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Francisco Leite Duarte é Advogado tributarista, Auditor-fiscal da Receita Federal (aposentado), Professor de Direito Tributário e Administrativo na Universidade Estadual da Paraíba, Mestre em Direito econômico, Doutor em direitos humanos e desenvolvimento e Escritor. Foi Prêmio estadual de educação fiscal ( 2019) e Prêmio Nacional de educação fiscal em 2016 e 2019. Tem várias publicações no Direito Tributário, com destaque para o seu Direito Tributário: Teoria e prática (Revista dos tribunais, já na 4 edição). Na Literatura publicou dois romances “A vovó é louca” e “O Pequeno Davi”. Publicou, igualmente, uma coletânea de contos chamada “Crimes de agosto”, um livro de memórias ( “Os longos olhos da espera”), e dois livros de crônicas: “Nos tempos do capitão” …

Que vinho bom

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publicado em 05/07/2024 às 07h34

Todos recomendam uma orientação para o futuro. Que o passado deve ficar em suas confabulações insatisfeitas, salvo as saudades boas, que reconfortam a alma. O futuro, no entanto, quase sempre, é acalentador. O porvir tem, em si, a esperança, suas lantejoulas, o deslumbramento das ausências ainda não provadas, apenas desejadas. Promessas.

Acho que eu já passei por esse embotamento do juízo. Depois que a gente cruza o cabo das tormentas, passado e futuro são quase equivalentes. Pouco valem, mas valem alguma coisa.

Deitado em uma rede na varanda, olho o céu. A lua é destaque. As luzes da cidade não mostram à suficiência as estrelas, mas uma delas pisca como essas mortesarrependidas que perdem o fôlego, mas resistem. Os cientistas dizem que a estrela já morreu há milhões de anos-luz, mas se ainda vejo seu brilho, me é presente.

Olho para o meu passado. Vejo o futuro. Posso colocar dentro dele o que eu quiser, afinal tudo que não existe é abstração, por isso é bem mais fácil enganar-se com o que já passou do que com o que há de vir.

Depois dos sessenta anos, eu sosseguei o meu juízocom o passado e, porque não tenho pretensões de ter saudades de um futuro, abandonei-me ao presente.  Claro que a essas alturas, eu continuo bobo. O presente também não existe, pois é derrocada do seu máximo no crescente de algum presente. Como o futuro, só existe em abstraçãoque já fora um dia. Mas posso garantir. Passado e futuro são mais estáveis do que o presente. Se quisermos radicalizar, asseguramos que é muito mais seguro.

O presente é, apenas, uma questão de pragmática, aquele tipo de nó quântico que nos diz que estamos em vida. A rigor, o passado não existe porque já se foi; o futuro não é ainda, e o presente, ah, o presente é o ponto cego da existência. Quando se fecha o olho, ele já se foi.Mas há tempo de sorrir. O sorriso sempre será as nossas reticências.

Se é assim, sorria meu bem. Uma taça de vinho ajuda a comprimir o passado, o futuro e o presente em uma mesma realidade. Dormir é bom, diz Morfeu. Eu fecho os olhos e me entrego aos sonhos. Oh, que vinho bom!

@professorchicoleite

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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