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MAISPB ENTREVISTA

Ricardo Lessa traz à tona o primeiro golpe do Brasil, protagonizado por D. Pedro I

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publicado em 27/07/2024 ás 11h57
atualizado em 27/07/2024 ás 12h53

Kubitschek Pinheiro MaisPB

Vem de longe a história dos golpistas brasileiros – o primeiro golpe do Brasil foi dado por Dom. Pedro I – esse é o tema do novo livro “O primeiro golpe do Brasil”, do jornalista Ricardo Lessa –  resultado da pesquisa e do inconformismo, com ingredientes básicos das grandes reportagens. Com selo da editado Máquina de Livros. O primeiro golpe do Brasil  já foi lançado no Rio de Janeiro e em São Paulo, e já está disponível também no formato e-book em mais de 30 plataformas digitais

O autor de “O primeiro golpe do Brasil”, traz uma narrativa de um período definitivo da mal contada história do nosso país, com impactos até os dias de hoje: o golpe de 1823, liderado pelo jovem português recém-coroado D. Pedro I.

Com o manto de imperador, Dom Pedro I fechou às 14h de 12 de novembro a primeira Assembleia Constituinte do Brasil, que propunha um caminho liberal para o país. Ledo engano. Pedro perseguiu aliados, prendeu e baniu adversários, censurou a imprensa, cercou-se de conterrâneos despreparados, alimentou-se do escravismo e promoveu os escravistas.

Quer saber mais? Leia a entrevista concedida ao MaisPB com detalhes sobre a pesquisa e a verdade por trás do manto do imperador Dom Pedro I e leia o livro de uma lapada só.

RICARDO LESSA nasceu no Rio de Janeiro em 3 de maio de 1956, é um jornalista, escritor e apresentador de televisão brasileiro. É formado em jornalismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), iniciando sua carreira em 1975 no Jornal do Brasil.

É autor de “Brasil e Estados Unidos: o Que Fez a Diferença (Civilização Brasileira) “ Amazônia as Raízes da Destruição que está 10ª edição (Atual Didáticos) e  “A Que Hora Vem o Povo? – Aventuras do subversivo Beraldo Flores – editado pela Codecri

MaisPB  – Boa sacada, trazer à tona o golpe de 1823, liderado por D. Pedro I – vamos começar por aqui?

Ricardo Lessa – Obrigado. Achei que era uma lacuna mesmo. A meu ver, intencional. A monarquia é mestre em promover a si mesma. O Pedro Segundo que foi abandonado aos 5 anos sempre quis pintar uma imagem grandiosa e bela do pai que mal conheceu.

MaisPB – O manto do imperador, que você traz à tona e a podridão é a mesma, quando o recém-coroado D. Pedro I fez o que fez, não é?

Ricardo Lessa – O manto imperial, assim como a coroa, o cetro, as carruagens douradas são ícones de uma época que já passou. E não manda mais no mundo. As monarquias que sobraram na Europa obedecem aos parlamentos. Reinam, mas não governam. Fazem parte, hoje, do mundo do entretenimento. Caro, porém só simbólico. Era o que Pedro I não aceitava. Por isso fechou a Constituinte.

MaisPB – Como qualquer outro, você mostra no “O primeiro golpe do Brasil”, que o imperador foi além de seu poder, banalizado, cercado dos mesmos requintes de uma ditadura. Estou certo?

Ricardo Lessa – Certíssimo. Os déspotas de hoje ou pretendentes a déspota é que imitam o passado. No fundo desejam uma monarquia, como diz o nome, é governo de um só, mono.

MaisPB – Quanto tempo durou a pesquisa, a desmascarar, o blefado herói?

Ricardo Lessa – É um assunto que me incomoda há bastante tempo. Como elogiar uma monarquia que vivia do escravismo. O período em que Pedro I esteve no poder foi o recordista de comércio de gente africana no porto do Rio de Janeiro. Possivelmente no mundo, porque o Rio foi o maior centro global de importação e exportação de escravizados.

MaisPB –  Ou seja, há muito estamos nessa travessia espelho da desigualdade, lama, elitistas, hoje bem pior, com mais munição, né?

Ricardo Lessa – Creio que Pedro I e seus auxiliares conservadores modelaram o sistema elitista, corrupto e promíscuo, que permaneceu quase todo século 19 no Brasil e deixou marcas profundas que estão bem visíveis até hoje.

MaisPB – Vamos pensar que entre tapas e bajulações, os estóicos passam longe, mas ainda se mantém seus privilégios, dois séculos depois, né?

Ricardo Lessa – Sim. Um certo descaso e até crueldade com o ser humano e com a população negra especialmente, com manifestações grotescas ainda hoje, é uma evidência de que persiste o espírito escravista. Isso ficou bem claro nos anos de pandemia, em que o Brasil ocupou as primeiras colocações em número de mortos. Fica claro nas abordagens policiais, no uso do trabalho sem pagamento e instalações minimamente habitáveis nas fazendas brasileiras. Está à vista de todos no abandono dos miseráveis em qualquer centro urbano do país.

MaisPB – Seu livro é uma descoberta e é você mesmo quem diz que o ano 1823 foi o que perdemos a chance de ser um país melhor. Não tem saída, né?

Ricardo Lessa – Existe aquele ditado que diz: pau que nasce torto cresce torto. Eu comecei o jornalismo em tempos de ditadura. Só pra lembrar foi Médici que quis trazer os ossos de Pedro I para o Brasil. Na época mais tenebrosa da história recente.

De lá pra cá tivemos avanços e retrocessos.   Épocas de mais liberdade e mais prosperidade. Tenho esperança de que com muitas estacas e podas podemos melhorar nosso pau, Brasil .

MaisPB – Você que os anos nas redações, a convivência com outros temas, como seu trabalho no Jornal do Brasil, Correio Braziliense e Valor Econômico, até como âncora do Roda Viva, o levou para a literatura?

Ricardo Lessa – Meus trabalhos sempre me proporcionaram grandes aulas, com a oportunidade de entrevistar gente de todo jeito, de presidente a lavrador. Procurei botar no papel o que vi. Andei por todo o Brasil do Oiapoque ao Chuí da Paraíba ao Acre. Escrevi pra jornal, TV, rádio e internet. Pra escrever preciso ler o que outros escreveram antes de mim. E sempre adorei estar entre os livros.

MaisPB – Lula tem dito muitas besteiras – mas qualquer governo diz – não muitas – mas nós continuamos a ver navios, né?

Ricardo Lessa – Vivemos um momento de retrocesso muito grave com Bolsonaro, que queria explicitamente voltar aos tempos de ditadura. A população escolheu voltar aos tempos de governo Lula. Só que o tempo não volta jamais, mas a sociedade de hoje não é a mesma de 2003 ou 2010, e Lula também não é o mesmo. Ele não escapou do vírus que atacava os poderosos e os gregos chamavam de hubris. Quando um homem imagina que pode ser deus, já sabe tudo e de tanto ouvir bajulação, não suporta ouvir críticas ou outras opiniões.

MaisPB – Ficou muita coisa que não entrou no livro?

Ricardo Lessa – Ficou sim. Os editores tiveram bastante trabalho para enxugar o texto e deixá-lo mais fluido. Quando a gente mergulha num assunto faz muitas relações interessantes e esclarecedoras para o autor, mas podem não interessar ao leitor.

MaisPB – O primeiro golpe do Brasil já teve lançamentos no Rio de Janeiro e em São Paulo. Não seria bom lançar a obra Brasil afora, vir ao Nordeste?

Ricardo Lessa – Adoro o Nordeste. Morei em Natal quando era pequeno. Vou sempre que me convidam com o maior prazer.

MaisPB

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