João Pessoa, 01 de setembro de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Eu vou me adiantando empinando minha pipa, até chegar à linha invisível. Falar sozinho é uma síndrome? É nada, é apenas um monologo, a síndrome dos tagarelas está além da língua morta. Pelo menos não escuto vozes. Cadê a saboneteira, Sr. Frankenstein? Cansaço mental é doença?
Entrei na Rua Santo Elias (centro da cidade) tentando localizar aquela loja que vendia animais empalhados, anos 70, procurando “un gatto nel blu”, mas a rua está obesa de comerciantes eletrônicos, que tomaram as calçadas com caras de Frankenstein. Escuto meus passos. Cadê aquela acácia que estava ali?
Outro dia, andava até o antigo Colégio Pio XII pela avenida Duque de Caxias, e comecei a ouvir novamente meus passos. Parei, olhei e pensei- tá na hora do texto virar verbo. Tem alguém me seguido? Rastrear outra pessoa é uma síndrome?
Não, nada de pânico, não se espante é só minha sombra que vai na frente. O motorista do Uber disse que daqui a cinco anos todo o centro de João Pessoa estará de portas fechadas. Como assim? “Os comerciantes ainda estão aqui por causa dos chineses”, alertou. Ah, somos chineses, né?
Quem disse que somos chineses foi o João Gilberto. A propósito, vi um podcast no Instaram da @bossaPB com o escritor Paulinho Lima, cara de tacho, dizendo que João Gilberto “era a mais cruel das criaturas”. Quem és tu criatura? “João Gilberto era esquizofrénico”, repete Paulinho. Ai você encontra um Frankenstein na rua e diz – tudo bem, ele responde: tudo bem.
Melhor que qualquer outro observador, só Saramago: “Não sou pessimista, o mundo é que é péssimo.” Saramago é uma síndrome? A viúva Pilar Del Rio, responde: “Como dizia José Saramago, os três vetores que definem nosso tempo são: a resignação, o medo e a indiferença. Com a indiferença, não importa o que aconteça ao outro, se minha família está bem. A resignação é o sentimento de que não podemos fazer nada, e temos o medo de perder o pouco que temos”.
Voltemos as síndromes – o centro de João Pessoa já não me lembra um o tempo da delicadeza. Canto nos “stories” que aqui é o fim do mundo, num cenário de falsa felicidade, de quem não está mais sofrendo com abstinência danada das síndromes. Tiinindo – vejo uma natureza morta, onde nem a expiação do egoísmo e da cobiça combinam.
Um senhor jornalista morador da praia do Cabo Branco, disse que daqui a algumas décadas a cidade vai voltar para o centro, quando a orla estiver superlotada. Nesse tempo todos tenham uma Boa Sentença.
Até quando vou continuar ouvindo meus passos? Na Rua Conselheiro Henriques, centro, no Bistrô 17, parecia que eu usava tamancos. Seja no mercado, nas calçadas, na ladeira de São Francisco que me leva para a Fonte do Desejo. Menopausa é tudo, menos pausa, né?
Noutro podcast fui entender que existe a síndrome do escrivão, que acomete os braços e provoca espasmos quando a pessoa repete o movimento que lhe causa dor, mas nunca é demais a paz que sexo traz.
Por que somos todos teimosos? Porque muitos giram em torno do dinheiro. Dinheiro é uma síndrome? Olha, depende do temperamento: se a criatura toma remédio para dormir e acordar, Tá ‘craude’, brô
Hipocondríaco é uma síndrome? E a fumaça que cobre o Brasil? Ah, o Brasil só tem duas estações: seca e enchente. Até domingo.
Kapetadas
1 -A vitalidade só tem um defeito: não é vitalícia.
2 – Debaixo do viaduto, o sem-teto escreveu o nome de Jesus. Usou o santo nome em vão.
ilustração
Frankenstein
film by Whale [1931]
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TURISMO - 19/12/2024