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Educador Físico,  Psicólogo e Advogado. Especialista em Criminologia e Psicologia Criminal Investigativa. Agente Especial da Polícia Federal Brasileira (aposentado). Sócio da ABEAD - Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas e do IBRASJUS - Instituto Brasileiro de Justiça e Cidadania. É ex-presidente da Comissão de Políticas de Segurança e Drogas da OAB/PB, e do Conselho Municipal de Políticas sobre Drogas do município de João Pessoa/PB. Também coordenou por vários anos no estado da Paraiba, o programa educativo "Maçonaria a favor da Vida". É ex-colunista da rádio CBN João Pessoa e autor dos livros: Drogas- Família e Escola, a Informação como Prevenção; Drogas- Problema Meu e Seu e Drogas - onde e como lidar com o problema?. Já proferiu centenas de conferências e cursos, e publicou dezenas de artigos em revistas e livros especializados sobre os temas já citados.

Ludopatia – o crescimento deste vício com as apostas “bets”

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publicado em 03/09/2024 ás 07h00
atualizado em 02/09/2024 ás 18h35

 

A Ludopatia é o nome do transtorno associado ao vício em jogos de azar. Esse tipo de jogo contempla bingos, loterias, jogos de cartas e apostas. Este é um problema crescente na sociedade contemporânea, pois se antes era necessário um deslocamento do jogador até a banca ou lotérica, agora está ao alcance das mãos, 24 horas por dia, especialmente com o advento das conhecidas “bets”. Estas apostas mudaram o perfil do vício em jogos no Brasil.

A facilidade de acesso ao jogo online e o marketing agressivo das empresas por intermédio de influenciadores e ídolos dos esportes, da música etc., que têm emprestados seus nomes para divulgar estas apostas contribui muito para alimentar esse vício que tomou conta do país e está destruindo muitas vidas, principalmente das pessoas mais pobres. Alguns estudos sobre este tema atestam que a nova mania das “bets” rejuvenesceu o jogador compulsivo em um mercado estimado em aproximadamente 120 bilhões de reais no Brasil atualmente. Pelo menos sete milhões destes jogadores estão endividados por causa das referidas apostas, sendo 30% dos jogadores compulsivos menores de 24 anos de idade. Tudo isto tem assustado os especialistas, pois raríssimas vezes se viu uma mudança de perfil de uma doença psiquiátrica, em ritmo tão acelerado.

Existem muitas similaridades entre o vício em apostas e a dependência de drogas, dentre estas, a necessidade crescente de jogar, sintomas de abstinência quando não é possível jogar, e comprometimento das relações pessoais familiares e sociais, profissionais e financeiras.

Também em ambos os casos, podem ocorrer alterações químicas no cérebro, associadas ao hábito de consumo (tanto de jogos quanto de substâncias químicas), em que há comportamentos compulsivos envolvidos. Além disso, a abstinência pode resultar em sintomas físicos e psicológicos desagradáveis, incentivando ainda mais o comportamento compulsivo de jogo e tornando o tratamento uma necessidade para o jogador. Assim, por mais que possa parecer mera diversão, os jogos online, mais que passar o tempo, podem trazer consequências desastrosas à vida de qualquer um.

Os sites das “bets” representam cerca de 70% dos patrocínios másters dos clubes de futebol dos campeonatos brasileiros das séries A, B e C, segundo levantamento realizado no início de 2024 pelo portal GE, a plataforma de notícias de esportes do grupo Globo. Os bancos ficam em segundo lugar, com apenas 15% dos patrocínios.

Desde o ano de 2018 estas apostas foram liberadas no Brasil, mas só em dezembro de 2023, foi sancionada a lei que regulamenta o mercado de “bets”. De olho nos rendimentos da tributação de empresas e apostadores, o poder público espera arrecadar em média 10 bilhões de reais anuais. Mesmo que a arrecadação tributária possa ser vista como um fator positivo para o país, a distribuição deste montante, caso venha a acontecer, é incoerente, haja vista que segundo a normatização, 64% vão para os ministérios do esporte e do turismo, ficando a pasta da saúde, que terá que arcar com os custos do tratamento desta avalanche de dependentes das jogatinas, com apenas 1% desta arrecadação.

Apesar da existência da lei, atualmente as “bets” ainda não pagam nenhum real em tributos pelas apostas no Brasil. E assim sendo, o poder público não sabe quantas empresas estão explorando as referidas apostas e quanto faturam no país. Também desconhece a destinação do ganho auferido, o número de pessoas empregadas no setor e a quantidade de apostadores. Com todo este vácuo, e sem regras claras de atuação e fiscalização, estas empresas tomaram conta da televisão, dos campos de futebol e, sobretudo, da internet. Desta forma, por determinação destas, e visando persuadir e recrutar cada vez mais jogadores, as TVs brasileiras transmitem jogos de futebol todos os dias da semana, algo que antes do surgimento das “bets” não acontecia.

Como distinguir que a diversão se transformou em um vício?

A linha que define o que é diversão e o que se caracteriza como vício é bastante tênue e esse limite pode variar de uma pessoa para outra. Há pessoas que podem passar várias horas jogando online, mas não são necessariamente viciadas. Já outras, podem desenvolver o vício em pouco tempo. A diferença está no fato de que o jogador compulsivo simplesmente não consegue parar de jogar, muitas vezes deixa sua rotina e as pessoas que o cercam, trocando absolutamente tudo por jogos.

Conforme o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, (DSM-5), para ser diagnosticado com o citado transtorno, o indivíduo deve satisfazer ao menos quatro critérios, dentre os nove elencados abaixo: necessidade de aumentar gradualmente o valor das apostas; irritação ao ter que cessar o jogo; não conseguir parar o comportamento de jogar por longos períodos; jogar quando se sente angustiado; pensar constantemente no jogo; não aceitar perder e sentir o desejo de jogar até ganhar, em um ímpeto de ficar “quite” com a banca; mentir sobre os hábitos de jogo; ter prejuízos nos relacionamentos ou ter perdido o emprego em decorrência dos hábitos de jogo; precisar de aporte financeiro de terceiros para pagamento de dívidas de jogo.

É importante esclarecer que as pessoas que se encontram acometidas deste vício precisam procurar tratamento. Este, geralmente envolve uma combinação de terapia individual e ou em grupo, suporte emocional, grupos de autoajuda, e, em algumas ocasiões, medicação para tratar sintomas de ansiedade e depressão associados ao vício. Nos casos mais graves podem ser necessárias intervenções como a internação em clínicas de reabilitação.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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