João Pessoa, 31 de agosto de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Opinar sobre tudo é extremamente perigoso. Corre-se o risco de sair falando asneira, disparates, coisas assim. Infelizmente, para os ouvintes, esse tipo humano, o opinador geral, é cada dia mais comum. Há quem diga que piorou muito o quadro, com o advento da Internet e suas respectivas redes sociais.
Faz sentido. Antes da rede mundial, o opinador incomodava poucas pessoas. O seu círculo imediato de conviventes, família, parentes mais próximos, no máximo, alguns amigos. Agora, não. Atinge de uma lapada só , milhares, talvez milhões. Além da amplitude da plateia , a rede também proporciona ferramentas para pesquisas. Surge um novo personagem, o “Doutor” formado em buscas eletrônicas. Nem o tedioso trabalho de abrir um livro é mais necessário. Bastam alguns cliques na tela, e o Doutor já se qualifica para emitir conceitos e dogmas.
Sempre fico surpreendido com a desenvoltura desses tipos. Na mesma conversa são capazes de discorrer sobre temas múltiplos e não relacionados entre si. Ficam irritados quando não encontram a receptividade almejada, verdadeiramente possessos quando não levados a sério.
Não se fala aqui da velha e boa conversa, o bate papo agradável, onde se permeiam ideias , fala-se e, sobretudo , ouve-se. A questão não é essa. O problema é que o “Opinador Geral” exige respeitosa audiência, afinal ele é autoridade no assunto, pesquisou alguns minutos na Internet, está apto a falar com profundidade sobre o tema. Os privilegiados ouvintes deveriam até aplaudir tão proveitosa exposição.
Argumentar que a brilhante palestra não foi requisitada, é pura perda de tempo. O narcisismo do opinador sequer considera que alguém não queira ouvi-lo. Ora, é uma oportunidade de ouro. Como alguém pode se aborrecer em aprender comigo?
Entre os inúmeros eventos que presenciei, cito o de um jovem comerciante explicando para um idoso produtor rural – que , de quebra , ainda era Médico Veterinário – como fazer uma boa ração para o gado. De outra feita, alguém com formação em gestão , tentava lecionar para uma amiga, Médica, como realizar determinados procedimentos. Nas duas ocasiões, fiz força para conter a gargalhada.
O avançar da idade está me deixando claramente mais impaciente. Em épocas passadas, por questões de boas maneiras, me submetia a ouvir tais dissertações. Às vezes, em nome de alguma amizade. Hoje, não me permito mais. Embora goste mais de ouvir do que falar , não tenho mais a pachorra de encarar a situação. Aos primeiros sinais de uma dessas palestras, peço licença e saio.
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TURISMO - 19/12/2024