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Educador Físico,  Psicólogo e Advogado. Especialista em Criminologia e Psicologia Criminal Investigativa. Agente Especial da Polícia Federal Brasileira (aposentado). Sócio da ABEAD - Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas e do IBRASJUS - Instituto Brasileiro de Justiça e Cidadania. É ex-presidente da Comissão de Políticas de Segurança e Drogas da OAB/PB, e do Conselho Municipal de Políticas sobre Drogas do município de João Pessoa/PB. Também coordenou por vários anos no estado da Paraiba, o programa educativo "Maçonaria a favor da Vida". É ex-colunista da rádio CBN João Pessoa e autor dos livros: Drogas- Família e Escola, a Informação como Prevenção; Drogas- Problema Meu e Seu e Drogas - onde e como lidar com o problema?. Já proferiu centenas de conferências e cursos, e publicou dezenas de artigos em revistas e livros especializados sobre os temas já citados.

Por que os homens são mais violentos que as mulheres?

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publicado em 30/07/2024 ás 07h00
atualizado em 29/07/2024 ás 20h04

 

Embora os dados estatísticos acerca das violências de forma geral estejam a atestar este fato, certamente as respostas para esta questão não devem ser tão simplistas. Mesmo assim, arrisco dizer o seguinte: na sociedade em geral, tenho testemunhado que, ao que parece, nascer homem já representa um fator de risco para o desenvolvimento de comportamentos violentos. Nesta direção, alguns estudos científicos mostram que há, de fato, uma clara prevalência dos distúrbios de comportamento em pessoas do sexo masculino.

Segundo Filippo Muratori, especialista em neuropsiquiatria infantil e professor de psiquiatria infantil na Universidade de Pisa, Itália, “…já a partir dos quatro a cinco anos de idade, aproximadamente, as crianças do sexo masculino geralmente têm muito mais probabilidade de serem protagonistas de atos antissociais com ou sem agressividade expressa”…

A ligação entre gênero e distúrbio de conduta, certamente ainda não está clara, mas acredita-se, no entanto, que possa estar ligada à presença, na menina, de fatores de proteção como: maior competência comunicativa, mais alto nível de empatia, maior facilidade em sentir culpa pelas próprias ações, maior passividade etc. É também notório que as competências comunicativas, bem como outros aspectos do crescimento humano, se desenvolvem efetivamente com certa antecipação nas mulheres, e isto as levam a ter maior facilidade na socialização das emoções.

De outro modo, a falta de empatia e a pouca tendência em sentir culpa pelas próprias ações poderiam estar ligadas ao endurecimento, que é mais frequentemente observável nos seres humanos do sexo masculino. Estas diferenças de comportamento entre meninas e meninos, defendem alguns especialistas, podem também estar ligadas às diversas atitudes dos pais, os quais toleram habitualmente mais facilmente um problema comportamental nos homens que nas mulheres, por pura questão cultural, e, portanto, exercem sobre eles menor controle e estabelecem menos limites em relação aos comportamentos antissociais e, por vezes, até agressivos destes. Isso, de certa forma, deixa estas crianças mais dependentes das próprias capacidades internas de autocontrole.

Dentre os especialistas que concordam com esta tese, ou seja, que os motivos da maior agressividade masculina estão ligados a fatores culturais e de criação, cito o psicanalista, Marcell Santos, da faculdade de medicina da UFMG. Segundo este professor, “…a impossibilidade de expressar sentimentos faz com que a agressão seja uma forma de se elaborar no mundo…”. Ele explica que o homem é mais violento, pois não é estimulado a agir de outra maneira. “Não há um investimento no homem, desde o nascimento, para ele elaborar melhor a linguagem. E, assim sendo, este não pode falar de sentimento e, por isso, briga para se expressar”, completa o citado professor.

Alguns estudiosos defendam a tese que o fator motivador para que os homens sejam mais violentos que as mulheres, é a carga do hormônio testosterona presente nesses, mas esta tese é contestada pela maioria dos especialistas.

Acrescento aqui, uma curiosidade interessante. Segundo um estudo da Universidade de Utah, “homens são mais violentos quando há muitas mulheres por perto”. Atesta a referida pesquisa que, quando o número de mulheres supera o de homens em uma região, o índice de violências entre eles explode. De acordo com esta explicação, os homens são mais promíscuos em comunidades com mais mulheres, com uma tendência menor a formar famílias, porque a oferta de opções para gerar descendentes é farta. Assim, optam por um comportamento sexual não compromissado e, segundo a pesquisa, tal comportamento traz a reboque um aumento nos crimes sexuais e estupros e incentiva mais a prostituição. Como consequência final, essa “ganância sexual leva os homens a entrar em conflitos violentos entre si, como forma de competição direta”.

Esse padrão de comportamento se repete em outras espécies de mamíferos, mas essa visão animalesca não é a única explicação possível.

Discussões à parte, é importante lembrar o entendimento entre os especialistas que, no tocante à agressividade, o comportamento de oposição e agressivo é, sem dúvida, altamente herdado, e pouco influenciado por fatores ambientais, enquanto o comportamento delinquente, ou violento, está pouco ligado a fatores genéticos e mais associado a fatores pertencentes ao ambiente social compartilhado, modelo familiar, comunidade em que o indivíduo habita etc.

Assim sendo, acredito que uma das formas mais edificantes na educação de uma criança, seja esta do sexo masculino ou feminino, é exatamente o estabelecimento de limites claros, com diretrizes educativas bem postas, pois a partir destas linhas divisórias sobre o que pode e o que não deve, estes seres em crescimento físico e intelectual, poderão se desenvolver de forma mais saudável, pacífica e sociável.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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