João Pessoa, 25 de agosto de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Libido é sinônimo de desejo e em nome desse desejo, um clarão ilumina os neurônios, e dessa junção nunca haveremos de nos separar – levaremos no caixão? Sim, o pulsar, pulsa.
O romance Em nome do Desejo (1983) de João Silvério Trevisan – sua terceira edição de 2001 lançado pela Record, retorna agora ao leitor, na 4ª edição pelo mesmo selo.
O autor paulista dá um pulo, um salto no Brasil despedaçado sem reputação, muito embora a história não é antiga, pulsa e estratifica o poder do sexo. No livro dele, em quatro atos, é uma viagem com vontade de chegar de um seminarista que volta à fonte do desejo.
Trevisan foge da canção de Noel Rosa, pois, para ele não existe o último desejo, mas necessariamente seguido pela performance dos personagens que se encontram nas instâncias mais longevas, para não dizer longínquas, nos coitos e alcovas, aqui e agora.
Em nome do Desejo pode parecer um regulador do desejo homoerótico na narrativa de cada um dos personagens – e Trevisan é um deles. Seres ou não seres. É como olhar para a pureza de um gato persa.
Na pegada dessa narratológica, (nome estranho, né?) o velho Macunaíma em seu retorno ao útero, nos trâmites da construção da relação sexual entre os protagonistas, calmamente eufóricos, com todas as falas dos corpos, mostradas nas ilustrações e da capa de Francisco Huirtz.
Se o livro de Trevisan “Em nome do desejo” tivesse sido publicado há 500 anos, creio, que nem precisaria das anotações nas linhas de caracteres tipográficos,
A redescoberta do corpo e do gozo, bem como da formação, evolução, talvez lá do encontro milimetricamente do óvulo e do esperma, já que ambos, esperma e óvulo não têm sexo – são coesos – luminosos – talvez por isso, a vida presta.
Antes do corredor erótico, somos levados a uma mensagem do autor na página em que se oferece o livro – “existem meninos e meninas que ao entrar na adolescência descobrem-se amando contra a corrente”. Não é spoiler. É apenas um jeito de corpo, diria Trevisan na outra margem do Rio, que hoje se identifica com a linguagem popular – encaixou.
O amor dos corpos segue o juízo final, mas Trevisan não mostra esse julgamento, porque não existe como se julgar o amor entre duas pessoas.
Há quem diga que o romance é perturbador. Mentira. O perturbado que se retire. O desejo de Trevisan envolve, porque se tem um tema que mexe com os leitores é sobre o ato sexual. Denso e trágico, mas sem perder a leveza, o livro se tornou um dos maiores sucessos editoriais com temática homossexual do país.
Lembram da canção “Paula e Bebeto” de Milton Nascimento e Caetano Veloso, então leiam Trevisan, que qualquer de amor valerá.
Um livro que nunca esteve no armário, nem nas gavetas, o reencontro dos corpos anos depois dá uma celebração, do amém, uma beleza sem sim. Os personagens seminaristas Abel e Tiquinho, vão além das telas, das janelas, do poder dos orixás, do Cordeiro de Deus tira o pecado do mundo.
Kapetadas
1 -“O pior já passou” é uma conclusão sem fundamento. Se o pior já tivesse passado, a gente não estaria aqui.
2 – Não discuta com o destino. Ele pode nem ser o seu.
3 – Foto de Clara Venucci
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OPINIÃO - 22/11/2024