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É formado em Direito pela UFPB e exerce funções dedicadas à Cultura desde o ano de 1999. Trabalhou com teatro e produção nas diversas áreas da Cultura, tendo realizado trabalhos importantes com nomes bastante conhecidos, tais como, Dercy Golcalves, Maria Bethania, Bibi Ferreira, Gal Costa, Elisa Lucinda, Nelson Sargento, Beth Carvalho, Beth Goulart, Alcione, Maria Gadu, Marina Lima, Angela Maria, Michel Bercovitch, Domingos de Oliveira e Dzi Croquettes. Dedica-se ao projeto “100 Crônicas” tendo publicado 100 Crônicas de Pandemia, em 2020, e lancará em breve seu mais recente título: 100 Crônicas da Segunda Onda.

Lendas do interior

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publicado em 20/10/2024 ás 08h28

Conta minha tia, que na cidadezinha em que ela nasceu, havia um senhor que tinha um cavalo preto e morava sozinho lado do cemitério. Um panorama bucólico dominava o bairro, mas a área do cemitério não era bem-vista nem bem quista naqueles tempos. A presença desse animal robusto pastando em plena rua era uma constante e poucos carros trafegavam diariamente, onde a gente escutava o mastigar do cavalo e o barulho de longe das rodas dos automóveis nas tardes ociosas da primavera. À noite, os jovens ficavam sentados nas calçadas e ouviam os mais idosos contarem os folclores das fazendas, os causos mais aterrorizantes da região, inclusive o do senhorzinho que morava ao lado do cemitério. Minha tia dizia que os mais antigos palestravam muito sobre esse senhor e garantiam que sua esposa rezava ofícios e novenas na igreja; tinha uma vida próspera naquela rotina e até o seu marido contava piadas e ajudava a passar os minutos, pois o movimento era pequeno e as horas eram ociosas, enfim, a cidade parecia até que vivia parada no tempo, até porque o desenvolvimento ainda não havia chegado e o casario de cores diversas e arquitetura simples ratificava que ainda se vivia numa vila. Mas enquanto isso a fofoca rolava solta e os mais conservadores contam que a mulher de Seu Malvino morreu no parto e levou seu filho junto, desde então ele se mudara para o lado do cemitério pra esperar o fim dos seus dias ao lado deles dois. Contam as más línguas do povoado que ela chegou em casa com o filho morto e ele em razão de um surto psicótico, ele a estrangulou. Mas isso faz parte de parte das lendas daquela cidade pequena. Uma vez minha tia falou que foi até a casa dele oferecer queijo de cabra pra ele, tomou coragem e bateu na porta. Seu Malvino chegou todo bem-vestido e perfumado e foi logo convidando minha tia para entrar.

Daí estou com preguiça de contar tudo o que aconteceu nesse encontro, porque devo encontrar meu primo, daqui a pouco, filho dessa tia, que está vindo morar aqui comigo, pois passou em Medicina na capital em universidade pública. Malvino Jr. sempre foi o mais estudioso da família. 

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