Depois das palavras do professor Milton Marques Júnior sobre o livro Antes de Atravessar, de José Nêumanne Pinto, apontando os caminhos para o percurso da leitura dessa obra, retornei à poesia do poeta de Uiraúna com a mente fresca para mergulhar nos segredos do magnetismo dos poemas.
Os críticos de arte e estudiosos da literatura me ajudam a adentrar nos mares nem sempre navegáveis dos livros, até porque sou leitor revelado no cabo da enxada e no corte da cana, sem nunca ter sentado nos tamboretes universitários.
Porque estão mais próximos de mim, entre os paraibanos que se dedicam ao estudo das letras, fico com Milton Marques Júnior, Hildeberto Barbosa Filho, Ângela Bezerra de Castro e José Mário da Silva. Destes sempre retiro roteiros para atravessar obras literárias.
Retornei ao livro de poemas de Nêumanne seguindo as veredas abertas pelo professor Milton Marques. Durante a leitura do artigo que este publicou no Ambiente de Leitura Carlos Romero, na manhã de sábado, sentindo a brisa fresca de Arara, agarrei a inseparável caderneta para anotar as indicações do professor, para melhor compreender o texto. Pelas mãos dele, entrei na barca para a nova travessia pelo mar dos poemas do livro Antes de Atravessar.
Confesso, mais uma vez, que é usando o olhar dos estudiosos das letras que seleciono as minhas leituras. Lembro os conselhos dos meus orientadores Nathanael Alves e Gonzaga Rodrigues, para quem a leitura deve ser feita pacientemente, desvendando o sentido escondido das palavras nas ondas que, mansamente, molham nossos pés ou refrescam a imaginação.
Depois do pouso na passagem inspiradora e cheia de encantos de Arara, que atraiu padre Ibiapina e inspirou os poetas Josué da Cruz e Nathanael Alves, retornei ao livro em apreço cuja primeira leitura realizei em janeiro deste ano.
A partir das indicações de Milton, abrangentes e esclarecedoras, voltei ao livro de Nêumanne para colher minhas impressões de leitor.
Com o livro nas mãos, novamente busquei o silêncio das palavras, degustando o suco que refresca a dor da paixão seguindo a viagem do poeta na travessia aos seios da terra amada.
Os poemas do livro nos remetem a um estado lenitivo construído de emoções e recordações da musa que cada um de nós carrega consigo. Todos transportamos uma musa no coração.
O rio da vida é largo. Nêumanne nos leva a percorrer a travessia imaginária em busca da outra margem, voando nos mistérios da poesia.
O Cânticos dos cânticos, atribuído a Salomão, é uma travessia que nos envolve desde o primeiro verso. Na preparação para iniciá-la, o poeta José Nêumanne compôs seu cântico dos cânticos. Ele produziu o cântico à mulher amada, cheia de dengos, sempre em estado de felicidade. Escreveu um poema para a esposa Isabel e para o filho Arthur, que “ensinam todo o dia a amar, única condição para ser feliz”.
O leitor é conduzido pelas paisagens humanas e pelas terras do sertão, sempre agarrado às lembranças da infância e da juventude que alimentam o adulto e o idoso.
As histórias bíblicas que falam da reprodução humana na idade avançada se repetem, com Deus mostrando o seu poder e como se deu com Isabel e Zacarias. Nêumanne Pinto exalta essa fase da sua vida, a da travessia do entardecer, quando se tornou pai.
A vida é revelada na poesia, porque tudo é poesia, dependendo do modo como se olha para as coisas. Assim ele se expressou:
“A poesia sempre tem
mistérios a revelar,
sonhos a provocar
e amor a partilhar”.
* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB