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Ana Karla Lucena  é bacharela em Direito pela Universidade Estadual da Paraíba. Servidora Pública no Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba. Mãe. Mulher. Observadora da vida.

Ele sempre florece

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publicado em 23/09/2024 ás 07h00
atualizado em 22/09/2024 ás 19h00

Tenho em meu modesto apartamento um exemplar de um lírio-da-paz. Por ser cultivado em um pequeno vaso, ele não tem muito espaço para expandir, assim, ele floresce apenas uma única vez por ano, num único pendão de uma flor solitária e linda. Amo plantas, mas tenho pouco tempo e espaço para cultivá-las. Apesar disso, estou sempre de olho na quantidade de água, na coloração das folhas e, sempre que posso, converso um pouco com elas. Nada demais… só digo como são lindas e agradeço por deixarem meu ambiente mais agradável.

Várias lendas envolvem a simbologia do lírio-da-paz. Acredita-se que ele consegue absorver as energias ruins do ambiente, protegendo o lar e as pessoas que moram nele. Dizem até que quando ele está bem murchinho é porque absorveu bastante energia negativa. Não os cultivo por isso, mas sim porque é uma planta que lembra minha infância. Minha mãe também tinha um. Enfim… o fato é que todos os anos espero ansiosamente pela sua flor.

É uma flor tão pequena que nem parece flor. É mais uma espiga envolta em uma pétala branca. Tão frágil, tadinha! Abre, passa poucos dias embelezando o vaso, depois murcha e tem que ser removida. Este ano a minha demorou mais. Todos os dias eu estava lá, fazendo a inspeção, olhando se a haste estava surgindo. Nada. Será que eu não a nutri suficientemente bem ou não a hidratei como deveria?

Ontem eu estava muito triste, preocupada, ansiosa, saudosa… era um daqueles dias nos quais todos os sentimentos se reúnem para nos sabotar, dar aquele velho aperto no peito, tirando nossa respiração. Sentei-me em minha poltrona, de onde observo e converso com elas, as plantas. A mesma da qual também observo as estrelas e a noite da minha janela. Não estava no clima para conversar com as plantas. E, se a lenda da absorção de energias fosse mesmo verdade, meu lírio teria morrido, coitado! Mas, como num relance, olhei para ele. Estava lá. Como? Ontem não havia nem sinal dela.

Meu lírio floresceu para mim, no dia em que eu mais precisava da sua beleza. Não fui eu que falei com ele, foi ele que falou comigo. No dia seguinte, todos os sentimentos estavam se dissipando… como se eu mesma estivesse com a haste da minha flor se abrindo. É assim. Daqui a pouco a flor estará murchinha. Mas não quer dizer que nunca mais a verei. Vou podar, hidratar e alimentar para vê-la novamente amanhã, ou depois de amanhã, ou semana que vem, ou no ano que vem…

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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