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Delia Fischer apresenta “Delia Fischer Beyond Bossa” ao mundo

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publicado em 19/10/2024 ás 12h12

Kubitschek Pinheiro – MaisPB

Fotos – Nando Chagas

Pianista de formação, Delia Fischer lançou “Delia Fischer beyond bossa”, seu sexto solo. É o primeiro trabalho da cantora, compositora, pianista, arranjadora e produtora voltado para o mercado internacional, todo cantado em inglês. O selo é norte-americano Origin Records.

Neste projeto, Delia Fischer – duas vezes indicada ao Grammy Latino e com diversos álbuns lançados – comemora seus 40 anos de carreira e 60 anos de vida dando nova cor à sua trajetória musical expandindo sua música para o mundo, mostrando as diversas formas da música brasileira e boas letras antes só ouvidas em português pelo público estrangeiro.

Este primeiro álbum internacional tem as primeiras gravações de seu repertório autoral – assinadas com parceiros como Camila Costa, Carlos Careqa e Claudio Botelho, por exemplo– em que canta as canções com letras em inglês em versões recriadas pelo compositor, pianista e jornalista americano Allen Morrison e reunindo vários intérpretes brasileiros e internacionais de diferentes gêneros.

O disco está cheio de alegria e ritmos do Brasil numa aventura que vai além da bossa. E traz do groove Marcos Valle e outros sons e duetos.

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Delia Fischer em conversa com o MaisPB – fala da vida, do novo disco, das versões das letras feitas por Allen Morrison e muito mais, muito mais

MaisPB – Já está em todas plataformas esse belo disco autoral – como ele foi construído?

Delia Fischer – Foi sendo construído aos poucos, nasceu com a versão das letras feitas por Allen Morrison e ainda a minha adaptação ao canto em outro idioma. Enquanto isso ia trabalhando, pensava que nesse disco seria importante ter convidados da Europa e USA e eu fui aos poucos pensando e procurando cada um deles. Embora as músicas já tivessem sido gravadas em português eu buscava por outros elementos e novidades nos arranjos e na sonoridade, pois algumas músicas ficaram realmente bem diferentes e ganharam outra vida.

MaisPB – É tão silencioso “Delia Fischer Beyond Bossa”, esse disco que lentamente a gente vai associando-o a algo brasileiro – uma levada da bossa nova, mas tem identidade, é um disco feito para o mundo todo. Estou certo? 

Delia Fischer  – Certíssimo, eu tenho uma característica, a música que componho desde sempre tem cara de Brasil, isso está em mim. Dessa vez, por estar em Inglês, eu queria que isso ficasse ainda mais presente; então caprichamos em percussões, violão da bossa, coisas que o mundo identifica imediatamente com o Brasil do Tom Jobim, mas por outro lado o disco tem um roteiro que é a cara desse Brasil, vai se transformando em algo cada vez mais contemporâneo. Por isso o Beyond (além da Bossa), quero falar que o Brasil é lindo e potente desde os tempos da criação da Bossa Nova, mas que no nosso canibalismo antropofágico tem tudo o mais que ouvimos e que ainda assim é Brasil. A última faixa do álbum “My Voice in your Head” leva o Brasil em sons mais eletrônicos e contemporâneos, enquanto a música “Garra” que virou “Workaholic” também foi rearranjada e o teor da letra em inglês não poderia estar mais contemporâneo. 

MaisPB  – As canções lindas todas em inglês em versões recriadas pelo compositor, pianista e jornalista americano Allen Morrison. Vamos falar dessa parceria tão valiosa para seu disco?

Delia Fischer   – Sem o Allen esse álbum não existiria. A ideia de versionar as músicas partiu do André Oliveira, meu empresário, e tudo começou em 2020. Ele estava sempre atento a alguma oportunidade, pois enxergava que a minha música seria bem recebida em outros continentes. Versionar uma música é um trabalho muito exigente, implica que o versionista saiba, além de expressar um sentido poético, ainda precisa levar para uma outra cultura, onde certos sentidos mudam completamente e não é algo somente para quem domina a escrita, mas, antes de tudo, para quem compõe e entende muito de música. O letrista precisa imaginar as palavras com o sentido, mas também com a sonoridade da música. Então ele mergulhou inicialmente nas traduções exatas e foi lapidando até chegar nesse ponto. Foi um processo muito profundo e intenso.

MaisPB- Puxa vida! São 40 anos de música – que celebração, hein?

Delia Fischer   – Sim me sinto uma vencedora por viver, amar a música e conseguir sempre viver com e para ela (a música). A minha emoção e amor continuam intactos pelo caminho que escolhi e que fui escolhida também. Acho que para se viver de arte a gente precisa se reinventar todos os dias, continuar aprendendo e se desafiando. Então, sim, posso dizer que quero comemorar muito esse momento e continuar criando e cada vez mais ativa.

MaisPB – O piano sozinho faria o seu disco ressaltar, mas os outros instrumentos casam-se com tudo, né?

Delia Fischer   – Sim, eu gosto da surpresa que os arranjos trazem, apesar de ser diretora musical e arranjadora e ter feito inúmeros trabalhos nessa função. Convidei o Levi Chaves para escrever os arranjos de sopros de “My Time” e “Lemon Jugglers of Rio”. Pedro Guedes fez os sopros de “Workaholic”, o Eugene Friesen fez o arranjo da orquestra de cordas de “What Good is Summer?”. Eu escrevi as cordas de “My Voice in your Head” e  “Song of Self Affirmation”. No álbum “Hoje” feito em 2020/2021 fiz tudo com os recursos “de casa” (piano, voz e contrabaixo do meu marido Matias Correa, que também assina a produção desse álbum) foi um disco muito potente e me surpreendeu ele ter sido a minha segunda indicação no Grammy Latino, aprendi que um piano e voz também pode comunicar de forma muito intensa.

MaisPB  – Seis das 12 canções e que você recebe convidados com o destaque para a cantora de jazz estadunidense Gretchen Parlato em “My Time”. Vamos falar desse momento? 

Delia Fischer  – Quando a conheci, imaginei imediatamente ela cantando essa canção, que não tem nada de simples. “My Time” tem uma melodia aparentemente fácil, mas o tempo e os compassos mudam intensamente. Sei que não é uma canção apenas para uma bela voz, mas alguém que entenda muito mais da música. Ela me pediu a partitura, estudou e brilhou nas divisões da canção, fazendo tudo parecer muito mais simples e orgânico. 

MaisPB – Outra cantora convidada brasileira Luciana Souza  na “Almost Paradise” e ela canta em português, é outra beleza de seu disco, um diferencial, né?

Delia Fischer  – Luciana é uma referência de artista internacional. Uma cantora brilhante, que leva o nome do Brasil para todo o planeta. Quando a convidei ela gostou da música e falamos sobre o novo arranjo; então, gravei um piano com baixo e uma bateria bem minimalista – eu, Matias Correa e Marcelo Costa. Acabou tendo um tempero Bossa Novista em ‘Almost Paradise” e cantamos em inglês, ela sugeriu que na repetição voltássemos para nossa língua mãe. Fiquei feliz com essa ideia, pois assim contemplamos a versão linda do Allen e ainda mostramos a letra original que eu fiz. 

MaisPB  – Marcos Valle é sensacional e na faixa “Workaholic”, a música é cara dele, né?

Delia Fischer  -“Workaholic” é a única música do álbum que não foi feita por mim. É a versão em Inglês de “Garra”, dele e Paulo Sergio Valle. Queria muito ter o Marcos Valle comigo, porque ele é uma enorme referência para mim como artista, compositor e pessoa. Marcos é virginiano como eu, carioca, pianista e sempre ligado nas novidades, um artista que se renova sempre. Enfim, um compositor que tenho imensa admiração.

MaisPB – Ainda temos o guitarrista Chico Pinheiro e o instrumentista carioca Pretinho da Serrinha na faixa “The Acupuncture Song”, vamos falar dessa canção dos rapazes aí com você?

Delia Fischer   – Essa música nasce de uma brincadeira, é uma faixa cheia de humor, uma estória de um “bolo” de um acupunturista que me deixa na mão. A dor nas costas sem ser levada a sério. Queria mostrar muito mais a alegria que a dor. Chico e Pretinho trouxeram esse sabor e ainda o Rodrigo Campello, que trouxe o violão de 7 cordas tornando a parte B da música um verdadeiro choro canção e a parte A com elementos de sambalanço, faixa produzida brilhantemente por Rodrigo Campello e Rodrigo Tavares.

MaisPB – Gostei muito da participação do grupo vocal New York Voices na “Lemon Jugglers of Rio” – e aqui também a gente tem uns versos em português?

Delia Fischer  – Sim, o Darmon, diretor e arranjador do grupo, fez um arranjo brilhante para essa música que em português de chama “Corações Amarelos”. O New York Voices é um grupo que conhece a música brasileira e já gravou Tom Jobim, Ivan Lins e tantas coisas lindas. Achamos também que seria muito legal cantarmos juntos em português no refrão, eles arrasaram!

MaisPB  – Tanta gente nesse disco:  o cantor Matias Correa na “Song of Self Affirmation”, o cantor e parceiro Marcio Nucci e o violoncelista americano Eugene Friesen na “What Good is Summer”, e o cantor de soul italiano Mario Biondi na faixa “Marketplace”. Conta aí pra gente dessa gente toda que brilha no seu disco?

Delia Fischer   – O Matias Correa é um cantor maravilhoso e também produziu e mixou 2 faixas. Marcio Nucci tem sido meu grande parceiro de bossas, temos ainda algumas inéditas, adoro fazer as letras para ele. Eugene é um supervioloncelista e arranjador que tive a sorte de ter no meu álbum. Mario Biondi é um timbre de voz muito particular, ele é incrível. Um cantor de timbre único que ama a música do Brasil, certamente isso nos aproximou e eu fico muito feliz e honrada com a gravação e também o clipe de marketplace dirigido por Nando Chagas ficou tudo lindo. 

MaisPB – Você já foi indicada duas vezes ao Grammy Latino e com diversos álbum lançados – conta gente um pouco desses outros álbuns?

Delia Fischer  – Se contar com os dois primeiros discos que fiz com o Duo Fênix, eu tenho, com o “Beyond Bossa” agora, nove álbuns. A minha primeira indicação ao Grammy latino foi com o “Tempo Mínimo”, o álbum que inspirou esse Beyond Bossa, foi dele que pegamos a maioria das canções e regravamos. Minha segunda indicação é do álbum “Hoje”, meu primeiro disco de intérprete, onde gravei Ivan Lins, Guilherme Arantes, Taiguara, Beto Guedes, Beatles, Bjork, Flávio Venturini e somente duas músicas da minha lavra. Esse disco tem a participação especial de Ney Matogrosso e foi uma experiência maravilhosa gravar com ele.

MaisPB – Esse disco é primeiro internacional de muitos outros, né?

Delia Fischer   – Acho que, de agora em diante, vou sempre incluir outras parcerias que tenho com o Allen, mesmo que seja um disco todo em português, pois entendi o quanto é legal que outras pessoas, em outros países, tenham acesso à nossa poesia especialmente por ter encontrado um parceiro brilhante com o Allen Morrison.

MaisPB – Me diz aí quem é Delia Fischer? 

Delia Fischer   – Alguém que ama a vida. Eu entendo a música como minha missão, tenho por ela devoção e amor eterno. Por isso busco estudar e me aprimorar sempre, e pretendo me manter assim até o final. Amo os encontros que a música proporciona, amo o poder que o som tem sobre todo o nosso sistema. E sei que ainda tenho muito por fazer, descobrir e viver. Como diz a música do Guilherme Arantes: ‘o melhor vai começar”.

MaisPB – Disco, muito bonito – eu posso dizer que a canção mais bonita é Every Copesul Corner, a oitava faixa?

Delia Fischer   – Feliz de você curtir essa. Acho que ela é muito mais apreciada por gente “da música”, tem o compasso em 5, eu a amo, bom eu sou suspeita, né?, disse ela rindo.

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