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Vicente Barreto homenageia o Nordeste em seu 13º álbum

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publicado em 21/09/2024 ás 14h02
atualizado em 21/09/2024 ás 17h06

Kubitschek Pinheiro MaisPB

Fotos – Silvia Zamboni

A novidade é que os xotes e baiões brasis, que formam a identidade nordestina, estão presentes no álbum Na Força e na fé que o cantor e violonista baiano Vicente Barreto, acaba de lançar. O disco foi gravado no estúdio da Pá Virada, em São Paulo, entre janeiro e março deste ano.

O álbum reúne nove parcerias da nova safra de composições de Vicente Barreto, exceto por ´Pelas ruas que andei´, uma regravação em dueto com Alceu Valença, com quem também compôs “Morena Tropicana”. Lançada por Alceu em 1982, “Pelas Ruas que Andei” ganhou novo arranjo feito por Rafa Barreto. O título da canção dá nome a biografia de Alceu Valença, de autoria do jornalista Júlio Moura.

É um disco que homenageia o Nordeste e que conta também com a participação de Zeca Baleiro, Mestrinho e Chico César, nessa levada sonora por caminhos e novas descobertas.

Agenda Vicente Barreto – Neste mês de setembro, Vicente Barreto já se apresentou no Audio Rebel – Rio de Janeiro e em Fabrica Braço de Prata, Lisboa/PT. Em outubro a turnê “Na Força e na fé” retorna a Europa, passa por Braga em Portugal, Berlim, Alemanha e retorna para o Brasil – São Paulo 25/10, no Casa Bona, no dia 31/10, na Casa Outono de Belo Horizonte, no dia 06/11, no Clube do Choro de Brasília e no dia 10/11, também no Planalto Central

Em entrevista ao MaisPB, o artista conta da criação do novo disco, da alegria e da participação dos parceiros e muito mais.

MaisPB – O disco é todo lindo, parece um concerto, que enaltece o Nordeste e sua gente. Vamos começar por aqui?

Vicente Barreto – Eu fico muito feliz em saber que você gostou do disco, e realmente é um trabalho onde enalteço o Nordeste de onde vem minha história e minha inspiração. A cada música que chegava eu ficava muito emocionado pois elas me levavam para este universo. Eu relembrava as músicas que ouvia na minha infância sem saber ainda que eu seria um compositor. Ouvia muito Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga e os violeiros da minha região (Serrinha BA). Ouvia frequentemente o rádio que o meu pai ligava muito cedo e eu ficava flutuando na cama ouvindo esta sonoridade. Então, esta música está dentro de mim. Quando eu ouvi o disco pronto pela primeira vez eu chorei de emoção e de alegria pelo resultado deste trabalho.

MaisPB – A canção xote “!Ilusão Retada” já é um sucesso, sua e de Chico César os dois cantando juntos – que maravilha – conta pra gente dessa alegria?

Vicente Barreto – Nós temos o sentimento que esta música causa uma emoção muito grande nas pessoas. Ela é uma música popular, tem um refrão forte que caracteriza a música que eu faço. Isto também aconteceu com Morena Tropicana, outra música que eu fiz em parceria com Alceu Valença. Quando eu enviei a música para o Chico, ele quis me homenagear contando minha trajetória desde a saída da minha cidade, em 1970, rumo ao Rio de Janeiro. Eu já trazia na minha bagagem os xotes e baiões. Esta música fala da saudade de quem sai de casa, do seu estado, pra tentar uma nova vida num lugar desconhecido e isto mexe muito com as pessoas.

MaisPB – Abre o disco com “Na Força e na Fé” com Sonekka, compositor de primeira e a canção dá nome ao disco – como aconteceu essa junção, já eram parceiros? Aliás, o tema lembra a canção de Gil Andar Com Fé, embora meio mundo de gente está longe da fé…

Vicente Barreto – Este disco na verdade começou com esta música. Quando terminei a música fiquei pensando para quem eu a enviaria, e pensei no Sonekka porque até então a gente não tinha nenhuma parceria, embora estejamos sempre juntos e somos amigos há bastante tempo. Sempre ouço ele tocar suas músicas nas rodas de violão que fazemos na casa do meu parceiro Celso Viáfora, e eu gosto muito das letras que ele faz. Então ele me presenteou com esta letra que de uma certa forma conta minha história a partir da minha vida em SP, onde encontro minha mulher, tenho meus filhos, meus amigos, meus parceiros e onde encontro condição de fazer música profissionalmente.

MaisPB – Você tinha ideia de só gravar essa faixa, não é?

Vicente Barreto – Exato. Inicialmente eu só ia gravar esta faixa, mas depois conversando com meu filho Rafa Barreto (que depois fez os arranjos e produziu o álbum), ele me propôs o desafio de fazer o disco. Naquele momento eu só tinha esta faixa e ele me disse: “mas você não é um compositor?”. Em um mês eu levantei as outras músicas, que chegavam uma após a outra e seguia para os parceiros que retornavam rapidamente. E a fé chegou com força nesta música e eu acho que quem anda com a fé, anda bem melhor. E o nome do álbum veio pelo verso que retrata minha trajetória: “É na força e na fé do verso que mostro de onde sou e é seguindo o som do meu pinho que mostro pra onde eu vou”.

MaisPB – A faixa Zigue-Zague você apresenta com Zeca Baleiro e mistura tudo, o sal, o sol, o céu, é mais outra canção bonita do disco. A ideia é essa mesma do zigue-zague?

Vicente Barreto – É isso mesmo! A vida da gente é um zigue-zague sem fim, vai pra lá e vai pra cá . Eu mesmo saí da Bahia, fui para o Rio, Recife, São Paulo, sabe-se lá pra onde mais…. Eu acho que este baião tem esses caminhos e a levada do violão sugeriu ao Zeca esta imagem do zigue-zague. Aliás, nós já fizemos mais de 30 músicas que iremos em breve gravar algumas delas em um álbum que faremos juntos mostrando nossa parceria.

MaisPB – Aliás, Zeca Baleiro tem duas participações em seu disco – “Saudade de te ver, Paraíba”, é uma bela canção em que vocês fazem homenagem aos artistas da Paraíba. Vamos falar sobre essa elevação dos nossos talentos.

Vicente Barreto – Pra gente foi muito importante homenagear alguns artistas da Paraíba, do novo cenário musical, e inclusive o Chico que está mais próximo da gente. Mas tem um fato incrível que quando eu estava fazendo esta melodia, me veio esta frase toda do refrão: “saudade de te ver Paraíba, saudade de viver…..” . Normalmente quando eu componho vou cantando junto palavras soltas, mas os parceiros gostam muito pois às vezes dão o mote para o assunto da letra.

MaisPB – Falando em Saudade da Paraíba, você já se apresentou aqui em João Pessoa?

Vicente Barreto – Não, nunca me apresentei em João Pessoa, tenho a maior vontade que isso aconteça. Já estive a passeio e adorei a cidade. Aliás, nunca fiz muito show no Nordeste. Estou há muitos anos em SP, onde aliás recebi com muita satisfação o título de Cidadão Paulistano pela Câmara Municipal. Agora, com este novo disco pretendo fazer vários shows pelas principais cidades do nordeste e espero que João Pessoa seja uma delas.

MaisPB – “Pelas ruas que andei”, uma regravação em dueto com Alceu Valença, com quem também compôs “Morena Tropicana”, surge aqui com novo arranjo, aliás, “Pelas Ruas Que Andei” virou nome da biografia de Alceu escrita por Júlio Moura. Vamos falar dessas coisas todas?

Vicente Barreto – Esta canção fizemos juntos no mesmo dia de Tropicana. Eu sou um melodista, e levei pra ele a melodia que viria a ser da música Morena Tropicana, que fiz aqui em SP. Quando terminou esta letra ele me perguntou se eu tinha outra música. Aí ele adorou a que eu mostrei e perguntou se poderia colocar os nomes das ruas do Recife. Eu achei a ideia muito boa e também reconhecia algumas delas, pois eu também tinha morado um tempo por lá quando trabalhei em alguns shows com o Quinteto Violado. Para mim foi uma surpresa e uma alegria muito grande saber que a biografia do Alceu escrita pelo Júlio Moura se chamaria Pelas Ruas Que Andei e que eu também estaria presente na história deste artista incrível.

Esta música é um grande sucesso com Alceu Valença. Para esta regravação criei uma levada de violão como uma sanfona, que meu filho Rafa Barreto reproduziu tão bem que acabou tocando esta música na gravação do disco. Nesta faixa também temos a participação de Alceu cantando comigo.

MaisPB – Sementes do Baião é uma canção que você homenageia Domingos e Gonzagão. Falai como veio essa ideia, esse belo baião?

Vicente Barreto – Essa ideia veio do meu parceiro Zeh Rocha lá do Recife, que resolvi contatar após um longo período desde a nossa última parceria. Como fiz um disco de xotes e baiões, pensei em trazer juntos meus parceiros nordestinos. Eu adorei esta ideia de falar dos novos sanfoneiros como Ferragutti e Mestrinho, que ouvindo os mestres continuam sendo a semente que renasce e revive a história nordestina. Ele também traz o recado do nosso descaso em relação ao desmatamento que hoje afeta não só o nosso país, mas também o planeta como um todo.

MaisPB – Mestrinho está em algumas faixas do disco. Vamos elogiar esse grande artista brasileiro?

Vicente Barreto – É um músico fora do normal! Pessoa que vem para brilhar como uma missão. Ele tem uma bela voz e uma musicalidade impressionante, com uma carreira imensa pela frente. Foi através de um convite do Big Rabelo do Estúdio da Pá Virada SP, onde gravei meu disco, que o Mestrinho veio gravar comigo. Ele gravou sanfona em 4 faixas e cantou comigo a canção Zigue-zague. Eu queria sanfona no disco para que ficasse claro que era um disco de forró pé de serra que é o forró tradicional, sanfona, triângulo e zabumba.

MaisPB – Muito boa a faixa “Falando Sério” que envolve astronauta, cigano, marinheiro, navegador e disco voador – fala aí.

Vicente Barreto – Esta faixa teve um arranjo certeiro e inaugurou minha parceria com Renato Teixeira. Após a gravação do programa Balaio da TV Cultura, que ele e seu filho Chico Teixeira (que já era meu parceiro) apresentam, ele me mostrou alguns trabalhos novos e me perguntou se eu queria fazer alguma música com ele. Eu fiquei muito feliz com a proposta e corri para o instrumento como faço todos os dias. Quando veio esta melodia pensei no Renato e ele me traz esta letra tão diferente e criativa. Ele tem uma capacidade incrível de encaixar as palavras na melodia.

MaisPB – Vai sair pelo Brasil cantando esse som arretado, seu 13º álbum?

Vicente Barreto – A ideia é essa. Vamos pelo Brasil, onde a gente puder chegar. Estamos trabalhando com uma equipe muito forte na divulgação e venda de shows.

@vicentebarreto.oficial

Ficha Técnica – Álbum Na Força e Na Fé

Vicente Barreto – voz e violão

Rafa Barreto – guitarras, synth, baixo, samples e efeitos

Guegué Medeiros – zabumba e ganzá

Rafael Beibi – triângulo e agogô

Ziguezague

Vicente Barreto – voz e violão

Mestrinho – voz e sanfona

Rafa Barreto – guitarras, baixo e efeitos

Guegué Medeiros – zabumba e agogô

Rafael Beibi – triângulo e pandeiro

Thiago “Big” Rabello – caixa, ganzá e afoxé

Êh Flor

Vicente Barreto – voz e violão

Rafa Barreto – guitarra, synth, samples e efeitos

Zé Nigro – baixo

Alice Vaz – zabumba e agogô

Beatriz Da Matta – shaker, reco e triângulo

Thiago “Big” Rabello – bateria

Saudade de te ver, Paraíba

Vicente Barreto – voz e violão

Zeca Baleiro – voz e vocais

Mestrinho – sanfona

Zé Nigro – baixo

Alice Vaz – zabumba

Beatriz Da Matta – agogô, asalato, reco e triângulo

Thiago “Big” Rabello – bateria, caxixi, frigideira e ganzá

Sementes do baião

Vicente Barreto – voz e violão

Rafa Barreto – rabeca

Guegué Medeiros – zabumba e agogô

Rafael Beibi – triângulo e pandeiro

Falando Sério

Vicente Barreto – voz e violão

Rafa Barreto – guitarra, baixo e efeitos

Alice Vaz – zabumba

Beatriz Da Matta – triângulo e tábua

Thiago “Big” Rabello – bateria

Pelas Ruas Que Andei

Vicente Barreto – voz

Rafa Barreto – violão, baixo

Mestrinho – sanfona

Guegué Medeiros – zabumba

Rafael Beibi – pandeiro e triângulo

Thiago “Big” Rabello – agogô, caixa, afoxé e ganzá

Ilusão Retada

Vicente Barreto – voz e violão

Chico César – voz, vocais e violão de 12

Mestrinho – sanfona

Zé Nigro – baixo

Alice Vaz – zabumba e agogô

Beatriz Da Matta – triângulo, shaker, reco, caxixi, colher e ganza

Thiago “Big” Rabello – bateria

Só eu e o sol

Vicente Barreto – voz e violão

Rafa Barreto – guitarra, baixo, samples e efeitos

Guegué Medeiros – congas e ganzá

Rafael Beibi – triângulo e agogô

Thiago “Big” Rabello – bateria

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