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Francisco Leite Duarte é Advogado tributarista, Auditor-fiscal da Receita Federal (aposentado), Professor de Direito Tributário e Administrativo na Universidade Estadual da Paraíba, Mestre em Direito econômico, Doutor em direitos humanos e desenvolvimento e Escritor. Foi Prêmio estadual de educação fiscal ( 2019) e Prêmio Nacional de educação fiscal em 2016 e 2019. Tem várias publicações no Direito Tributário, com destaque para o seu Direito Tributário: Teoria e prática (Revista dos tribunais, já na 4 edição). Na Literatura publicou dois romances “A vovó é louca” e “O Pequeno Davi”. Publicou, igualmente, uma coletânea de contos chamada “Crimes de agosto”, um livro de memórias ( “Os longos olhos da espera”), e dois livros de crônicas: “Nos tempos do capitão” …

Quando as formigas querem se perder, criam asas

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publicado em 08/11/2024 ás 07h50

Sim, isto mesmo. “Quando querem se perder, formigas criam asas”. Embora a expressão comporte uma variedade de interpretações, sei muito bem o sentido tal qual era usado por minha mãe. Mal comparando, eu diria: “Quando querem ser abatidas, as galinhas põem a raposa como chefe do galinheiro”.

As galinhas, sejam as americanas, sejam as brasileiras, ainda que se digam do bem, do lar e protetoras dos bons costumes, continuam como galinhas de topete em pé, pensando ser exímias aves voadoras. Vejam isso.

Ao adentrar à sala, no primeiro dia do semestre letivo, onde ministraria aula de Direito tributário, um aluno, já me esperando, disse em tom jocoso e desafiador:

Todo imposto é roubo!

A baba correu pelo canto da boca. Disse que um dia a liberdade mandaria no mundo. Ele seria, enfim, feliz.

Eu não tenho a menor dúvida de que na história das nações, muitas exações tributárias assumiram essa concepção, muito embora, desde que o Estado fiscal se engendrou nas dobras de um Estado democrático de direito, o tributo, porque sustentador do desiderato estatal, das suas políticas, dos direitos e das garantias individuais, assuma um dever fundamental, como proclama o lusitano José Casalta Nabais.

Ainda desconcertado, fitei o aluno e indaguei:

Você estuda nesta Universidade, não é?

Sim, professor, estudo aqui.

Ela é pública ou é privada, perguntei?

É pública, professor. Todo mundo sabe isso.

Ela é financiada com o dinheiro dos impostos, sabia?

Certamente, não é professor?

Pelo teor da sua afirmação, não deveria estudar em uma faculdade particular?

O aluno torceu os quartos, remexeu a boca, levantou os dois braços:

– Imposto é roubo e pronto.

Vá lá se entender a humanidade. Coisa de lavagem cerebral, um poderoso veneno que tira o pensamento crítico e bota muita merda no lugar. Sim, isto é boa hipótese, mas não explica tudo. Diria que essas galinhas acreditam que um dia se tornarão raposas, ainda que de asas.

Minha amiga Ane Augusta tem razão: É crise civilizatória.

@professorchicoleite

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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