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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Joana e  outras

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publicado em 27/10/2024 ás 07h51

Sou alguém que não carrega seus mortos. Carregar os vivos, já é tarefa difícil, mas tem muita gente que carrega os mortos, ainda que os vivos, estejam mais mortos do que os mortos. São nossos os mortos?

Um ex-pinista local não tira o nome do pai da boca. Santo Agostinho disse que devemos conversar com os mortos como se eles tivessem vivos. Tantas vezes tão distantes noutros pontos cardeais ou eles nunca vão saber que são carregados pelos familiares.

O jornalista Petronio Souto, diz que não se deve carregar os mortos – que eles não gostam. Mas como ele sabe? “Triplicam postagens/homenagens ou textos longos, que é uma mania do povo brasileiro”. Ledo engano, é geral, meu caro Petruz, os que carregam sabem que os carregam e isso vem de longe que é lugar que não existe.

O mundo não esquece de Joana de Castela, conhecida como Joana, a louca, que era filha de Fernando de Aragão e Isabel de Castela, monarcas católicos, que se casou aos 16 anos com Felipe I e quando o marido morreu, Joana não foi com as outras.

Joana fez questão de viajar até Granada, na Espanha ao lado do falecido. No caminho do destino – que ficava a 600 quilômetros de Burgos – a soberana abriu o caixão do rei consorte de Castela para abraçá-lo e beijá-lo intensamente, já que não conseguia imaginar a vida sem ele.

Além disso, devido ao seu ciúme doentio, ela impedia que qualquer mulher chegasse próximo ao cadáver. Aqui na província, uma viúva inteligente, não deixou que levassem o cadáver de seu marido para a API – bateu o pé e disse: “o cadáver é meu”

Segundo Jacques Benigne Bossuet (1627-1704) “nos funerais, só se ouvem palavras de surpresa por aquele morto estar morto”.

No sertão, acredito que ainda hoje o fazem, quando uma pessoa morria, os familiares em romaria se agarravam ao cadáver, esculhambavam com Deus por ter levado o falecido (a) e iam até o cemitério em cenas delirantes. Quando passavam em frente a nossa casa, minha mãe que não era besta, pedia para abrir o caixão, e mandava lembranças para seus mortos.

O colunista sideral nunca deixou de carregar seu pai, é uma adoração infinita. Ele está certo, antes do sepultamento do hipocondríaco, pediram um minuto de selênio. Foi lindo.

O pior não é carregar os mortos, mas recarregá-los no celular, disse o filosofo Felizarô. Em mesas de festas as pessoas além de falar muito da vida alheia, dos que estão nas últimas, tiram o coro de quem está usando roupas alugadas, bolsas fack news e muito mais, são os mortos-vivos interpretando si mesmos

Bom, nunca mais tinha saído de casa – fui a uma noite portuguesa com casal carregava na lábia – só mudaram de assunto na que hora os pratos chegaram. Claro, pelo menos sabem que é feio falar de boca cheia.

Carregar uma pessoa morta é um peso, além dos arroubos e lamentações. Ou nem isso. E não está mais aqui quem falou. Ah! Quem morreu de quê?

Kepetadas

1 – Quase tudo se espatifa, menos os patifes.

2- Os impontuais sempre põem a culpa no relógio. É o seu mecanismo de defesa

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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