João Pessoa, 11 de agosto de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
(coluna domingueira no Jornal A União e aqui no MaisPB)
Tudo agora é sonho, disse o garoto paulista Gui Mazzeo, na segunda noite do show de Caetano & Bethânia, na Arena Farmasi, Rio de Janeiro. Isso dele dizer sonho, eu já imaginava, mas um jovem dizer a um velho, deu uma tristeza em mim por mim, por ele, mas ainda não acabou, chorare.
É tão bom sonhar, né? Mas foi num sonho acordado que reencontramos Caetano Veloso, aos 82 anos, capaz de surpreender e provocar no público uma avalanche, uma pletora de alegria, num show que marcou a vida da gente – uma celebração. Ter visto a estreia da turnê Caetano & Bethânia no Rio de Janeiro, sem preço, sem cansaço. E se eu quiser falar com Deus?
Se você tem o ingresso para ir em Recife, Salvador ou onde for, não perca, vá sonhar também, nesse show dos irmãos Veloso.
Chegamos ao lugar do sonho e já era o futuro. Quem chega até ali, com uma vasta obra/olha para o passado, missão cumprida, um desejo enfim renovado, de pôr os pés na Terra e rever as tais fotografias.
Nem precisou da moça do Waze dizer, “seu destino está à direita”. Fomos na barca dos amantes, com o comandante Alex Marques, um mulato do Ceará que mora na Flórida e festejamos outros sonhos em letras garrafais.
Vimos as duas noites, sábado e domingo, e saímos de lá – cansados de sonhar do que houvera, extasiados, e nem foi preciso driblar as dores musculares, um tempo maior de ficar em pé, para nunca esquecer que agora tudo é um sonho. Sonhar é um verbo tão bonito…
A expectativa se cumpriu desde os primeiros espasmos, os gritos e aplausos intermináveis, quando os irmãos entram no palco já nos primeiros acordes de “Alegria, Alegria”. Foi bom demais ter visto Bethânia cantar “Alegria, Alegria”, que nunca imaginaríamos na voz dela, mas teve Negue, Quereres e Gita de Raul e suas raízes sânscritas.
O show inteiro, dois elegantes, soava como declaração de amor de zil anos conhecidos no mundo inteiro. Estava ali a confirmação das intenções e da existência de Caetano e Bethânia. Em seus primeiros versos, “Caminhando contra o vento/ Sem lenço, sem documento”, exalam liberdade, assim como seu final, que repete como desafio a pergunta “Por que não?”. Porque sim, o show foi um sonho.
Quando o show acabou, na noite de sábado, algo nos levou a uma réplica da casa projetada de dona Canô, (dentro da Arena) onde eles foram paridos e abençoados. Os orixás estavam todos em festa. A Mãe Menininha do Gantois apareceu no telão, um clarão.
Caetano também sabe ser careta, afinal, como disse em outra das canções presentes no repertório, canção quer conclui pedindo à vaca profana – sagrada ao avesso – que despeje chuva de leite bom (bênçãos?) sobre os caretas, nós.
Um show que não teve fim com a afirmação de intenções e da existência de ambos.
Tudo é sonho agora, um sonho que nos deixou imóvel, ligeiro, aquilo que nos impressiona muito, sonhar um sonho (im)possível e tudo em volta é só beleza e se transforma, nesse modo que há de ser dos mundos que vivemos, vencemos, para ver tudo de novo, minha mãe meu pai, meu povo.
Kapetadas
1 – Sonhei que eu estava num bar na Barra, digo na marra, tão gourmetizado que os amendoins se chamavam esferas crocantes de leguminosas torradas. Deu a bexiga.
2 – Ter razão é ter nada. Ter amor, amigos, é quase tudo.
3 – O texto é dedicado a Francisco B, Raimundo, Gabriel Baiano, Alex, Pri e as três marias, o Brandão Alan boca de cantor, Helô e as meninas do Brasil, as cariocas Verônica e Renata, Claudinha do Recife e o menino Gustavo Fean, o mais bonito do Brasil.
Foto Sarah Mirela
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TURISMO - 19/12/2024