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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Vestido de Minerva

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publicado em 21/07/2024 ás 08h56

Por todos os lados casarões coloridos, nenhum em ruínas. Areia é uma cidade linda. Há anos que não ia lá. Fiquei sem esconder a emoção da redescoberta da cidade, ao entrar no Teatro Minerva, o palco, as coxias, uma obra histórica, inaugurada em 1859.

Foi em Areia que surgiu o primeiro teatro da Paraíba, o segundo, Santa Inês, na cidade de Alagoa Grande, e só depois, o Teatro Santa Roza, em João Pessoa.

Na fachada do Teatro Minerva está escrito – “teatro particular”, bancado por uma elite renovadora (filhos dos senhores do café), cuja renda servia para alforriar escravos (alguns ficavam escondidos nos porões) Isso já é motivo para um filme, um livro, diante de uma obra que está de pé, 165 anos depois.

É preciso conhecer as ruas de Areia e ter a experiência de condutor para perceber que nós, enquanto condutores, somos os personagens.

Andar a pé numa cidade pequena, com cenas do interior, lembrar desse olhar que hoje nos espelha para virar as esquinas de uma cidade subitamente bela. Pelas ruas e paralelepípedos somos nós estrangeiros ou nativos, que figuramos a geometria das cidades.

Areia lembra as ladeiras de Olinda, os encantos do Pelourinho, em Salvador; ruas de Ouro Preto, Recife e o Porto do Capim, em João Pessoa. São cidades de idades avançadas.

Areia, que surgiu como povoado em 1625, cidade do pintor Pedro Américo, do escritor José Américo de Almeida e do Padre Azevedo.

Areia é um prisma na serra da boa esperança.

Voltemos ao Teatro. No dia anterior, o sábado, o Teatro Minerva estava fechado – sorte nossa, que já estávamos nos despedindo da cidade, quando avistamos o teatro aberto. Pagamos e entramos.

O acesso a circular por cenas antigas de espetáculos que nunca vi, preencheram em mim a vontade de subir ao palco e representar o K. Me vesti da deusa Minerva e fiz uma cena brasileira cantando a canção Marginália II de Gilberto Gil e Torquato Neto: “eu, brasileiro, confesso, minha culpa, meu pecado, meu sonho desesperado, meu bem guardado segredo, minha aflição”

Estava ali no palco, atravessando as pegadas dos escravos, dos atores, das atrizes, das tragédias e dos expectadores da vida toda.

Quem será que pensou em colocar o nome de Minerva no teatro de Areia? Quem sabia de Minerva, e teve esse insight, esse acontecimento cognitivo que é o conhecimento, a intuição. Um insight é a perspicácia ou a capacidade de aprender muitas coisas.

O Teatro Minerva de Areia me levou para o Templo de Zeus, me fez viajar com Minerva, vestido de deusa pelas as ruas, os becos, nossas máscaras – lado a lado, uma que ri e outra que chora, surgindo a cada momento e não fazemos ideia com o que nos parecemos, apressados e nunca poderíamos saber que fomos, se fomos.

A descoberta feita por uns, por outros, tão poucos, sentidos e tocados de um modo que nem sonham sabem como se diz: obrigado, Areia pelo Teatro Minerva.

Aqui está meu voto de minerva.

Kapetadas

1 – Se todos os dias você tentar escapar da rotina, essa será sua nova rotina.

2 – Tem assuntos que são um prato cheio. Tem pratos cheios que é melhor desconversar

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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