Os anos vão passando numa imagem sublima, às vezes neblina, outras inventada, às vezes triste e, com a passagem dos anos perdemos e ganhamos amigos, e quando perdemos, é porque nunca foram amigos. Ou são ciclos.

Os cabelos vão branqueando, moldando a cara do que já foi e, cada gesto, faz de mim um homem cordial, quando não meço esforços e chego a ser banal.

Hoje é meu aniversário, já passo da metade do tempo, mas ainda sei desenhar textos nessa árdua vida, que trai tanto a gente, como disse o poeta Manuel Bandeira – “a vida é traição”

Quão limar, limiar, as grades desse mistério chamado vida a quem chamamos inconsciente em outros momentos, evitando apenas com a aspereza das mãos, no valor dos calos da experiência.

Escreverei mais –  quando as orquídeas adornarem os jasmins do jardim da nossa casa – até chegar a  chegada da Primavera.

Um cheiro de lavanda pela casa, um cheiro de café com bolo vem da cozinha, um assobio que vem da rua,  pé na areia, pé no mar.

Um sol que me viu nascer às 10h em 1960, e teve uma primeira alvorada e um dobrado, dizia meu pai que quando nascei a banda passava tocando para pelotões porque era 7 de setembro.

Uma luz de candeia que ainda me encandeia, a luz de um homem que me fez depois de uma pausa amorosa com minha mãe, e  veio o último menino, para o sonho, o riso e a felicidade, dando sem saber, naturalmente por merecer e espalhar a novidade de que nascera o fim de rama.

Bem ali à horizontal cidade e uma prece longínqua. Então, O Criador de Michelangelo exibe o dedo de Deus indicador esticado, em um gesto simples e direto, agraciando o homem com a vida. A mais bela  obra que impetuosamente dá coragem ao milagre da vida

Não fui criado para ser belo, não se falava disso em nossa casa, erámos todos parecidas, fui criado para fazer render o peixe.

Cigano, judeu errante, nordestino, sertanejo, o pé na estrada, sem matar o tempo, digo como testamento: que já passei da metade da vida.

Não sei colher estrelas como quem colhe esperanças para iluminar os passos para diminuir os medos para nos tornarmos felizes e eu a chorar de alegria.

Kapetadas

1 – O bom da falta de água é que diminui a lavagem cerebral.

2 – A reação mais contundente sobre filosofia barata é a seguinte: as baratas não filosofam.

Leia Também

Dez anos depois

Sabores & odores