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Educador Físico,  Psicólogo e Advogado. Especialista em Criminologia e Psicologia Criminal Investigativa. Agente Especial da Polícia Federal Brasileira (aposentado). Sócio da ABEAD - Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas e do IBRASJUS - Instituto Brasileiro de Justiça e Cidadania. É ex-presidente da Comissão de Políticas de Segurança e Drogas da OAB/PB, e do Conselho Municipal de Políticas sobre Drogas do município de João Pessoa/PB. Também coordenou por vários anos no estado da Paraiba, o programa educativo "Maçonaria a favor da Vida". É ex-colunista da rádio CBN João Pessoa e autor dos livros: Drogas- Família e Escola, a Informação como Prevenção; Drogas- Problema Meu e Seu e Drogas - onde e como lidar com o problema?. Já proferiu centenas de conferências e cursos, e publicou dezenas de artigos em revistas e livros especializados sobre os temas já citados.

Síndrome do ninho vazio

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publicado em 20/08/2024 ás 07h00
atualizado em 19/08/2024 ás 18h54

Resolvi escrever sobre este tema instigado pela experiência que estou passando no momento, uma vez que todas as minhas filhas alçaram voos próprios e, portanto, deixaram a casa dos pais, para se abrigarem em seus próprios lares, e tocarem elas mesmas as suas vidas longe dos olhos fiscalizadores e palpiteiros dos cuidadores paternos e maternos. E, certamente, a exemplo de mim, esta fase do sentimento do “ninho vazio” já foi, é, ou será vivenciada em maior ou menor intensidade por muitos pais e mães em todo o mundo.

Segundo a Sociedade Brasileira de Psicanálise Integrativa, a Síndrome do Ninho Vazio é o termo utilizado para caracterizar o sentimento de tristeza e solidão associado à saída dos filhos de casa, e caracteriza-se por um período de luto, geralmente, não reconhecido, que ocorre, principalmente, em culturas nas quais a responsabilidade de cuidar dos filhos é essencialmente dos pais. Dependendo da forma como esta experiência é vivenciada, pode se tornar uma patologia com diversos sintomas e com possíveis danos emocionais, psíquicos e sociais.

Alguns estudos psicológicos afirmam que as famílias que enfrentam o fenômeno da síndrome do ninho vazio de maneira acentuada, sofrem bastante com os sintomas deste luto, que pode iniciar com uma leve tristeza, distúrbio do sono, melancolia, raiva, sentimento de abandono e insatisfação com a vida, podendo evoluir inclusive para a depressão.

Apesar de ser mais vivenciado pelas mães, principalmente naquelas culturas em que elas ocupam o lugar de principais cuidadoras dos filhos, a síndrome do ninho vazio, também pode acometer os pais, ou cuidadores que desempenham este papel, mesmo que seja de maneira mais amena, ou com menos sintomas expressos.

Conforme descreve Griffa (2011), cada fase da vida possui características que a permeiam e que a caracterizam. A autora nos indica que a vida adulta é dividida em quatro fases, a saber: juventude dos 18 a 25 anos; vida adulta jovem dos 25 a 30 anos; vida adulta média 30 a 50 anos; e vida adulta tardia 50 a 65 anos. A incidência destra síndrome é mais comum em pessoas que se encontram na faixa etária denominada “vida adulta tardia”.

Esta é uma fase existencial na qual, normalmente, ocorrem transformações significativas no organismo humano, seja em relação ao aspecto físico ou psíquico, podendo influenciar a autoimagem e autoestima do indivíduo. É importante considerar que a forma como cada pessoa vive a sua vida irá influenciar nestes aspectos, ou seja, aquele(a)s que praticam esportes, têm uma alimentação saudável, não usam drogas etc., possivelmente enfrentarão a vida adulta tardia de forma menos vulnerável a tais transtornos, inclusive aos sintomas mais graves da citada síndrome.

Portanto, como já descrito, apesar de mais comum nas mulheres, a síndrome do ninho vazio, pode atingir tanto os homens quanto as mulheres, em intensidades diferentes, pois a personalidade, a singularidade, a cultura e estilo de vida têm influencia nesse processo. No Japão, por exemplo, é comum que os filhos ao saírem das casas dos pais, residam perto de suas famílias, e nesse país é bem menos comum a manifestação da aludida síndrome.

É importante acrescentar que este sentimento de vazio, que acomete muitos pais e mães, adultos e ou idosos, também pode se manifestar nos filhos ao migrarem para um novo lar, embora, ainda não tenha uma denominação específica para esta emoção que eles vivenciam.

O primeiro sentimento de vazio, e até de desproteção que estes sentem é quando, por volta dos nove meses de vida,  são obrigados a deixarem o ventre materno, pois este ambiente se torna apertado e desconfortável. Já a segunda experiência é exatamente quando deixam a casa dos pais na busca de um espaço que possam chamar de seu e, consequentemente, usufruir de uma maior liberdade longe dos olhos atentos e fiscalizadores dos genitores. De certa forma, o ambiente da casa dos pais, mesmo não tendo limite de permanência para os filhos, chega um momento que estes se sentem “apertados” e “desconfortáveis” em permanecer ali, seus sonhos e planos já não cabem mais nesse espaço, e, assim sendo, abandonam o segundo ninho, o lar da família, situação similar àquela do nascimento, quando a criança abandona o ventre da mãe.

Portanto, o que é possível fazer para prevenir ou remediar tais sentimentos de vazio?

A primeira coisa é que os pais precisam aceitar e vivenciar esta nova fase de forma positiva, conscientizando-se que suas crias têm uma necessidade natural de independência, e a saída do lar paterno deve ser vista como uma fase importante e necessária na vida destes jovens, sendo tal fato uma conquista da família como um todo, e não uma derrota. Não resta dúvida que nem sempre é simples assim, haja vista tratar-se do lado emocional e, portanto, de difícil controle por parte dos seres humanos.

Assim, elencamos algumas iniciativas e ações que podem ser adotadas pelos pais visando minimizar os sentimentos e sintomas desagradáveis da síndrome do ninho vazio. Dentre estas destaco: reorganize a casa ou escolha uma nova morada; busque atividades que despertem um propósito de vida que vá além da missão de ser pai ou mãe (passeios, atividades físicas, intelectuais, trabalhos remunerados ou mesmo voluntário), e se isso não for suficiente, busque ajuda profissional.

Ademais, é importante frisar, que nos casos mais acentuados da referida síndrome, faz-se necessário que toda a família seja inserida nesse processo de tratamento psicológico, pois as relações familiares podem ser comprometidas de forma muito negativa por este sentimento de vazio e solidão. Além disso, é extremamente importante que todos os atores envolvidos na situação possam empreender esforços em prol da superação dessa patologia que é o Ninho Vazio. A dedicação e envolvimento de toda a família costuma colaborar de forma muito positiva para a superação mais rápida deste vazio emocional.

 

 

 

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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