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Educador físico, psicólogo e dvogado. Especialista em Criminologia e Psicologia Criminal Investigativa. Ex-agente Especial da Polícia Federal Brasileira, sócio da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas e do Instituto Brasileiro de Justiça e Cidadania. Autor de livros sobre drogas.

Combate ao tráfico e ao crime organizado no Brasil: “enxugando gelo”?

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publicado em 09/07/2024 ás 07h00
atualizado em 08/07/2024 ás 20h35

Orgulho-me por ter, durante quase trinta anos, trabalhado na Polícia Federal Brasileira. Nesse tempo vi a instituição crescer muito, não só no que se refere ao quantitativo dos policiais como – e principalmente – nas exigências para o recrutamento e seleção dos servidores, tudo com um único objetivo: responder adequadamente às cobranças e necessidades da sociedade brasileira.

Para tanto, nas últimas décadas a PF passou a exigir formação de nível superior a todos os seus policiais; ampliou o número de servidores; aprimorou os treinamentos; adquiriu armas e equipamentos de última geração; modernizou, humanizou e aprimorou os métodos de investigação; adquiriu viaturas mais confortáveis e possantes, dentre outros requisitos para um trabalho policial de excelência. Tudo isto, como já citado, com o fito de ser mais eficaz no combate à criminalidade no país.

Também devo registrar que iniciativas similares foram tomadas pela Polícia Rodoviária Federal, as Secretarias de Segurança Pública dos estados brasileiros e entidades municipais congêneres. Contudo, para minha tristeza tenho notado que, mesmo as Polícias tendo melhorado significativamente os seus equipamentos, métodos e estratégias, também é fato que os criminosos e suas ações deletérias cresceram em progressão geométrica, e em níveis bem mais expressivos que aqueles do aparelho repressor estatal.

Assim, nesta guerra de “gato e rato”, se a cada dia nos surpreendemos com o crescente e significativo número de apreensões policiais de drogas ilícitas, material contrabandeado, descobertas de desvios do dinheiro público etc., da mesma forma, a audácia dos criminosos em suas ações nefastas, não deixa dúvidas que estamos navegando em mar revolto, e sem perspectivas de águas tranquilas, pelo menos em curto prazo.

A sociedade mundial vive um momento histórico, de avanços tecnológicos nos mais diversos segmentos nunca dantes vividos, a área de comunicação, por exemplo, evoluiu tanto que as pessoas conseguem se conectar em frações de segundos. Mas, é importante reconhecer que tais avanços tecnológicos e as facilidades que isto traz a reboque, também são utilizados pelas organizações criminosas para alavancarem e aprimorarem suas ações nefastas e destrutivas. Assim, estas empresas do mal têm se infiltrado cada vez mais nos diversos segmentos do poder público minando e enfraquecendo a máquina estatal e, consequentemente, a paz e a justiça social.

Alguns segmentos do poder estatal têm demonstrado, com certa frequência, fragilidade e ineficiência nesta batalha; seja por “omissão dolosa”, seja por cooperação direta de alguns agentes públicos com as ações desses criminosos, o que gera um descrédito perigoso da população com as autoridades públicas constituídas. Mesmo admitindo que a quase totalidade dos servidores e agentes públicos continua lutando pelo bem da sociedade, nesta guerra desigual não tem como negar que, a cada dia, o crime organizado no Brasil, aumenta seu poder e ocupa mais espaços na sociedade, infiltrando-se nos três poderes da República – Executivo, Legislativo e Judiciário – invasão esta que atinge as esferas municipal, estadual e federal.

Desta forma, infelizmente, temos convivido diariamente com esta situação desumana e injusta em que, por vezes, algumas autoridades parecem preferir a opção de “jogar a toalha” desistindo da luta contra os criminosos, permitindo que esta legião de malfeitores continue a corromper pessoas e autoridades públicas, destruam esperanças e princípios de uma nação, desestruturem famílias e eliminem combatentes que se atrevam a impedir ou atrapalhar suas ações nefastas e ilegais. Com isto, estas organizações criminosas se locupletam rapidamente e ampliam seus poderes, se transformando cada vez mais em um poder paralelo a enfrentar e ocupar espaços legalmente pertencentes ao poder público.

É preciso que a legião do bem, que é maioria esmagadora, não perca as esperanças e continue agindo resistentemente neste combate aos criminosos. E, para tanto, esta precisa do estímulo, da confiança e do apoio de toda a sociedade, pois só com esta união e parceria da população ajudando a fortalecer as instituições públicas e a “separar o joio do trigo”, o país poderá voltar a viver com esperança, justiça e paz social. Como bem reza um conhecido provérbio inglês: “uma sociedade só tem chances quando os homens de bem têm a mesma ousadia que os corruptos”.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB