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Francisco Leite Duarte é Advogado tributarista, Auditor-fiscal da Receita Federal (aposentado), Professor de Direito Tributário e Administrativo na Universidade Estadual da Paraíba, Mestre em Direito econômico, Doutor em direitos humanos e desenvolvimento e Escritor. Foi Prêmio estadual de educação fiscal ( 2019) e Prêmio Nacional de educação fiscal em 2016 e 2019. Tem várias publicações no Direito Tributário, com destaque para o seu Direito Tributário: Teoria e prática (Revista dos tribunais, já na 4 edição). Na Literatura publicou dois romances “A vovó é louca” e “O Pequeno Davi”. Publicou, igualmente, uma coletânea de contos chamada “Crimes de agosto”, um livro de memórias ( “Os longos olhos da espera”), e dois livros de crônicas: “Nos tempos do capitão” …

“Onde houver ódio, que eu leve o amor…”

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publicado em 11/10/2024 ás 07h00
atualizado em 10/10/2024 ás 17h39

Em crônica anterior ao dia das eleições, atestei minha felicidade porque descobrira que formiguinhas inteligentes não pendiam para a direita.

O problema é que o país é um troço bem complexo e muitas vezes, endoidecido, se orgulha das suas tendências fascistas. Um enxame de formigas recalcitrantes à boa humanidade se bandeou para o lado do atraso, cravou suas hastes bufalinas no centro das profundezas do inferno. Com isso, o país retrocede e assume seu lado machista, homofóbico, violento, careta, racista, negacionista e mantedor da desigualdade social.

Esta semana, bem ao contrário da que se passou, meus neurônios fervilham. Faceiros como crianças, criam sinapses simplesinhas e extravagantes. Foi difícil selecionar um assunto, tamanha a abundância de ofertas.

Em verdade, eu queria falar sobre o resultado das eleições, mas resolvi escrever sobre a felicidade. Não sobre a infelicidade de ter constatado, mais uma vez, que esse país, chantageado pelas bancadas da bala, da bíblia, do boi e das bets, esses coachs da esperteza e do proxenetismo, busca, com orgulho e covardia, o obscurantismo mais tacanho.

Voltemos, no entanto, à felicidade. Sabe se lá de onde a inundação veio. Um vazamento misterioso. Às 5 da manhã, eu já retirara três baldes d’água, enxugara duas vezes o corredor do andar, fechara as torneiras, correra o pensamento em busca de uma solução. E nada.

Às oito horas, após correr atras da netinha e do netinho, que tentavam surfar nas águas desmioladas na cozinha, e depois de discutir com uma empresa de conserto que queria foto do defeito, também resolvi surfar. E nada.

Às quatorze horas, Seu Naldo, um anjo que trabalha no edifício, resolveu o problema. Uma torneira por detrás da geladeira, estupefata com o resultado das eleições, era, por raiva, a responsável por tudo.

Um simples arrocho e pronto. Prometi a ela que cantaria, para o seu sossego, a música de São Francisco: “(…) onde houver ódio, que eu leve o amor…)

A torneirinha, decerto, uma formiguinha inteligente, caiu em gargalhada e me disse sussurrando: “(…) sem medo de ser feliz…)

Eu também sorri, cantando.

@professorchicoleite

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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