João Pessoa, 11 de outubro de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Em crônica anterior ao dia das eleições, atestei minha felicidade porque descobrira que formiguinhas inteligentes não pendiam para a direita.
O problema é que o país é um troço bem complexo e muitas vezes, endoidecido, se orgulha das suas tendências fascistas. Um enxame de formigas recalcitrantes à boa humanidade se bandeou para o lado do atraso, cravou suas hastes bufalinas no centro das profundezas do inferno. Com isso, o país retrocede e assume seu lado machista, homofóbico, violento, careta, racista, negacionista e mantedor da desigualdade social.
Esta semana, bem ao contrário da que se passou, meus neurônios fervilham. Faceiros como crianças, criam sinapses simplesinhas e extravagantes. Foi difícil selecionar um assunto, tamanha a abundância de ofertas.
Em verdade, eu queria falar sobre o resultado das eleições, mas resolvi escrever sobre a felicidade. Não sobre a infelicidade de ter constatado, mais uma vez, que esse país, chantageado pelas bancadas da bala, da bíblia, do boi e das bets, esses coachs da esperteza e do proxenetismo, busca, com orgulho e covardia, o obscurantismo mais tacanho.
Voltemos, no entanto, à felicidade. Sabe se lá de onde a inundação veio. Um vazamento misterioso. Às 5 da manhã, eu já retirara três baldes d’água, enxugara duas vezes o corredor do andar, fechara as torneiras, correra o pensamento em busca de uma solução. E nada.
Às oito horas, após correr atras da netinha e do netinho, que tentavam surfar nas águas desmioladas na cozinha, e depois de discutir com uma empresa de conserto que queria foto do defeito, também resolvi surfar. E nada.
Às quatorze horas, Seu Naldo, um anjo que trabalha no edifício, resolveu o problema. Uma torneira por detrás da geladeira, estupefata com o resultado das eleições, era, por raiva, a responsável por tudo.
Um simples arrocho e pronto. Prometi a ela que cantaria, para o seu sossego, a música de São Francisco: “(…) onde houver ódio, que eu leve o amor…)”
A torneirinha, decerto, uma formiguinha inteligente, caiu em gargalhada e me disse sussurrando: “(…) sem medo de ser feliz…)”
Eu também sorri, cantando.
@professorchicoleite
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VÍDEO - 14/11/2024