João Pessoa, 15 de setembro de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Desde que tomei conhecimento da obra de Ariano Suassuna, quis ter uma Onça Caetana. Achei-a fantástica e terrível. Mas, cadê para comprar? Procura daqui, procura dali, e nada. Nunca encontrei em canto algum. Mercados de artesanato, feiras livres, lojas da internet, e nada, nem rastro da Caetana.
Depois de anos de busca infrutífera, resolvi encomendar ao santeiro Bento de Sumé. Bento é conhecido antigo. Ao longo do tempo, adquiri muitas obras do mestre. Santos e Nossas Senhoras, aves pernaltas, passarinhos, todos muito bonitos e coloridos, esculpidos cuidadosamente em troncos e pedaços de pau, pelas mãos do artista. A obra de Bento passeia pelo Brasil inteiro e pelo mundo. Como de costume, não é muito valorizada por essas bandas.
Bento é um artista popular de grande porte. Do nível de J. Borges e tantos outros que enriquecem nosso patrimônio cultural. Mesmo usando o critério mais abrangente, para distinguir arte popular – que surge espontaneamente, de arte erudita, estudada e aprendida, sinto dificuldades em traçar esse limite. O que distingue uma da outra? Os princípios estéticos? Mas, deixo esse debate para os teóricos. Particularmente, gosto de olhar para a arte, contemplar, deleitar-me.
Infelizmente, a profissão de Santeiro está desaparecendo. Aqui na Paraíba, não conheço outro além de Bento. Sei de Mestre Dim , do Piauí , um ou dois de Pernambuco, e mais uns tantos, de Minas Gerais. E só. Falo, é claro, daquele santeiro que pega a madeira e talha, com instrumentos manuais, uma imagem de santo única. Jamais outra sairá igual. Fabricar santos, às centenas, com moldes, de resina ou gesso, para mim, não tem o menor valor artístico. Mas, é claro, trata-se de opinião e gosto pessoal.
Voltando à Onça , consegui encomendar. Disse a Seu Bento do que se tratava, e aguardei com ansiedade. Tempos depois, chega a notícia: a Onça Caetana está pronta. Tamanha a expectativa, que quase saio correndo os mais de 250 km daqui da Capital para o atelier do Mestre , em Sumé. Felizmente, tinha portador de confiança para o dia seguinte. Consegui me segurar.
Desembrulhando a obra das muitas camadas de plástico, foi surgindo a Onça, com toda sua beleza terrificante . Supimpa. O artista captou exatamente o caráter do felino , meio moça, meio índia, meio morte . Bela e séria, repousa sobre as patas traseiras , olhar penetrante.
Dependesse só de mim, estaria na sala da casa, em local de destaque. Até tentei, mas, determinações superiores impediram tal localização. Eu que tenho juízo e prezo a paz do lar, não discuti. Hoje, ela está faceira , no meu escritório doméstico. Vigia e olha para mim, enquanto trabalho.
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