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É formado em Direito pela UFPB e exerce funções dedicadas à Cultura desde o ano de 1999. Trabalhou com teatro e produção nas diversas áreas da Cultura, tendo realizado trabalhos importantes com nomes bastante conhecidos, tais como, Dercy Golcalves, Maria Bethania, Bibi Ferreira, Gal Costa, Elisa Lucinda, Nelson Sargento, Beth Carvalho, Beth Goulart, Alcione, Maria Gadu, Marina Lima, Angela Maria, Michel Bercovitch, Domingos de Oliveira e Dzi Croquettes. Dedica-se ao projeto “100 Crônicas” tendo publicado 100 Crônicas de Pandemia, em 2020, e lancará em breve seu mais recente título: 100 Crônicas da Segunda Onda.

A maçã do desamor

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publicado em 05/08/2024 ás 19h45
atualizado em 05/08/2024 ás 19h48

Maria Das Neves, amiga de colégio, era conhecida como das Neves 

Seu verdadeiro nome era Maria Ferraro, uma argentina de nobre linhagem pertencente à família Gherotti da Toscana, Itália. Das Neves foi apelido herdado do sobrenome da sua avó. 

Embora tenha levado uma vida comum, tinha uma mania maravilhosa de comemorar seu aniversário. Nós éramos chamados para adentrar os becos do centro histórico da cidade. Em cada lugarejo Maria inventava uma novidade, sua família também gostava de festas, e, como Maria era muito conhecida e muito falante e desinibida, conseguia parcerias fantásticas com gente muito bacana de vários setores. 

Leonina, nascida no dia 05 de agosto, a festa de Maria foi se tornando um evento enorme, prestigiado e até com um parque de diversões e ganhou seu sobrenome, aliás, da avó, e assim todos queriam ser convidados para a festa de aniversário dela e participar de sua animada festa das Neves. Hoje casada com um empresário do ramo de tecidos da cidade de São Paulo e mãe de 3 filhos, Maria me convidou na semana passada para conhecer nesse sábado o novo local da Festa das Neves, pois haveria uma prévia com shows, palco, som e luz profissional. 

Fui e me arrependi, pois faltou identidade histórica, faltou trabalho bem-feito, faltou tradição. 

Das Neves estava lá, à beira de uma lagoa, desorganizada, com muita barraca sem padronagem ou padronização. 

Se via muita banca de espetinho, cerveja, e caipiras feitas na hora, mas repito, sem ordenamento, sem a beleza e sem riqueza de detalhes de outrora. 

Não falei para Maria que sua festa das Neves não estava à altura das demais, apenas me recolhi depois da dificuldade de encontrar famílias de todas as classes, bancas de bolos e tortas, o cheiro do cachorro-quente, a alegria das pessoas nas janelas dos casarios e inúmeras filas de bolas vermelhas lustrosas nos tabuleiros diversos à espera da mordida de Eva. 

Saí de fininho, passei pelo parque com a sensação de estarmos, não velhos, mas envelhecidos, porque de fato não encontrei ninguém da nossa época andando sob a luz incandescente da roda gigante e passei uma mensagem de WhatsApp para Maria e perguntei sobre nossos amigos, que são mais de 300 em comum, ela me disse que havia chamado todo mundo, mas que infelizmente só eu havia comparecido. 

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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