João Pessoa, 16 de agosto de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Com veemência, engoli a palavra antes de pronunciá-la. Por arrependimento. Não, minto. Talvez porque o tempo nos ensina falar pouco. O ideal seria ficar em silêncio, afinal todos sabem que o silêncio quando extrapola o seu zumbido natural, é barulho mortal, o brutal pronunciamento de alguma verdade que as palavras não podem revelar.
O silêncio é como a solidão, ou parceiro dela. Ambos têm o mesmo cheiro, o mesmo mofo, o mesmo time, a mesma revolta, talvez a mesma paz, a mesma morte. Mas há diferença entre eles. O silêncio é barulhento, sacoleja a alma no pulsar a vida, o tumtum do coração; a solidão é pacata, às vezes é pústula, come por dentro e nos fita os olhos com muita comiseração.
Como a água para o peixe, o silêncio é o barulho em que habita a solidão. O barulho do silêncio agita o destempero da solidão. São irmãos siameses embora tenham lógica diferenciadas, por isso um vive em guerra com o outro, andando de mãos dadas, porém.
Entre eles, há, como em tudo, um mínimo denominador comum. Um máximo denominador também. Quando os dois se encontram, de duas, uma: ou as placas tectônicas da vida fugirão uma da outra, evitando os terremotos da alma, quebrando o silêncio e aprofundando a solidão, ou se chocam em compulsão. Dessa última alternativa, às vezes pode brilhar uma partícula divina, o bóson de Higgs. Céus, Estaremos salvos!
De qualquer modo é preciso perguntar. Qual a intersecção mínima entre o silêncio e a solidão? As lágrimas. E o máximo denominador comum? A serenidade. Sofrimento e paz coabitam o mesmo espectro de possibilidades desse agir e vivenciar humanos.
Silêncio e solidão é carma de todos, afinal depois do último grito, só resta a solidão exponenciada pelo silêncio. No entanto, na maior parte das vezes as pessoas, para fugirem do silêncio, fazem o maior barulho e se acompanham de algum ser mequetrefe para fugir do inevitável. Pobres humanos, sina predestinada: viver tão só, como tão sozinho chegamos ao mundo. Choro e choro, silêncio e solidão, a sina final de qualquer um.
@professorchicoleite
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