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LAURO, artista recifense da nova geração MPB, já é sucesso nas plataformas

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publicado em 05/10/2024 ás 11h23
atualizado em 05/10/2024 ás 13h52

Kubitschek Pinheiro

O ousado artista recifense LAURO, é mais um a se destacar nacionalmente. É do Nordeste que saem os grandes talentos desde quando os baianos João Gilberto, Caetano, Bethânia, Gal e Gil desembarcaram no Rio de Janeiro na década de 60 – ou bem antes, quando o samba das Ciatas chegou primeiro.

Lauro está estourado nas plataformas de streaming com o nono EP que traz três canções – Pernambucana, Aurora e Não Me Chame de Amor. O sucesso vem desde que ele mostrar “RAIOU, com clipe disponível no YouTube uma canção no ritmo do maracatu, no ritmo folclórico do seu estado com uma letra moderna, brincando com comparações e metáforas entre alguém especial e o sol.

O single “Pernambucana” valoriza a cultura do seu Estado personificando-a em forma de mulher. A canção passeia por territórios, personagens, costumes, cenários e culinária do Estado. Embalada por um refrão que faz referência à “Mulher Rendeira”, escrita por Lampião.

“Não Me Chame de Amor” com quase 5 minutos – é a maior prova de amor, mas não chame todo mundo de amor que é clichê.

“Aurora” – “é uma ode à Rua da Aurora, um símbolo icônico de Recife. A música, nascida em Itamaracá durante a pandemia, começou como uma simples melodia para uma criança chamada Aurora e evoluiu para uma celebração da riqueza e cultura da cidade onde LAURO nasceu e vive até hoje.

Quem é LAURO

LAURO é cantor e compositor recifense da Nova MPB. Desde 2021 vem conquistando espaços dentro da nova geração musical.

Encantado pelos ritmos locais como Frevo e Maracatu, também é engajado com tudo que envolve sua região, costumes, folclore e estética. Tem como premissa a valorização da história da terra e dos ritmos brasileiros, respeitando as raízes, brincando com o novo, numa troca constante de identificação com seu público, sempre embaladas pelo seu característico dedilhado no violão.

Em entrevista ao MaisPB, LAURO deu seu recado, continua dando.

MaisPB – Vamos começar por aqui – realmente chamar todo mundo de “amor” não está com nada, virou uma frase banalizada, né?

LAURO – Muito! Entre todos aqueles diagnósticos e percepções que a gente conclui da vida, essa coisa de “Amor ser tão comum”, alugou um pedacinho bem relevante na minha cabeça e me ressurge com frequência desde que comecei a compor. Sempre tento, quando escrevo, alcançar o máximo da sinceridade que consigo passar naquele momento. De letra em letra fui entendendo que o que precisava falar era muito, mas muito, sempre infinitamente maior do que um “Eu te amo” conseguia transmitir.

MaisPB – Ou seja, a palavra amor banalizou?

LAURO – Hoje, falar que ama, se fala pra muita coisa. Tem tempo que procuro no dicionário um sentimento que deixe o amor no chinelo, algo muito mais intenso, que extrapola tudo que a gramática consegue dar significado, que eu e tanta gente sente. Por isso sempre que escrevo uma canção de amor tento fugir ao máximo da palavra, seja relacionando a cultura do meu estado às características de uma mulher, como faço em Pernambucana, seja relacionando ao processo bioquímico de formação de uma pérola, como fiz em Concha, Cálcio e Nácar. Uma vez um conhecido disse que amava as canções de amor que não falavam de amor, levei pra vida.

MaisPB – Nessa canção você vai a todos os lugares e pessoas, todas as raças, e aí entra a Belle de Jour. Mil personagens são homenageadas nessa canção. Como aconteceu a letra, a melodia, o dia, qualquer dia?

LAURO – Durante a pandemia eu estava isolado em Itamaracá e minha companheira em Recife. Durante 8 meses nos vimos duas vezes. A relação ficou morna, distante, sem assunto. Ela me mandava um “Oi, amor, como tá?”, eu respondia e poucos minutos depois vinha outra: ” E aí, amor? Tudo certo? , não era um “amor” sincero, era automático, caiu na rotina. Vi que o negócio tava feio e tentei propor algo diferente. Pedi pra que ao invés de me chamar de amor, chamasse de algo que gostasse muito, qualquer coisa. E depois de muitos “E aí, minha terapia” ou “E aí, minha Pfizer” senti que as coisas tinham se tornado mais divertidas, lembrávamos que tinha alguém do outro lado da tela. Pós relacionamento salvo, senti que era um tema interessante pra uma música, comecei a jogar coisas que eu gostava. “Caetano Veloso, ou Maria Gadu” e a música foi de forma completamente natural, escalonando pra outro caminho que não era o foco inicial, o Brasil. Descobri nesse dia que eu amava muito a cultura brasileira. A composição caminha pra temas cada vez mais específicos, Movimento Armorial, Abaporu, Macunaíma… e finaliza com um samba cantando nomes que fazem a nossa música ser a nossa música. Não me chame de amor é uma das coisas mais especiais que já fiz na vida. Foi uma virada de chave e um processo criativo de autoconhecimento. Como percebi que a letra era carregada de referências, queria que muitos ritmos acompanhassem. Quando me sentei pra produzir com o cantor, compositor, produtor e quase irmão, Flávio Ferrari, alertei que seria um desafio gigante. Ijexá, Baião, Partido Alto, Samba Rock, Samba, sanfona, violão, bateria, agogô, alfaia, zabumba, pandeiro, metais, tudo isso acompanhado pela flauta transversal de Vinícius Marçal e o cavaco inspirado de Rinaldo Júnior tornaram Não me chame de amor um grande compilado cultural brasileiro. Não me chame de amor é uma das coisas mais especiais que já fiz na vida.

MaisPB- Esse é EP é tudo de bom e você já apresentou ao publico – qual foi reação?

LAURO – Fiquei feliz pra caramba, surpreso, e até um pouco aliviado, com a recepção. O EP vem pra iniciar uma nova e longa fase da minha carreira, tudo até então foi um grande período de testes pra descobrir o que mais funcionava entre Lauro e público.

Apesar de, muito verdadeiramente, acreditar no grande potencial de cada uma das 3 composições, lançar um projeto tão vivo, batucado, cheio de ritmos e levadas, seria uma ruptura muito grande ao que construímos em AMETISTA, o EP anterior que explorava muito mais a voz, o baixo e o violão. Mas a recepção por parte de quem me acompanhava e quem passou a acompanhar foi tão natural, tão carinhosa, que entendi como uma validação de que estamos iniciando num caminho muito certo. Muita gente se sentiu representada por essas músicas.

MaisPB – Quem é LAURO?

LAURO – Lauro é um jovem artista recifense de 23 anos que tem o Brasil como matéria prima do seu trabalho. É um cantor que ama cantar o que compõe, e que do voz e violão a um samba, se esforça pra imprimir com a maior sinceridade tudo que sente que precisa falar em suas músicas.

MaisPB – A faixa Pernambucana – é de uma linguagem própria – certamente mais bela desse EP, sua voz veio chegando as batidas das Alfaias. Pode nos contar da construção dessa canção?

LAURO – Pernambucana nasceu em 2021, durante a pandemia. Eu estava de mudança e no meio de caixas e mais caixas, encontrei o primeiro violão que ganhei na vida, um Giannini de nylon todo empoeirado e sem uma corda. Em cada momento livre, parava pra escrever Pernambucana. É a minha única composição explicitamente inspirada em outra música: “Baiana” de Emicida. Que brinca com a ideia de personificar a cultura, o folclore e lugares símbolo de Salvador em uma mulher. Me perguntei por que não traçar a mesma linha de raciocínio com uma Pernambucana. A composição é densa, cheia de dinâmica e referências, culturais, históricas e geográficas, indo de Igarassu a Serra Talhada, do frevo ao Capibaribe. Visando um equilíbrio com a letra, melodicamente é simples, são dois acordes que passeiam durante toda a música numa levada inspirada no, inimitável, violão de Lenine. Foi um prato cheio pra Karol Maciel, que fez festa com a sanfona abençoada dela, me arrepio só de lembrar das gravações. Pernambucana é o mais próximo de um POP que já lancei, além do baixo de Anderson Mike, foi a primeira vez que a bateria deu as caras numa composição autoral, gravada por Ruan Mueller. A ponte que faz referência a Noite dos tambores silenciosos teve alfaias de Arnaldo Abulidu.

MaisPB – E nessa canção estão Lampião a mulher rendeira lá do Zé do Norte e tudo que essa terra há de dar. É muito bonita, quase uma oração e tem as risadas no final – falai ?

LAURO – Umas das melhores partes de construir um projeto mais completo como um EP ou um Álbum é mergulhar no universo que você criou e aprender muito nos estudos. Descobri nesse processo que o xaxado nasce com uma composição de Lampião, Mulé rendeira foi praticamente um hino de guerra dos cangaceiros e o refrão de pernambucana é uma releitura dessa composição mudando o final do trecho de “Tu me ensina a fazê renda que eu te ensino a namorá” pra “Dona de toda beleza que essa terra há de dar”. Essa música tem um quê de oração, de devoção ao território.

MaisPB – Amei Aurora – as ruas, os coqueiros, gente de todos os lugares, reinos e princesas no ar. Aí entra o Galo da Madrugada trazendo Aurora, que vem de outrora. Poderia falar mais dessa obra de arte?

LAURO – Aurora é uma declaração de amor ao Recife. Segue a linha lógica do EP, cheia de referências, mas pra essa, senti que o lirismo, o implícito e a poesia deveriam ter mais espaço, por exemplo quando falo que “Do alto da torre se avistam estrelas, o Paço, o Cais e o Marco acolá”. É uma menção à Torre Malakoff, um dos primeiro observatórios astronômicos do Brasil, que do alto conseguimos ver o Paço do Frevo, o museu que conta a história do ritmo, o Cais do Sertão que conta a história do sertão através da obra de Luiz Gonzaga e o Marco Zero, o ponto mais simbólico de toda a cidade, onde está “A rosa dos ventos que aponta o centro do mundo, o Marco Zero de tudo”. Em Aurora, assim como Pernambucana e Não me chame de amor, nada é em vão, não quis dar margem pra desperdiçar verso, cada linha fala de algo que me encanta na cidade, criando cenários diferentes em cada estrofe.

MaisPB – Venha cantar na Paraíba?

LAURO – A Paraíba é um dos lugares que sonho em cantar o mais rápido possível, vejo muitos pedidos de fãs de João Pessoa e Campina Grande. Logo que os shows começarem a sair de Pernambuco, será um dos primeiros destinos com toda certeza.

MaisPB – E ai a produção contínua, né? Teremos um disco completo em 2025?

LAURO – Estamos construindo meu primeiro álbum, o EP foi uma transição de momentos, é uma entrada de tudo que vem por aí, 2025 será um grande ano, estou muito animado pra soltar logo o que estamos construindo, acho que nunca antes consegui me ver tão claramente em um projeto. Será grandioso!

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