João Pessoa, 20 de outubro de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Conta minha tia, que na cidadezinha em que ela nasceu, havia um senhor que tinha um cavalo preto e morava sozinho lado do cemitério. Um panorama bucólico dominava o bairro, mas a área do cemitério não era bem-vista nem bem quista naqueles tempos. A presença desse animal robusto pastando em plena rua era uma constante e poucos carros trafegavam diariamente, onde a gente escutava o mastigar do cavalo e o barulho de longe das rodas dos automóveis nas tardes ociosas da primavera. À noite, os jovens ficavam sentados nas calçadas e ouviam os mais idosos contarem os folclores das fazendas, os causos mais aterrorizantes da região, inclusive o do senhorzinho que morava ao lado do cemitério. Minha tia dizia que os mais antigos palestravam muito sobre esse senhor e garantiam que sua esposa rezava ofícios e novenas na igreja; tinha uma vida próspera naquela rotina e até o seu marido contava piadas e ajudava a passar os minutos, pois o movimento era pequeno e as horas eram ociosas, enfim, a cidade parecia até que vivia parada no tempo, até porque o desenvolvimento ainda não havia chegado e o casario de cores diversas e arquitetura simples ratificava que ainda se vivia numa vila. Mas enquanto isso a fofoca rolava solta e os mais conservadores contam que a mulher de Seu Malvino morreu no parto e levou seu filho junto, desde então ele se mudara para o lado do cemitério pra esperar o fim dos seus dias ao lado deles dois. Contam as más línguas do povoado que ela chegou em casa com o filho morto e ele em razão de um surto psicótico, ele a estrangulou. Mas isso faz parte de parte das lendas daquela cidade pequena. Uma vez minha tia falou que foi até a casa dele oferecer queijo de cabra pra ele, tomou coragem e bateu na porta. Seu Malvino chegou todo bem-vestido e perfumado e foi logo convidando minha tia para entrar.
Daí estou com preguiça de contar tudo o que aconteceu nesse encontro, porque devo encontrar meu primo, daqui a pouco, filho dessa tia, que está vindo morar aqui comigo, pois passou em Medicina na capital em universidade pública. Malvino Jr. sempre foi o mais estudioso da família.
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OPINIÃO - 22/11/2024