João Pessoa, 24 de setembro de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Estava eu no salão de beleza lendo o livro de Andrés Bruzzone, aparentemente “Jurássica”, tentando entender o Ciberpopulismo, enquanto cerca de umas 15 pessoas, cabeças baixas, imiscuídas naquele mundo virtual, passavam o tempo entre unhas e cabelos, com seus smartphones na mão, pareciam interessadas pelos conteúdos postados nas redes sociais, em verdadeira servidão maquínica.
Aparentemente eu era um ponto fora da curva, ao estar com um livro à mão, na contramão do fluxo esmagador daquelas pessoas, que mal conseguiam perder mais que 15 segundos para ler um texto, muito menos prestar atenção a um vídeo da mesma intensidade de tempo.
Mal sabia Gutenberg, que a prensa, sua genial invenção, capaz de fundir livros, jornais e etc, a difundir a informação pelo mundo afora, seria tão mitigada pela desinformação da cultura superficial dos produtores individuais das redes sociais, que transmitem de forma instantânea a informação, sem qualquer curadoria, sem qualquer revisão, depreciada pela que se chama de fake news, ao ponto de não sabermos mais o que é verídico ou mentiroso.
Mal sabem estas pessoas, que este universo virtual é dominado por algoritmos, cheios de códigos invisíveis, que modulam comportamentos e até escolhas políticas, mudam completamente os valores da vida pós-moderna, cujos Governos e grandes corporações possuem enorme potencial de vigilância sobre as pessoas, grupos políticos, ativistas e coletivos críticos, transformando o celular em dispositivo de vigilância.
Cada vez mais as relações pessoais se tornam frágeis, as pessoas necessitam estar inseridas neste contexto social das redes para se auto afirmarem, postando conteúdos, na busca criação da sua própria criação, ávidos por chamar atenção para si, quanto mais curtidas melhor, de se tornarem digital influencers, suficientemente instagramáveis, cuja curtida, se vier acompanhada de um comentário, dispara uma carga de dopamina que produz a essência da felicidade, e, dependendo da quantidade de seguidores, ainda lhe rende uns bons trocados.
Enquanto isto, mal sabem elas que a aparentemente inofensiva rede social, faz um raio x da sua vida pessoal enquanto elas navegam, desde suas preferências e gostos, até identidade política, tudo na tentativa de modulação dos seus comportamentos, escolhas, preferências, chegando a influenciar até no seu voto, ao oferecer produtos e serviços no seu feed de notícias, em que algoritmos encontram padrões, engajam-nas em grupos específicos, através do imenso rastro de informações deixadas inadvertidamente e desmaliciosamente pelo registro do cotidiano, em uma massiva coleta de dados para fins de segurança, marketing e publicidade, aperfeiçoamento, conhecimento, enquanto que as empresas de telefonia não param de importunar, ligando exaustivamente; cuja voz do algoritmo, pergunta: “Fulano é você”?
E se você responder que sim, como disse o Ministro Barroso da Suprema Corte: “Perdeu Mané!”, eles não param mais de te ligar, em franco abuso. Então, os algoritmos dominam nossas vidas, os microfones dos smartphones nos ouvem, escutam nossas conversas, através da nossa frequência de interesse por determinado assunto, por determinada página ou conteúdo, direcionam-nos para informações semelhantes, oferecendo produtos ligados ao nosso interesse, engajando-nos em determinada comunidade, inserindo-nos em bolhas.
Vivemos num chamado cibercapilatismo de vigilância, no qual os milhões de dados que produzimos todos os dias, são captados por algoritmos, transformados gratuitamente em matéria-prima para que empresas se utilizem deste big data para moldar o comportamento humano em prol de finalidades de terceiros. Acabou-se a privacidade, enquanto inocentemente achamos que estamos nos divertindo nas redes sociais, estamos sendo vigiados, portanto, muito cuidado ao deixarmos nossas figer prints digitais!
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OPINIÃO - 22/11/2024