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Paraibano da Capital. Tocador de violão e saxofone, tenta dominar o contrabaixo e mantém, por pura teimosia, longa convivência com a percussão, pandeiro, zabumba e triângulo. Escritor, jornalista e magistrado da área criminal do Tribunal de Justiça da Paraíba.

MANDA QUEM PODE

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publicado em 05/10/2024 ás 07h00
atualizado em 04/10/2024 ás 20h42

O país estava agitado. Por todo o Território Nacional, estudantes secundaristas e universitários aumentavam o tom , pedindo a redemocratização. Greves, passeatas, assembleias, eram frequentes. Todo mundo ansiava pelas Diretas Já , querendo arquivar de vez o tal Colégio Eleitoral. Grandes comícios ocorriam nas principais cidades. Artistas renomados subiam aos palanques e, ombreados pelos políticos  da oposição, davam brilho aos eventos. Corria o risco da “Emenda Dante de Oliveira” passar no Congresso, e restabelecer a Eleição Direta. Os mais afoitos já procuravam o Título de Eleitor, esquecido em alguma gaveta.

Aqui na Paraíba, o comício foi na Lagoa. Na qualidade de estudante universitário, me fiz presente. Fafá de Belém e Paulinho da Viola eram os artistas escalados, apresentaram-se com o talento habitual. Mas, estrelas da festa democrática eram mesmo Tancredo Neves e o Menestrel das Alagoas, Teotônio Vilela. Este, orador mais explosivo, bradava pela democracia. Tancredo, como mineiro que se preza, falava mais manso. Opositores locais também tiveram seu momento. O objetivo de todos era o mesmo. Festa boa,  orgulho patriótico aflorava nos corações jovens.

Sem internet e notícias em tempo real, não se sabia ao certo o que se passava em Brasília. A Capital da República não mandava sinais claros. Comentava-se que parte das Forças Armadas, a chamada Linha Dura, não estava nada satisfeita com os rumos tomados pelos estudantes. O Presidente da República garantiu que haveria a Abertura: “quem não quiser abrir, eu prendo e arrebento”. A questão era: teria ele forças para enfrentar os setores insatisfeitos das tropas? Seu antecessor teve, enfrentou e aposentou uns tantos chefes militares.

A Universidade de Brasília, UNB, não poderia ficar de fora dessa luta. Sofreu bastante nos Anos de Chumbo. Foi invadida 4 vezes, numa delas, cerca de 500 estudantes foram detidos na quadra de basquetebol . Agora, os estudantes não estavam amedrontados. Queriam democracia.

O velho Tenente  dos Fuzileiros Navais não via a hora de encerrar o expediente no quartel. Já queria ir para casa, tirar a farda, tomar um banho e abraçar a amada. Faltavam menos de 15 minutos, quando chegou a ordem, através do seu Capitão: “Embarque o pelotão  e vá , imediatamente, para a UNB . A coisa lá está fora de controle. Controle a situação, detenha os insurretos ,  desocupe a área”.

Fuzileiro é Fuzileiro. Homem da disciplina e hierarquia, treinado em combate armado e desarmado, o velho Tenente não pensa duas vezes. Emite os comandos necessários, e rapidamente embarca o pelotão nas viaturas. Sai velozmente no rumo da UNB.

Chegando ao local, avalia rapidamente a situação, e conclui que pode dominar. Algumas dezenas de estudantes , em manifestação pacífica. Bota a tropa em formação e avança. Escudos, cassetetes e bombas de gás prontos. Os estudantes não recuam.

De repente, o tenente parece reconhecer uma universitária bem moça, quase menina,  branquinha, logo na primeira fila, bandeira das “Diretas Já” em punho, gritando palavras de ordem a plenos pulmões. Os olhares se cruzam. O reconhecimento mútuo é imediato.

“Pai, o que o senhor está fazendo aqui?” .

“Vá embora , o senhor vai me fazer essa vergonha, na frente dos meus amigos? Vou dizer a Mainha , quando chegar em casa”.

Sem outra alternativa, o velho Tenente decidiu bater em honrosa retirada. Recolheu a tropa, embarcou, e voltou ao quartel.

Mal adentrou à caserna, o Comandante cobrou o resultado.

“Missão  cumprida, Comandante, área pacificada”.

“Muito bem , Tenente. Para essa gente, só borracha no lombo, e muita”.

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