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Graduado em Letras Língua Inglesa. Especialista em Psicopedagogia e em Gênero e Diversidade na Escola. Leciona a mais de 20 anos em escolas públicas e privadas. Ativista de Direitos Humanos e da Comunidade LGBTQIA+ Amante da Filosofia e da Sociologia. Crítico social. Atualmente atua em Gestão Educacional.

A humanidade nunca mais foi a mesma

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publicado em 25/07/2024 ás 16h01

É necessário ter para ser, e ser para ter.

Darllet Amaral.

A humanidade nunca mais foi a mesma a partir do dia em que escolheu o acúmulo de posses como critério definitivo de superioridade entre seus iguais.

Se voltarmos no tempo, há alguns milênios atrás, quando os homens e as mulheres deixaram para trás a vida nômade para se fixarem de forma sedentária numa área favorável para a habitação e sobrevivência, perceberemos que houve uma mudança comportamental nessas sociedades, quer seja de ordem física ou comportamental, e possivelmente em ambos os aspectos, uma vez que comportamentos afetam o físico, assim como as ações físicas impactam o comportamento.

É exatamente nesse período que emerge a prática da agricultura. Há historiadores que descrevem essa época como a era da transformação dos modos de vida e da relação entre os humanos. Inicialmente a separação das sementes, o plantio, cultivo e a colheita eram feitas coletivamente, como uma espécie de comunismo sem ideologias marxistas e dominação de massas. Tudo era do povo, e tudo era dividido entre o povo. Todos tinham tudo, e todos consumiam o que produziam de acordo com a necessidade alimentar de cada núcleo familiar.

Até que alguém percebeu que a colheita dos grãos muitas vezes excedia, e precisava ser acumulado sob a posse de um membro, que a partir desse contexto se tornava (in) diretamente um provedor da comunidade e com gozo de privilégios que o destacava entre os demais. Tornando-o assim um indivíduo de posses e com controle sobre o cultivo de seus conterrâneos que agora se tornava um proprietário de bens privados.

Nesse período as relações sociais e o plantio sustentável se tornam símbolo de divisão de classes, e o modo de vida se direciona ao TER sobre o SER.

Ser honesto, responsável e cuidador de suas plantações não representava nada mais além do que o objetivo de acumular e ter, para ser superior aos seus iguais. Todos os esforços e dedicação estavam concentrados na acumulação de bens de consumo em ter mais para ter mais privilégios e mais poder.

Com o capitalismo e as divisões de classe sociais, surgidas milênios depois, a valorização do TER estrangulou a essência humana inscrita no DNA de ser, de ser humano e ser gente que nasce, cresce, reproduz e morre conforme a lei universal, e que passa por uma experiência existencial muito mais vinculada aos afetos do que aos patrimônios conquistados ao longo de uma carreira profissional.

Com as ilusões e as miragens criadas pelo sistema econômico, as pessoas são conduzidas a enxergarem suas conquistas materiais como um prêmio pelas horas de vida vendidas por um salário, que na maioria são salários mínimos que não alimentam bem, que nega acesso a atendimento de saúde com dignidade e respeito, e segrega pessoas a pequenos espaços sociais sem acesso a cultura e lazer.

A conjuntura social, normalizada e consensual em vigência não permite a lucidez e o bom senso do raciocínio saudável de que É NECESSÁRIO TER PARA SER E SER PARA TER, como diz o pensamento de Darllet Amaral numa convocatória para a observação do que de fato é real para viver, e viver com sentido e significado.

É necessário ter empatia para ser um bom amigo, namorado, filho, irmão e esposo, e assim ser uma pessoa gentil para ter o retorno da empatia quando dela precisar.

É necessário ter coragem para lutar contra as desigualdades sociais, para ser um ser humano que tenha um sentido existencial de vida.

É necessário ter coragem para enfrentar as violências, as desigualdades de gênero para ser alguém que tenha um legado de boas ações coletivas quando a morte chegar a sua casa.

É necessário ter indignação diante da misoginia, do racismo, da LGBTfobia para ser alguém que tenha solidariedade com o próximo, mesmo quando você não seja parte desses grupos sociais.

É necessário ter senso de justiça, e de bem estar coletivo para ser alguém que tenha o senso da ética e da compreensão de que numa sociedade, o que afeta um, atinge a todos.

Embora a apelação seja insistente para que tenhamos algo a expor e nada a ofertar, é muito importante que tenhamos algo a oferecer para sermos humanos e atrativos aos outros. Porque tudo que se tem com prazo de validade, se torna descartável e se joga no lixo, assim como objetos e pessoas.  O que de fato é necessário é ter algo imperecível dentro de nós para que sejamos inatingíveis pelo esquecimento e pelo descarte.

Sinta a necessidade de ter para ser, e ser para ter. Porque na sequencia invertida você será somente mais um que viveu acumulando, massageando sua baixa autoestima e abraçando um vazio existencial que nenhuma medicação consegue tratar.

Trate sua essência para que ela tenha, e você seja!!

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB