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Francisco Leite Duarte é Advogado tributarista, Auditor-fiscal da Receita Federal (aposentado), Professor de Direito Tributário e Administrativo na Universidade Estadual da Paraíba, Mestre em Direito econômico, Doutor em direitos humanos e desenvolvimento e Escritor. Foi Prêmio estadual de educação fiscal ( 2019) e Prêmio Nacional de educação fiscal em 2016 e 2019. Tem várias publicações no Direito Tributário, com destaque para o seu Direito Tributário: Teoria e prática (Revista dos tribunais, já na 4 edição). Na Literatura publicou dois romances “A vovó é louca” e “O Pequeno Davi”. Publicou, igualmente, uma coletânea de contos chamada “Crimes de agosto”, um livro de memórias ( “Os longos olhos da espera”), e dois livros de crônicas: “Nos tempos do capitão” …

Calado!

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publicado em 27/09/2024 ás 07h00
atualizado em 26/09/2024 ás 22h25

 

“Não fale, filhinho. Nem berre”.  Deve ter esbravejado o estorvo em um comício de apresentação do moleque. “Muito menos com a imprensa… Calado, viu?”

“Mas, e os eleitores, papi?”

“Povo? Que bosta de povo é essa?”

“É mesmo. Eca! Onde estou com a cabeça?”

Entre um e outro arroto podre, o genitor do candidato alerta: “Se falar, perde votos…”

O futuro vereador, um empreendedor das galáxias, se orgulhou da sabedoria paterna e se imaginou, depois de vereador, deputado estadual, federal, e quem sabe… Um dia ainda discursaria no Congresso Nacional, nem que fosse uma verborragia de merda, desde que fosse contra as mulheres, contra os direitos dos pretos, dos pobres, dessa turma diferentona! E claro, contra esses vagabundos dos direitos humanos.

Valeria a pena ficar mudo. Seguir à risca o conselho do seu pai, um político tarimbado e vacinado no sistema. O que não faria por um carguinho, sobretudo sem concurso público, apenas fitando o vácuo do silêncio a sua volta?

Além disso, a orientação era de qualidade. Vinha de cima para baixo. Do pai, que o mantinha mudo. Do Partido, que o queria intacto. Ui, ui, ui.

E as referências eram muito boas: camisa amarela, da seleção brasileira, vivas à caserna, loas a Trump, todo esse cardápio fedido e antidemocrático. O gado pirava e votava!

Dizem uns que o grosso dos votos do candidato mudo virá do pobre de direita, da mulher de direita, do negro de direita, desses homens e mulheres do bem, admiradores das bancadas do boi, da bíblia e da bala. Não acredito. Existem muitos inocentes e ignorantes por aí…

De qualquer forma, das raras vezes que o cara tentou balbuciar algum ruído em um comício, se melou todo pela boca e teria terminado o discurso dizendo que bate continência para toda a tropa. Deus, família e liberdade…

O estrupício apenas segue o sonho e negócios da família.  A democracia que se cuide. Sal grosso, benzedura, mais institucionalidade no encalço e muita educação, leitura, bom senso. Todos sabem disso, não é Xandão?

@professorchicoleite

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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