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O Prefácio de Carlos

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publicado em 10/07/2024 ás 07h00
atualizado em 09/07/2024 ás 17h52
   
A arte eterniza os sentimentos humanos. Antigos gregos e romanos, privilegiados pela inteligência, pela arte de guerrear ou governar, esculpiram imagens em mármore ou compuseram poemas épicos para exaltar suas façanhas e se perpetuar.
A escrita e a música igualmente proporcionam a eternização da presença da pessoa na comunidade de humanos onde se vive.
No século passado, Carlos Romero vivenciou espaço privilegiado na paisagem das artes na Paraíba. Destacou-se na produção de crônicas. Produziu crônicas que são longos poemas. Suas crônicas têm dimensão literária.
Diante da máquina de escrever e depois no computador, o simples acontecimento do cotidiano ganhava registro de forma magistral.
Desde a idade quando adentrou nas lides jurídicas e na vida acadêmica como professor universitário, Carlos Romero tinha o rosto pensativo de um filósofo, de um mestre caritativo. As vezes parecia um místico dos tempos modernos. Um ermitão sem as vestes desses monges da antiguidade.
Como claustro tinha as paisagens desta cidade e os lugares exóticos do velho mundo, que sempre visitava.
Parece vê-lo caminhando lento, sempre com troca de fineza, generoso, que sorria para dispensar-se de conversas desagradáveis, sem nunca magoar nem se magoar com ninguém.
Cronista esculpido pelos ensinamentos das letras clássicas e com espaço consolidado em outros meios de comunicação da Paraíba, notadamente no Jornal A União durante a década de 1940, Carlos Romero passou a escrever crônica diária no Jornal O Norte. Sua estreia aconteceu no 24 de agosto de 1952, em espaço privilegiado na primeira página do matutino, que chamou de Revista da Cidade.
Como aperitivo, transcrevo o texto que marcou sua estreia neste Jornal, onde permaneceu durante muitos anos:
Prefácio
Fui intimado, ontem, a assinar diariamente uma crônica neste recanto de jornal. A intimidação, porém, me veio em tom amável, tão amável, que não tive jeito senão me conformar. Agora, com os dedos pousados no teclado desta máquina, como um pianista a procura de um tema esquecido, eis-me, aqui, leitor, redigindo estas palavras de apresentação…
Foi-se o tempo, o bom tempo de calouro da imprensa. O tempo em que se tinha a ingênua presunção de que uma crônica poderia salvar o mundo, orientar os homens, mostrar-lhes a estrada de Damasco.
Uma crônica a mais, uma crônica a menos não vai alterar o ritmo do universo, não fará com que o inquérito do Banco do Brasil seja arquivado, nem conseguirá a ressurreição da Evita Peron. O mundo continuará rolando indiferente aos cronistas do jornal. O homem que se levanta, às 10 horas da manhã, que faz a barba com uma toalha no pescoço, ocupado sem ser feliz, como diria Juarez Batista, talvez seja, após o café, o que o cronista escreveu, para, depois, dizer numa roda de amigos – “Gostei da crônica de fulano”. Apenas isto. E já é uma glória.
Uma crônica a mais, uma crônica a menos, poderá ser uma rima, jamais uma solução. Não fosse assim, e o cronista não ouviria esta sentença inexorável de quem possui a chave de todos os problemas: – “Cultura, cultura, cronista à parte”.
Mas, fiquemos aqui. Para começo de conversa, já vai longo estre prefácio. – CARLOS ROMERO.
Sinceramente, não é uma delícia este texto. O cronista nos conduz por um campo florido, regado pelas águas corrente dos riachos de Alagoa Nova ou será de Serraria, porque as duas regiões são semelhantes e atraentes.
Como seu leitor posso dizer que Carlos escrevia com intimidade da alma e da palavra. Foram milhares de crônicas, principalmente crônicas, porque amava escrever crônicas. Escrevo isso para ser justo e correto a este homem prestativo e atencioso.
Cedo decidiu migrar para a crônica, deixando de escrever contos e poesia, mas continuou lírico. Na época quando passou a colaborar com O Norte, há 72 anos, Carlos Romero tinha a primazia de escrever diferente da maioria dos cronistas da época. Diferente porque escrevia crônica como composição poética.
A linguagem e a escrita escorreita, fazia dele um jovem que se avultava em talento na Imprensa da década de 1940. Destacava-se a ponto de ser convidado para integrar a equipe de fundadores do Correio das Artes, em 1949, que marcou época e continua em circulação em edição mensal pelo Jornal A União, onde publicava contos e poesia nas primeiras edições e depois, esporadicamente, com textos sobre arte e cultura neste suplemento literário.
Depois de uma longa temporada em O Norte, nos anos de 1970 retornou a colaborar com A União, com crônicas semanais e uma coluna sobre literatura. Neste jornal permaneceu até a sua passagem à vida eterna.
A crônica foi seu lenitivo por mais de sete décadas, porque escrevia incansavelmente. Carlos está na história da literatura da Paraíba como um dos escritores que deu relevância à crônica.

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