cegueira”, mudaram suas vidas. “Livro não muda ninguém”, JS

Sobre o canto dos pássaros que nós escutamos, Saramago afirma que isso é uma função dos pássaros, “cantar para encantar as fêmeas, nós somos pássaros cantando”, fala ele rindo.

Onde está o romance? Ele diz que o romance pode ter deixado de ser um gênero, para ser um espaço, só isso. Que o romance não tem essa necessidade de absorver tudo, que não é uma súmula.

“Eu podia ser um bom professor, creio que sim”, diz ele e como não era, não foi, não teve como saber se teria sido um bom professor. Incrível, né?

Saramago nunca teve a necessidade de explicar seus romances. “No fundo eu não sou um romancista, sou um ensaísta, que não sabe escrever ensaios e escreve romance.  Os romances são dos personagens”

Saramago devolve a pregunta para os jornalistas, sobre escrever: por que escrever?

“Eu escrevo para compreender” E compreendeu? “Não, mas continuo escrevendo”.

Como devemos chegar ao ânimo que nos resta, passar graxa na coisa, em algum berloque, traficando palavras, que o maior prazer que tiramos da literatura é revirar o tempo, com ar de entendidos ?

Onde queremos chegar, nunca chegamos – Saramago fala sobre os ataques, os livros rasgados, queimados, da repercussão do Evangelho Segundo Jesus Cristo,  que é uma reinterpretação da história de Jesus Cristo contada na Bíblia em Israel.

Uma jornalista indaga como ele fez para resgatar esses leitores. “Nada, nunca respondo a um ataque, a uma crítica, de mim não nasce polêmica, nenhuma polêmica vale a pena, porque nenhuma terminou, com alguém dizendo ao outro: você tem razão”

Pensando assim, um homem que escreveu livros para o mundo, a gente sequer pode se achar melhor que o outro, só porque lemos ou não entendemos os que não leem. Precisamos não responder mais aos ataques, que podem ser chiliques, né?

Gracias, Saramago!

Kapetadas

1 – Ela e ele – O riscado e o arriscado. Mas não rela o affair.

2 – Nunca houve tanta gente comendo fora: fora do prato, fora da mesa, fora da cozinha,

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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