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Educador físico, psicólogo e dvogado. Especialista em Criminologia e Psicologia Criminal Investigativa. Ex-agente Especial da Polícia Federal Brasileira, sócio da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas e do Instituto Brasileiro de Justiça e Cidadania. Autor de livros sobre drogas.

Cresce o número de mulheres fumantes na gravidez. Por que?

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publicado em 17/09/2024 ás 07h00
atualizado em 16/09/2024 ás 19h42

O número de mulheres que fumam durante a gravidez aumentou no Brasil. Isso foi o que mostrou uma pesquisa do Instituto Nacional do Câncer (INCA) divulgada no Dia Nacional de Combate ao Fumo, 31 de agosto próximo passado.

A partir do século XX, com as mudanças no estilo de vida, o número de mulheres fumantes aumentou bastante, o que acarretou grandes prejuízos para a saúde destas e dos que estão à sua volta. Entre os resultados estão o incremento de doenças causadoras de morte, como as cardiovasculares, as neoplasias (câncer de mama, de colo de útero e de pulmão) e as respiratórias. Todas relacionadas ao uso crônico do cigarro.

As merecidas conquistas sociais das mulheres nas últimas décadas contribuíram para o avanço em vários aspectos, sejam estes saudáveis ou não. No rol das pressões sociais e modismos culturais estão inseridas algumas estratégias de estímulo ao consumo desenfreado de produtos os mais diversos, inclusive drogas. Isto fez com que o tabagismo nas mulheres, que antes era menos comum, esteja crescendo.

O Brasil é um dos países do mundo que mais diminuiu o consumo de tabaco nas últimas décadas, isto devido às campanhas educativas informativas que foram incisivamente implantadas no país. Contudo, nos últimos anos houve um certo relaxamento do poder público em relação às referidas empreitadas educativas. Por ter havido esta diminuição no consumo, a indústria do tabaco redobrou suas estratégias de marketing para recuperar tal mercado. Para tanto lançou o cigarro eletrônico, também conhecido por “vape”, e redirecionou sua propaganda para a conquista e recrutamento de segmentos da população que antes não eram tão consumistas dos seus produtos, quais sejam os jovens e as mulheres. Desta forma, a indústria tabageira, conseguiu recrutar o público juvenil, menos experiente, direcionando-o para o caminho da dependência de nicotina, estando aí incluído um grande e crescente número de mulheres. No contexto desta persuasão maléfica por parte da referida indústria estão inseridas metas como: a pressão pela manutenção do baixo preço do cigarro legalmente fabricado no país, a pressão pela liberação da comercialização dos DEFs, (dispositivos eletrônicos para fumar), ou seja, os cigarros eletrônicos ou vapes, além de inúmeras ações judiciais impetradas para bloquear a implementação da resolução da Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que proíbe a adição de aromas e sabores em todos os derivados do tabaco.

Devo lembrar que, os vapes são proibidos no Brasil desde o ano de 2009, mas mesmo com tal proibição por parte da Anvisa, o uso destes dispositivos eletrônicos é muito comum no país. Tal consumo tem sido impulsionado principalmente, pelo contrabando e pela falsa sensação de que estes cigarros eletrônicos são menos prejudiciais do que os cigarros tradicionais, o que não é verdade.

Roberto Gil, diretor-geral do INCA, foi incisivo em afirmar em entrevista recente sobre os vapes, que: “…qualquer produto que mata um em cada dois usuários não tem nenhuma razão de existir. Por que ele vai existir se a única estratégia que essa indústria tem é a perpetuação da dependência de nicotina?”

Um dos pontos que chamam atenção na referida pesquisa é que o consumo de nicotina por mulheres grávidas tem crescido mais do que naquelas que não estão nesta condição. Em 2013, o número de mulheres grávidas que fumavam no Brasil representava a metade das não grávidas fumantes (9,6% contra 4,7%). Em 2019, porém, o número de grávidas fumantes já era levemente superior ao das não grávidas (8,4% contra 8,5%). Este dado reflete uma prova inconteste sobre o marketing da indústria do tabaco, especialmente em relação aos cigarros eletrônicos.

Outro aspecto importante a considerar é que, o tabagismo no Brasil, é maior entre jovens gestantes de baixa renda e pouca escolaridade, com idade entre os 18 aos 24 anos.

Segundo afirma a Dra. Andréia Regina da Silva Araújo, responsável técnica pela Unidade de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Materno e Infantil de Brasília (Hmib), “…quando a mulher fumante engravida, sem um planejamento prévio, é importante que ela seja encaminhada, o quanto antes, ao cuidado pré-natal para ser encorajada e receba da equipe médica o suporte necessário para abandonar o vício. E se vai planejar a gravidez, deve ser conduzida aos serviços de saúde para abandonar esse hábito antes que a gestação se inicie. Vale lembrar que apenas diminuir a quantidade de cigarros não resulta em maiores benefícios. Qualquer tanto consumido vai trazer grandes prejuízos para o feto e para a gestação de uma maneira em geral. Trabalhos científicos comprovam a perda de cognição dos recém-nascidos de mãe fumantes. Ou seja, as crianças podem ser menos inteligentes”, ressalta a citada profissional.

Segundo relatos de vários estudos científicos, quando se pensa na mulher em idade reprodutiva, o hábito de fumar diminui a fertilidade. Estando grávida, o cigarro e as substâncias tóxicas nele presentes, principalmente o monóxido de carbono e a nicotina, estão relacionados a um maior risco de abortamento, alterações placentárias, malformações fetais e restrição no crescimento do feto.   Além disso, são mais elevadas as chances de causar sangramento no pós-parto. Quando a mãe vai amamentar, também afeta o recém-nascido, que será fumante passivo e vai receber as toxinas do fumo através do leite materno.

O fato de as mulheres fumarem numa fase tão importante das suas vidas, e das dos seus filhos ainda não nascidos, reforça a necessidade do fortalecimento e implementação de ações simultâneas de controle de tabaco, incluindo uma política de impostos mais altos e intervenções de prevenção e cessação do tabagismo pré-natal como parte da rotina dos profissionais de saúde e sociais com estas mulheres,

 

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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