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De janeiro a maio 8.237 crianças e adolesceste desapareceram no Brasil e 71% são localizados anualmente

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publicado em 12/07/2024 às 14h24
atualizado em 12/07/2024 às 11h26

Dados da Política Nacional de Busca de Pessoas Desaparecidas, do Ministério da Justiça e Segurança Pública, revelam que de janeiro a maio deste ano, desapareceram 32.705 pessoas. Isso significa que 215 pessoas desaparecem todos os dias e em todos os estados da Federação. Só no Estado da Paraíba, foram 371 desaparecimentos, no mesmo período avaliado. Os homens lideram esse triste ranking, com 20.567 casos. O estudo ainda mostra que foram 11.893 mulheres desaparecidas, enquanto 245 situações não declararam o gênero.

Outro gráfico que chama a atenção é a quantidade de crianças e adolescentes desaparecidos. Nos cinco primeiros meses de 2024, foram 8.237 entre zero e 17 anos sumiram de suas casas. Os desaparecimentos podem ser causados por uma variedade de fatores, incluindo fugas, problemas familiares, sequestros, tráfico humano, consumo de drogas e relação com o crime. Outro levantamento da Política Nacional de Busca de Pessoas Desaparecidas diz que cerca de 20 mil pessoas de até 17 anos desaparecem, por ano, no país. Desse total, aproximadamente 12 mil são encontrados, anualmente.

O juiz titular da 1ª Vara da Infância de Juventude da Comarca de João Pessoa, Adhailton Lacet Correia Porto, alertou sobre os riscos desaparecimento,sobretudo, o período de férias escolares. Segundo o magistrado, depois que for feito o registro da ocorrência a Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Infância e a Juventude e Delegacia de Crimes contra à Pessoa têm a obrigação de comunicar imediatamente o desaparecimento aos portos, aeroportos e rodoviárias e, também enviar, para as empresas de telefonia celular, as informações da pessoa desaparecida para que seja emitido um alerta aos seus usuários.

“A investigação somente se encerra com a localização do desaparecido. Não importa
de quanto tempo precisar, é dever do Estado continuar a investigar, até que a criança ou o
adolescente seja encontrado. Também é importante avisar aos familiares e aos vizinhos. muitas vezes os desaparecidos podem fornecer alguma informação importante, além de ajudarem na busca. Divulgue nas redes sociais cartazes com as imagens das crianças e adolescentes desaparecidos: além da sua página pessoal, você pode pedir a amigos para divulgarem o cartaz”, destacou o juiz.

Adhailton Lacet também disse que muitas organizações sociais mantém páginas nas redes sociais e podem ajudar na divulgação dos dados de quem desapareceu. A exemplo dos aplicativos Family Faces e Sinesp Cidadão. “O Family Faces, em especial, usa tecnologia de reconhecimento facial para facilitar o reconhecimento de desaparecidos em seu cadastro,além de aplicativos de localização. Se o celular da criança ou do adolescente já tiver um aplicativo de localização instalado, você pode acioná-lo para descobrir o local onde está ou onde esteve o desaparecido”, informou.

Para lidar, eficazmente, com o problema, é essencial um esforço coordenado entre o governo, organizações da sociedade civil e a população em geral. Isso inclui a melhoria dos sistemas de registro, aprimoramento das capacidades investigativas e a promoção de políticas públicas que abordem as causas subjacentes dos desaparecimentos. Na Paraíba existe uma rede de proteção voltada às crianças e adolescentes desaparecidos, que envolve Tribunal de Justiça da Paraíba, Ministério Público, Defensoria Pública, Secretaria de Assistência Social, Polícia Civil, Polícia Rodoviária Federal, Conselho Tutelar e Corpo de Bombeiros. Os Ministérios Públicos dos Estados têm um Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos (Plid), que fazem parte do Sistema Nacional de Localização e Identificação de Desaparecidos (Sinalid). As fotos e os dados podem ser enviados por e-mail ou pessoalmente. O Plid cruza dados de vários órgãos,
aumentando as chances de encontrar a criança ou o adolescente desaparecido.

Prevenção e motivos – Para a delegada titular da Delegacia de Homicídios de João Pessoa, Luísa Nascimento Correia Lima, é possível evitar o desaparecimento de crianças e adolescentes estando sempre atento aos meus movimentos, principalmente, em locais públicos e com concentração de pessoas, bem como orientando-os sempre acerca da interação e acompanhamento de pessoas estranhas e interação por meio de redes sociais e espaços virtuais. “Tratando-se de desaparecimento de crianças e adolescentes deve ser feito o registro da ocorrência imediatamente. Por fim, não há prazo para o registro do desaparecimento, na primeira percepção de que a pessoa está incomunicável, em local incerto e não sabido e em circunstâncias anormais de rotina, procurar a delegacia para informar o fato”, alertou.

Sobre o desaparecimento de adolescentes, a delegada enumerou alguns motivos. Um deles é para concretizar namoros ou pessoas envolvidas com o crime, que a investigação tem fundada suspeita de que foram vítimas de homicídios e tiveram os corpos ocultados, bem como pessoas em situação de drogadição e alcoolismo, que abandonam as famílias para viver em situação de rua. “Há ainda pessoas que cometem crimes e se evadem da localidade sem informar a família. Tem os que abandonam a família, sem informar o motivo e não querem que o local do destino seja informado. Por fim, na minoria dos casos, há registros de desaparecidos que, dias depois, são convertidos em investigações de homicídios”, detalhou.

Luísa Nascimento informou que a Delegacia de Homicídios de João Pessoa orienta que o noticiante seja o familiar/contato que mais possui informações acerca das circunstâncias do desaparecimento, bem como hábitos e costumes da pessoa desaparecida, se o desaparecido apresentava doenças psiquiátricas, estado emocional recente dela, vínculos diversos de convívio, passagens pelo sistema prisional ou envolvimento criminoso”, explicou. A delegada também disse que é importante dizer “se pessoa possuía marcas de nascença, tatuagens, piercings, sinais identificadores, próteses e último local onde foi vista, bem como dados do veículo se for o caso”.

Não espere 24h – Em maio deste ano, o Ministério da Justiça e Segurança Pública lançou, a Campanha “Não Espere 24h”, voltada à conscientização sobre o desaparecimento de crianças. O propósito é mobilizar, sensibilizar, informar e alertar a população, além de proporcionar visibilidade ao tema.

O maior objetivo da campanha é desmistificar a crença de que é necessário aguardar 24 horas para registrar o desaparecimento de uma criança. A proposta, estruturada em redes sociais e em parceria com influenciadores, enfatiza a importância de notificar as autoridades competentes o mais rápido possível, pois quanto antes o caso for comunicado, mais efetiva será a busca, o que aumenta as chances de localização.
Outra motivação para a iniciativa é o alto índice de casos de crianças e adolescentes desaparecidos no Brasil.

Fernando Patriota, jornalista Especial para o MaisPB

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