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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Chegando mais cedo na surdina

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publicado em 23/07/2024 ás 07h00
atualizado em 23/07/2024 ás 07h54

A casa dos subversivos não existe mais. O que está ganhando corpo é a violência.

Os meus 50 anos de solidão se foram desde que o poeta Carlos Drummond de Andrade  criou a história do amor na madureza. Uma vida a mais nessa década que me levará aos 70 anos.

De uma linguagem apurada, que Prometeu, me prometeu e cumpriu, tento acompanhar – ou assoprar as veias abertas – por algum tempo, o tempo do fogo imerso em suas felicidades.

Para despertar a vontade de ficar à vontade, nu com minhas palavras, os textos que ainda desenho, meu caminho noutro mapa, longe da Síndrome de Burnout, eu vou.

Liberdade nunca ameaçada, mas sem se incomodar com gente desconhecida, eu entro e saio sem ser visto, com os olhos tapados da malta.

Não é pra qualquer um.

Já não tenho estradas secundárias, passei por todas, nada em nome do cânone da escrita. Não, eu escrevo porque não viveria sem esse oficio.

Muito longe a fase maldita, alegórica, tupiniquim, dos textos iniciais carregados de simbologias que ninguém entendia, e não entendem até hoje, e nunca vão querer.

Nunca escrevi para apagar, guardo, esconde de mim, não publico, até entrar numas – das vezes ou quase todas, me socorro com os poemas de Drummond, que nunca vi tão satisfeito, tão simples, umas dez vezes lidos, o querido poeta.

Era a voz do morto, que desconfio até hoje, também dos vivos. Minha voz quando leio alto, o gato amarelo me olha e faz cara de Marco Aurélio,  quando o poema vem das flores do mal de Baudelaire.

Na penumbra, não perdura em mim as distraídas águas passageiras, águas passadas, que não movem, mas há de alegrar alguma aldeia.

Pecado e solidão.

Raízes promíscuas sob o solo.

Vejo o amor da bela Adriana com o Olavo Bilac, suas sedes, selos juvenis.

Na hora do encontro, ainda tenho a lida a terminar.

Ás vezes  um vazio de tripa sem linguiça, às vezes.

O sexo na correnteza, cachoeira, amor e dor.

Kapetadas

1 – Pensa que é escritor, mas não passa de um plantador de vírgulas. Quem?

2 –  Diga ao povo que não fico.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB