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Não falta quem diga que o exibicionismo desmedido das peruas Narciza Tamborindeguy, Val Marchiori, Lydia Sayeg, Brunete Fraccaroli e Débora Rodrigues no reality “Mulheres Ricas”, exibido toda segunda-feira na Band, é coisa de país subdesenvolvido. No entanto, o programa é um dos maiores sucessos de audiência nos Estados Unidos, com diversas temporadas gravadas em várias cidades americanas em que, além dos milionários locais, brilham também mulheres e gays brasileiros – estes últimos em uma versão do reality exibida em um canal LGBT.
Consta que a história desse programa começou com um jantar no exclusivo condomínio fechado Coto de Caza, em Orange County, ao sul de Los Angeles, no outono norte americano de 1997. Scott Dunlap, um ex-ator que tinha se tornado empresário de marketing, sentava-se à mesa do Country Club do condomínio ouvindo a conversa cíclica de seus amigos e conhecidos que basicamente diziam as mesmas coisas: as férias na Itália tinham sido ótimas, seus novos carros eram ótimos, sua vida era perfeita. Segundo a lenda, depois de algum tempo dessa arenga Dunlap teria explodido: “Chega! Não aguento mais! Isso não vale nada! Vocês vão todos morrer!”
Alguns dias depois, de cabeça fria e sóbria, Dunlap começou a pensar no jantar de forma diferente: aquela tribo tão peculiar merecia ser observada de perto, estudada com o fervor de um antropólogo. Sua primeira ideia foi fazer um filme, um documentário que, com bom humor, seguisse a vida daquelas pessoas com vidas perfeitas, segregadas voluntariamente do mundo “aqui fora”.
O filme nunca saiu, mas, em 2005, Dunlap estava propondo a Frances Berwick, presidente do canal pago “Bravo!”, uma alternativa mais realizável: uma série reality fazendo exatamente o que seu documentário faria. Na TV aberta, o grande sucesso do ano era a série “Desperate Housewives”, no canal ABC. Berwick viu a proposta de Dunlop como um modo de capitalizar a popularidade da série de ficção. Que tal mostrar como viviam as verdadeiras donas de casa de um verdadeiro condomínio exclusivo dos subúrbios norte americanos?
Nascia ali “The Real Housewives”, uma das franquias mais populares e lucrativas da TV paga dos Estados Unidos, responsável pela ascensão do canal “Bravo!” ao topo da audiência na TV paga, especialmente entre mulheres de 18 a 49 anos. Cada episódio de uma das seis versões da franquia tem em média de 2 a 3 milhões de espectadores (por contraste, uma série aclamada como “Breaking Bad”, da Showtime, atrai uma média de 1,9 milhões de espectadores). Nos últimos dois anos, o “Bravo!” acumulou aproximadamente US$ 162 milhões em venda de espaços publicitários e “product placement” (exposição de produtos) durante as Housewives.
A série original (“The Real Housewives of Orange County”) está entrando este ano em sua sétima temporada. Suas irmãs mais recentes são as Housewives de Atlanta (quarta temporada no ar), Nova York (quinta temporada sendo filmada), New Jersey (quarta temporada sendo filmada), Miami (segunda temporada sendo filmada) e Beverly Hills (segunda temporada no ar).
Fiéis ao seu modelo “docusoap” (mistura de documentário com novela) as diversas Housewives sempre tiveram como atrativo uma boa dose de escândalo. No mais notório de todos, o então casal Micahel e Tarek Salahi, da finada franquia Real Housewives of DC, arrombou a primeira recepção presidencial Barack Obama e foi parar nas manchetes do mundo todo.
Casos menos famosos, mas igualmente escandalosos incluem várias brigas de socos e pontapés entre as housewives, a falência e processos variados do casal Teresa e Joe Giudice, de New Jersey, o passado nada família de sua ex-companheira de elenco, Danielle Taub e, numa tragédia que levou à discussão da responsabilidade da TV, o suicídio, ano passado, do ex-marido de Taylor Armstrong, da série de Beverly Hills.
Duas brasileiras também fazem parte da franquia: Fernanda Rocha, uma personal trainer bisexual que já causou muita comoção entre as housewives de Orange County, e Adriana de Moura, a dona de uma galeria que é a “brazilian bombshell” das housewives de Miami.
Além do “Mulheres Ricas” brasileiro, o formato Real Housewives foi exportado para a Grécia, Israel e Canadá. E, num delicioso riff sobre o formato, “Logo”, o canal pago LBGT norte americano, criou “The A List”, onde os “housewives” são todos rapazes gay. A “A List” tem versões em Nova York e Dallas e está na segunda temporada de ambos. E a de Nova York também tem seu “brazilian bombshell”: o modelo Rodiney Santiago, cujo inglês carregado de sotaque é um dos grandes sucessos da série.
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