João Pessoa, 06 de julho de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Lembro como se fosse agora, ao falar ao telefone com uma amiga, (que sumiu na pandemia), ouvir uma voz cantando no interior da casa, era seu pai com Alzheimer, cantando noutro espelho: “Hoje eu quero a rosa mais linda que houver, e a primeira estrela que vier, para enfeitar a noite do meu bem”, de Dolores Duran.
Para enfeitar a noite do meu bem, me impressionou. O pai dela era um advogado talentoso, boêmio e inteligente.
A vida não nos obedece, ela tira qualquer um do sério, não importa quantas vidas tenha uma pessoa. Não seria a morte, a morte da vida?
De manhã cedo chegou a noticia de que Leda Córdula tinha morrido – o filho Americo disse que ela estava frágil – com 85 anos, e que morreu cantando. É verdade, a vida é bonita.
Tem as lembranças, mas elas também se apagam. Leda esteve na nossa casa algumas vezes, a última, já estava com Alzheimer e, mesmo assim cantávamos as canções de Jobim – ela surgia bem, apenas com Alzheimer – ô doença cruel
A vida tem as coisas tristes que não ficam registradas, sequer restos de conversa. Nada.
A fotografia que a gente faz no celular ou tiram da gente, até de outras vidaa, até a chegada de uma nova pessoa, para um dia dizer – essa aqui foi minha bisavô Leda Córdula. Tudo é tão rápido.
A Leda que eu conheci era gigantesca, seu porte oferecia à vista de uma metrópole, ilustríssima Leda!
A vida e a fome de viver nos desfaz, nos engana, salgada ou doce e nós seguimos um e outro, sobretudo, os de bom coração.
De cá, a saudades, de lá, também.
Tenho, tive a sensação de que Leda tenha se escondido dela mesma.
Sua imagem noutro rio, o vestido, a roupa a dançar no varal, as brincadeiras de roda, por aí.
Se alguém perguntar por Leda, diz que ela foi aí. Cantando, caminhando.
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(dedicado a Américo, Lara e Raul)
Hoje não tem Kapetadas.
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TURISMO - 19/12/2024