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“O Doomsday Clock” é o relógio criado em 1947 por um grupo de cientistas que trabalharam no Projeto Manhattan, que produziu as bombas atômicas para os Estados Unidos na II Guerra Mundial, através do “Boletim dos Cientistas Atômicos” da Universidade de Chicago, estando em funcionamento há 76 anos.
Diferentemente do primeiro relógio mecânico, criado em 725 d.C. pelo monge budista chinês chamado “Yi Ching”, que serve para contabilizar o tempo — hora, minuto e segundo — e medir o encaixe de nossa vida primária, garantindo que não percamos os compromissos e sejamos pontuais.
O relógio normal, de acordo com a horologia, pode ser mecânico, elétrico, quartz e atômico, de bolso, de pulso, despertadores, até os mais atuais smartwatches. Entretanto, aquele relógio é mais agressivo com o tempo.
Foi criado para alertar a humanidade sobre quão perto se poderia estar da destruição através do uso de tecnologias desenvolvidas pelo homem. Na verdade, o referido projeto trata-se de uma metáfora para lembrar dos perigos que devemos enfrentar se quisermos salvar o planeta.
Quando o relógio do fim do mundo foi criado, originalmente, as ameaças advinham da corrida armamentista nuclear, capitaneada pelos Estados Unidos e a antiga URSS. Desde sua criação em 1947, a movimentação dos ponteiros do relógio era de acordo com os acontecimentos da corrida armamentista, tendo variado entre 17 minutos e 2 minutos para a meia-noite.
Porém, após a queda do Muro de Berlim, amornada a Guerra Fria, o relógio foi atrasado, embora tenha caminhado alguns minutos para a meia-noite desde 1953, quando chegou a 2 minutos. O ponto mais crítico foi os testes da bomba de hidrogênio pelos EUA no Pacífico, bem mais potente que a nuclear, e nove meses depois, os soviéticos testaram sua própria bomba H.
A partir de 2020, o relógio encostou em 100 segundos para a meia-noite, em face de dois perigos existenciais simultâneos: a guerra nuclear e as alterações climáticas, que são agravadas por um multiplicador de ameaças, como a guerra da informação cibernética, que prejudica a capacidade de resposta da sociedade.
E o ponteiro não voltou mais atrás. Em 2023, o relógio chegou o mais perto possível, com somente 90 segundos para a meia-noite, com a guerra na Ucrânia. Em 2024, continua marcando os mesmos 90 segundos, com mais movimentações, agora no Oriente Médio, em que o mundo continua dividido em dois eixos, onde o eixo do mal de 1939 a 1945, hoje está do mesmo lado, mas Rússia e EUA continuam em lados bem demarcados.
Quando será esse momento final, só Deus sabe, mas o Apocalipse fala textualmente sobre esse fim. Mas, de certo, a guerra nuclear talvez não seja a melhor opção na quarta fase da Revolução Industrial, em que a informação é a bola da vez.
Para quem assistiu “O Mundo Depois de Nós”, talvez seja uma pista, em que as movimentações desta vez poderiam ser no espaço, orbitadas por milhares de satélites artificiais, dos quais dependemos para telecomunicações, navegação, meteorologia, monitoramento ambiental, astronomia, biologia e medicina, defesa e exploração espacial. Sem eles, a vida contemporânea seguiria a passos lentos.
Sem contar na inteligência artificial… Seus dilemas éticos, além de riscos para a humanidade.
Mas, enquanto o mundo não acaba, vamos seguindo nossa vidinha do jeito que ela dá, sem guerras e trazendo paz e amor para dentro de nossas vidas, sempre de olho na hora do nosso relógio não atômico, para não perdermos nossos compromissos!
ADRIANA BARRETO LOSSIO DE SOUZA
Graduada em Direito pela UFRN.
Juíza de Direito da 9ª Vara Cível de João Pessoa.
Especialista em Gestão Jurisdicional de Meio e Fins e Direito Digital.
Viajante desmedida. Amante da poesia e das artes. Cidadã do mundo.
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OPINIÃO - 22/11/2024