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Francisco Leite Duarte é Advogado tributarista, Auditor-fiscal da Receita Federal (aposentado), Professor de Direito Tributário e Administrativo na Universidade Estadual da Paraíba, Mestre em Direito econômico, Doutor em direitos humanos e desenvolvimento e Escritor. Foi Prêmio estadual de educação fiscal ( 2019) e Prêmio Nacional de educação fiscal em 2016 e 2019. Tem várias publicações no Direito Tributário, com destaque para o seu Direito Tributário: Teoria e prática (Revista dos tribunais, já na 4 edição). Na Literatura publicou dois romances “A vovó é louca” e “O Pequeno Davi”. Publicou, igualmente, uma coletânea de contos chamada “Crimes de agosto”, um livro de memórias ( “Os longos olhos da espera”), e dois livros de crônicas: “Nos tempos do capitão” …

Silêncio e solidão

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publicado em 16/08/2024 ás 07h00
atualizado em 15/08/2024 ás 23h53

Com veemência, engoli a palavra antes de pronunciá-la. Por arrependimento. Não, minto. Talvez porque o tempo nos ensina falar pouco. O ideal seria ficar em silêncio, afinal todos sabem que o silêncio quando extrapola o seu zumbido natural, é barulho mortal, o brutal pronunciamento de alguma verdade que as palavras não podem revelar.

O silêncio é como a solidão, ou parceiro dela. Ambos têm o mesmo cheiro, o mesmo mofo, o mesmo time, a mesma revolta, talvez a mesma paz, a mesma morte. Mas há diferença entre eles. O silêncio é barulhento, sacoleja a alma no pulsar a vida, o tumtum do coração; a solidão é pacata, às vezes é pústula, come por dentro e nos fita os olhos com muita comiseração.

Como a água para o peixe, o silêncio é o barulho em que habita a solidão. O barulho do silêncio agita o destempero da solidão. São irmãos siameses embora tenham lógica diferenciadas, por isso um vive em guerra com o outro, andando de mãos dadas, porém.

Entre eles, há, como em tudo, um mínimo denominador comum. Um máximo denominador também. Quando os dois se encontram, de duas, uma:  ou as placas tectônicas da vida fugirão uma da outra, evitando os terremotos da alma, quebrando o silêncio e aprofundando a solidão, ou se chocam em compulsão. Dessa última alternativa, às vezes pode brilhar uma partícula divina, o bóson de Higgs. Céus, Estaremos salvos!

De qualquer modo é preciso perguntar. Qual a intersecção mínima entre o silêncio e a solidão? As lágrimas. E o máximo denominador comum? A serenidade. Sofrimento e paz coabitam o mesmo espectro de possibilidades desse agir e vivenciar humanos.

Silêncio e solidão é carma de todos, afinal depois do último grito, só resta a solidão exponenciada pelo silêncio. No entanto, na maior parte das vezes as pessoas, para fugirem do silêncio, fazem o maior barulho e se acompanham de algum ser mequetrefe para fugir do inevitável. Pobres humanos, sina predestinada: viver tão só, como tão sozinho chegamos ao mundo. Choro e choro, silêncio e solidão, a sina final de qualquer um.

@professorchicoleite

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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