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Jornalista, cronista, diácono na Arquidiocese da Paraíba, integra o IHGP, a Academia Cabedelense de Letras e Artes Litorânea, API e União Brasileira de Escritores-Paraíba, tem vários publicados.

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publicado em 21/08/2024 ás 07h00
atualizado em 20/08/2024 ás 16h44
Quando o jornalista Nathanael Alves colocou em minhas mãos a poesia de Adélia Prado, há muito o poeta Camões iluminava minhas noites, recolhido à pequena casa em que morava, no Bairro de Tambiá.
Na época de 1970, os arredores de Tambiá era somente poesia. À noite alguém tocava piano em uma residência perto de nossa vila. Das árvores do Parque Arruda Câmara, da Praça da Independência e das flores dos jardins nas casas, partia perfume que se espalhava pelo bairro.
Durante as noites, recordava as paisagens de Serraria, para depois acotovelar minha saudade nos versos de Camões. Cedo chegou Augusto com seus “Versos Íntimos”. Não fui além desse poema. Bandeira e Drummond eram meu consolo momentâneo, mas foi Adélia Prado quem acalantou a minha ansiedade mística, porque João da Cruz, Tagore e Rumi andavam distantes de minha improvisada estante. Foi um tempo em que Cecília entrou por minha porta e Khalil Gibran pela janela. Todos se tornaram luzes aos caminhos percorridos a partir de 1975, quando passei a frequentar a biblioteca de Nathanael.
O vento amenizava a paisagem em redor do bairro onde residia, e a poesia recolhia os retalhos do mundo invisível da alma para ganhar vida nas páginas em branco do papel que preenchia com frases esparsas.
Com o tempo, familiarizado com Adélia, percebi que tudo é poesia, porque o belo está em tudo. Depende como seu coração observa. Esta poetisa, agora condecorada com o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, e o Prêmio Camões, em Portugal, produz poesia como fala de coisas simples ou de uma única coisa que habita a alma: o amor. Sua poesia é agradável ao nosso espírito.
A poesia de Adélia tem ligações com o cotidiano, está presente na simplicidade das coisas e da vida. A metafisica ajuda a desvendar o sobrenatural no espaço da sua obra. Isso talvez faça dela uma poetisa de destaque no cenário da língua portuguesa.
Há anos, percorro a poesia de Adélia como quem caminha pelos poemas de Fernando Pessoa (Alberto Caeiro), alimentado pela força das imagens construídas pelas palavras.
Em sua obra, de forma elegante, observa-se o misticismo e o erotismo. Tudo aflora de uma maneira fascinante. São um erotismo e uma mística manifestados na abrangente de beleza da criação poética tão bem elaborada.
Como nos Salmos sapienciais, lendo Adélia, aprendemos a falar a linguagem dos anjos para nos aproximar de Deus e, conhecendo seus sentimentos, compreender situações existenciais. Ela fala do que aprendeu no caminho da vida.
Observamos, em sua poesia, mensagem teológica, a oração que respira o ambiente humano, porque perneada pelas situações da vida das pessoas. Revela lamentos, acompanhados de louvores a Deus. Neles, a poetisa coloca sua confiança. A maioria de seus poemas está inter-relacionada com o Altíssimo, e disso brota a vida leve.
Sem perceber, no tempo de minha juventude, a poesia de Adélia me levou ao reencontro com o Transcendental, que havia deixado em Serraria e Arara.
Dificilmente o poeta obtém unanimidade em torno do que expressa em sua poesia. Mas, entre Adélia Prado e nós, há um intercâmbio espetacular. Seus poemas impulsiona uma força que nos conduz à presença de Deus. Um Deus da vida suprema. Revela uma força capaz de remover as montanhas escondidas em nossa alma. Talvez isso a torne uma poetisa diferenciada.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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