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Meu filme de final de semana me deixou um tanto quanto reflexiva… Vidas Passadas. Filme coreano, lançado em junho de 2023, conta a história de Nora e Hae Sung, dois amigos de infância, conectados por um sentimento profundo, que precisam se separar por causa da emigração da família de Nora. Ele na Coreia do Sul, ela em Nova York. Separaram-se de forma abrupta, aos 12 anos de idade. Mais tarde, 12 anos depois, para ser mais exata, Hae Sung consegue, após uma longa procura, reencontrar Nora. No entanto, a distância, as ambições e os sonhos de infância de cada um acabaram por separar mais uma vez os dois amigos. O que resultou em mais 12 anos de separação.
O ponto alto do filme acontece quando eles finalmente conseguem se reencontrar fisicamente, em Nova York. Agora, não mais crianças ou jovens imaturos, precisam entender o que sentem, o que representam um para o outro e o que farão com as escolhas que tomaram. Recomendo que você assista, a menos que você espere por um final de romance onde os dois pombinhos predestinados podem viver seu amor. Arthur, marido de Nora até visualiza esse final, brincando como ele seria o “vilão branco” que separaria o casal, transformando a história num lindo melodrama. Mas não é assim que acontece. A narrativa fugiu dessa simploriedade. E aqui vai o spoiler. As grandes decisões que Nora e Hae Sung poderiam tomar já foram tomadas.
Parece, no entanto, que boa parte da questão central do filme não gira apenas em torno da relação entre Nora e Hae Sung e da vida que poderiam ter vivido ou que, porventura, decidam viver. Embora seja uma percepção secundária, não dá para ignorar a possibilidade de Nora ser a vida do filme. Nora é a vida de Arthur, “para quem ela ficou” e também é a vida de Hae Sung, “para quem ela foi embora”. Ela tornou a “vida deles maior do que poderia parecer”. Que grandiosidade…, suas ambições eram apenas um Nobel, ou um Pulitzer, ou um Tony… Não sei… talvez ela seja um avatar da própria autora da história. Enfim…
Voltando ao me me prendeu: o que fazer com o potencial do passado e a realidade atual? O “quase algo”? Eles veem, entendem e aceitam onde foram parar. E, num flerte com o determinismo, assumem que era exatamente ali onde deveriam estar. Nora não pôde se desfazer das oito mil camadas de “In-Yun” que a uniram a Arthur (quem assistir ao filme, saberá do que estou falando). Ela não quer. Não sabe se poderia. Ao mesmo tempo, a tristeza e o questionamento sobre o que poderia ter mudado se decisões diferentes tivessem sido tomadas. Entendem minhas reflexões? O passado aceita o seu lugar no passado? Assistam!
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NOVA VAGA - 17/12/2024