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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Menino Ivo: Estrela Matutina

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publicado em 16/09/2024 ás 07h59
atualizado em 16/09/2024 ás 08h01

Abrimos espaço para o texto do advogado Moacyr Arcoverde, que escreve sobre o amigo querido – o último moicano, Ivo Borges  – em breve Moacyr será colunista do MaisPB  (Kubitschek Pinheiro, editor de Opinião e de Cultura)

Moacyr Borborema Arcoverde

Comecei a amizade com Ivo Sérgio quando ele aqui aportou para ser secretário do prefeito Oswaldo Trigueiro do Valle em 1983.
Sendo apresentado pelo saudoso Beto Jurema, no Choop da Praia, ele imediatamente disse sorrindo: “você é meu parente por parte de Pawlova que é do ramo ruim dos Viana”.
Nunca mais nos afastemos.
Foi com Ivo que conheci a bossa nova e a Cidade Maravilhosa, devido a sua amizade com os Ronaldo, Bôscoli e Mello Pinto; Nana Caymmi; Tom; Vinhas; e comecei a ter um olhar mais aguçado pelas pernas morenas de Leila Diniz.
Ivo frequentava aquela roda de boêmios e formadores de opinião da década de 60, devido a trabalhar com Newton Rique no famoso Banco Industrial de Campina Grande que acolhia toda aquela corriola sadia e administrava seus papagaios. Por ter pouco mais de vinte anos e sempre se acompanhar com pessoas de outra geração, logo foi apelidado de “menino Ivo”; tanto assim que circulava com os saudosos Luciano Wanderley, Zé Américo Filho e Chico Leocádio, que eram amigos do seu pai.
Certa feita, mais precisamente em março de 1990, estávamos adentrando na churrascaria Plataforma do Leblon, no Rio de Janeiro, eu, ele, Solon de Lucena, Agamenon Falcão (careca), Zé Santa Cruz quando nos deparamos com Tom Jobim. Após todos se cumprimentarem eu escutei o maestro perguntando pelo mais culto dos paraibanos e Ivo de soslaio disse no meu pé de ouvido: “aprenda essa imbecil” e completou: “ah maestro Ariano Suassuna vive em Recife e Zé Américo faleceu faz dez anos”, tendo Tom abruptamente interrompido e dito aquilo que Ivo já esperava escutar: “estou falando do gênio Wills Leal”.
Ivo sabia, queria que eu escutasse da boca do próprio o elogio ao seu maior amigo de todos os tempos. Hoje estão juntos dando boas gargalhadas e “mangando” da gente que tá aqui. Com ele peguei o gosto de ter amizades com pessoas mais velhas.
Vaidoso, com receio de perder o posto de “menino Ivo”, logo me apelidou do “Guri”, em alusão a música de Chico Buarque; apelido que não pegou e carinhosamente me chamava de “imbecil” quando eu lhe atanazava o juízo.
Me atenda o último pedido “menino Ivo”: Pelo amor de Deus não vai querer aperrear Tom logo na chegada e dizer que havia um erro de concordância musical na perfeita “se todos fossem iguais a você”, senão eles não o receberão dizendo que estava guardada a sete chaves o verso tão perfeito feito por ele para você: “Vai tua vida teu caminho é de paz e amor; a tua vida é uma linda canção de amor; abre os teus braços e canta a última esperança; a esperança divina de amar em paz”.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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