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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

O desejo de Trevisan

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publicado em 25/08/2024 ás 08h57

Libido é sinônimo de desejo e em nome desse desejo, um clarão ilumina os neurônios, e dessa junção nunca haveremos de nos separar – levaremos no caixão? Sim, o pulsar, pulsa.

O romance Em nome do Desejo (1983) de João Silvério Trevisan – sua terceira edição de 2001 lançado pela Record, retorna agora ao leitor, na 4ª edição pelo mesmo selo.

O autor paulista dá um pulo, um salto no Brasil despedaçado sem reputação, muito embora a história não é antiga, pulsa e estratifica o poder do sexo. No livro dele, em quatro atos, é uma viagem com vontade de chegar de um seminarista que volta à fonte do desejo.

Trevisan foge da canção de Noel Rosa, pois, para ele não existe o último desejo, mas necessariamente seguido pela performance dos personagens que se encontram nas instâncias mais longevas, para não dizer longínquas, nos coitos e alcovas, aqui e agora.

Em nome do Desejo   pode parecer um regulador do desejo homoerótico na narrativa de cada um dos personagens – e Trevisan é um deles.  Seres ou não seres. É como olhar para a pureza de um gato persa.

Na pegada dessa narratológica, (nome estranho, né?) o velho Macunaíma em seu retorno ao útero, nos trâmites da construção da relação sexual entre os protagonistas, calmamente eufóricos, com todas as falas dos corpos, mostradas nas ilustrações e da capa de Francisco Huirtz.

Se o livro de Trevisan  “Em nome do desejo” tivesse sido publicado há 500 anos, creio, que nem precisaria das anotações nas linhas de caracteres tipográficos,

A redescoberta do corpo e do gozo, bem como da formação, evolução, talvez lá do encontro milimetricamente do óvulo e do esperma, já que ambos, esperma e óvulo não têm sexo – são coesos – luminosos – talvez por isso, a vida presta.

Antes do corredor erótico, somos levados a uma mensagem do autor na página em que se oferece o livro – “existem meninos e meninas que ao entrar na adolescência descobrem-se amando contra a corrente”. Não  é spoiler. É apenas um jeito de corpo, diria Trevisan na outra margem do Rio, que hoje se identifica com a linguagem popular – encaixou.

O amor dos corpos segue o juízo final, mas Trevisan não mostra esse julgamento, porque não existe como se julgar o amor entre duas pessoas.

Há quem diga que o romance é perturbador. Mentira. O perturbado que se retire.  O desejo de Trevisan envolve, porque se tem um tema que mexe com os leitores é sobre o ato sexual. Denso e trágico, mas sem perder a leveza, o livro se tornou um dos maiores sucessos editoriais com temática homossexual do país.

Lembram da canção “Paula e Bebeto” de Milton Nascimento e Caetano Veloso, então leiam Trevisan, que qualquer de amor valerá.

Um livro que nunca esteve no armário, nem nas gavetas, o reencontro dos corpos anos depois dá uma celebração, do amém, uma beleza sem sim.  Os personagens seminaristas Abel e Tiquinho,  vão além das telas, das janelas, do poder dos orixás, do Cordeiro de Deus tira o pecado do mundo.

Kapetadas

1 -“O pior já passou” é uma conclusão sem fundamento. Se o pior já tivesse passado, a gente não estaria aqui.

2 – Não discuta com o destino. Ele pode nem ser o seu.

3 – Foto de Clara Venucci 

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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