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Ana Karla Lucena  é bacharela em Direito pela Universidade Estadual da Paraíba. Servidora Pública no Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba. Mãe. Mulher. Observadora da vida.

Nosso anjinho de quatro patas

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publicado em 07/10/2024 ás 07h03

Acho que, no mundo, eu sou a pessoa que mais ama conviver com cachorros. Desde bem pequena meus pais faziam questão de tê-los em casa. Não tenho quase nenhuma lembrança da época em que eu tinha 3, 4 anos de idade, essas lembranças nunca ficam, né? Passado distante demais…! Mas lembro-me nitidamente do cachorrinho que tínhamos na nossa casa. Era um Terrier Brasileiro, branco, todo malhadinho de marrom. Depois dele vieram vários outros. Não chego a lembrar do nome de todos, mas um deles foi bem marcante, o nome era Pink (não sei bem o porquê). Acho que ele marcou minha memória porque, apesar de existirem várias pessoas na casa que o alimentavam, limpavam, cuidavam, ele escolheu a mim como “dona”. Onde eu estava, lá estava ele, com seus pelos cor de caramelo, esvoaçantes. Também acho que, da família, eu era a que mais o afagava, com beijinhos e carinhos. Mais um motivo para ter sido a escolhida, rsrsrsrs!

Cresci, estudei, trabalhei, casei, tive filhos… e o tempo foi ficando escasso para ter um bichinho de estimação. Mas, quando os meninos começaram a crescer, fiz questão de que adotássemos um cãozinho. Queria que tivessem a mesma experiência sensorial e emocional que eu tive com esses bichinhos. Veio nosso primeiro Shih-Tzu: Negão, era o nome. Pelo pretinho, brilhante… louco de pedra, rsrsrsrs! Não podia chegar uma visita em casa, ele saltava metros de altura para cumprimentar o convidado com suas lambidas. Era meu companheiro. Amava comer pipoca. Infelizmente, mudar para um apartamento, um espaço menor, não foi bom para ele e tivemos que doá-lo a alguém que pudesse cuidar melhor, dando a ele o espaço amplo que ele precisava. Foi sofrido. Para mim e para os meninos, que, a esta altura, já compartilhavam o mesmo amor que eu pelo bichinho.

Veio o turbilhão da pandemia, o home office, as aulas remotas para os meninos, a agonia de estarmos presos em nossa casa e, finalmente, o turbilhão: a partida da minha mãe, causada pela doença. Estávamos devastados. Era sofrível demais ver o estado em que os meninos ficaram com a partida da avó! Eu, tinha que lidar com meu luto e com o deles. Mas era preciso fazer algo que amenizasse. Foi quando surgiu a ideia de termos outro bichinho, algo que, de certa forma, trouxesse um pouco de alegria para a casa. Pronto, estava decidido. Saí à procura. Um único canil na cidade tinha filhotes prontos para serem adotados. E apenas dois filhotes. Fomos buscá-lo. Mas como escolher entre os dois? Eram idênticos. Filhotes de uma mesma ninhada. Havia esquecido de que não somos nós que os escolhemos, somos escolhidos por eles. E, assim, aquela criaturazinha branquinha, de olhos azuis, parecido com um copo de leite, me escolheu. Se eu ia para a direita, ele me procurava e me seguia, para esquerda, lá estava ele. Não tive dúvidas. Nem eu, nem os garotos. E foi assim que o pequeno Milk entrou em nossas vidas. E tudo mudou. Os meninos agora não choravam como antes. Até sorriam.

Somente quem já teve a experiência de ter um bichinho de estimação, mais especificamente um cão, saberá e entenderá o que falarei nas próximas linhas. Você acha que não é possível, mas seu cão percebe claramente cada sentimento básico que você transmite, mesmo sem querer. Ele absorve parte da personalidade dos moradores da casa. Se estou sozinha em casa, ele fica mais tranquilo, dorme (sempre ao pé de onde eu estiver, óbvio! Rsrsrsrs!), fica mais sossegado. Quando os meninos chegam, começa a festa. E ele assume o papel de criança, como se ao invés de duas, eu tivesse 3 em casa. Se entro no meu quarto e fecho a porta, é insuportável para ele, que logo começa a pedir para entrar também, arranhando suas patinhas. Como se dissesse: não saia de perto de mim, preciso cuidar de você! E ele cuida! Só olhando ou lambendo, como se tivesse querendo passar remédio na ferida.Por duas vezes Milk teve demonstrações extraordinárias de amor e cuidado por mim, e, nessas duas vezes, eu mesmo sozinha em casa, não me senti só. Parecia que ele conversava comigo.

A primeira vez aconteceu no dia da morte do meu pai. Antes do telefone tocar, na madrugada, ele me acordou, me chamando. Algo que nunca acontece. Ele, aparentemente, me mandava acordar, pois algo estava para acontecer. E era um latido diferente, abafado, como que sofrido, choroso. Analisando depois a situação, chego a pensar que ele pode ter visto meu pai vindo se despedir. E quis me acordar para que eu não perdesse a visita. Ele olhava para mim e para a porta do quarto, foi algo realmente surreal! Queria que minha capacidade de narrativa fosse melhor, assim, me faria compreender o suficiente. A segunda vez ocorreu esta semana. Saudade pesando e transbordando pelos olhos. Copiosamente. Quase que incontrolavelmente. Mais uma vez, com seu olhar e seu latido amigo, ele conversava comigo, querendo me consolar. Dormiu ao meu lado na cama e, no dia seguinte, quando acordei de olhos inchados, ele estava sentado, me olhando despertar, como que me perguntando: você está melhor? Agradeci pelo cuidado da noite anterior e dei-lhe um beijinho, dizendo que agora tudo estava bem.

Sabe o que eu acho? Minha mãe chegou lá no céu e foi ter uma conversinha com Deus. Ela tinha muita intimidade com ele. Ele a ouviria com certeza! Ela disse, então: aceito que seu tempo para mim junto aos meus tenha chegado ao fim. Mas peço um último favor: mande um anjo para cuidar deles! O Senhor pensou, pensou e separou um, a dedo. Nosso anjinho de quatro patas. Um amor que não é humano, mas, talvez por isso mesmo, seja até melhor e mais sincero. Incondicional. Presente. Obrigada, mainha! Ele está cuidando de nós, sim! Você, como sempre, pensou em tudo!

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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