Homenagem diz da honraria que a pessoa recebe por ter realizado algo que mereceu o reconhecimento de quem concede a medalha, o diploma, o título ou outro tipo de atributo, o nome de uma rua ou o nome de uma edificação, ou de uma obra D’art. A expressão obra D’arte é especialmente aplicada nas vias de comunicação, “sempre que adquirem uma dimensão e originalidade apreciável” (Wikipédia).

Aproveito este espaço para escrever um pouco sobre o engenheiro Serafim Rodriguez Martinez reavivando a memória de sua vida como pessoa e profissional e justificar para aqueles que não o conheceram e para a posteridade por que homenageá-lo com uma obra D’art tão valorosa como o Viaduto que leva o seu nome!

Antes de adentrar efetivamente em seus feitos como profissional e docente vou trazer fatos que demonstram sua personalidade e evidenciam seu caráter. De um total de sete era o filho mais velho dos imigrantes espanhóis – Carmem Martinez e Gumercindo Rodriguez e Rodriguez. Família muito simples, sustentada pela renda de uma padaria do meu avô, Serafim sabia fazer pão e colaborava em tomar os pedidos e distribui-los na vizinhança. Várias vezes nos contava uma história que, dependendo da ocasião, repetia, de modo que a sabíamos decorada. Conta que ia tomar os pedidos e depois distribuía os pães. Estudante da Escola de Engenharia da Bahia, na época era status, pois poucos filhos de espanhóis tinham essa oportunidade. Os clientes às vezes censuravam seu Gumercindo porque fazia com que Serafim tivesse essa obrigação. Ele foi dizer ao meu avô, que as pessoas estavam censurando porque ele, como estudante de engenharia, fazendo isto? Ele respondeu: Pergunte se algum deles quer ocupar o seu lugar? Nenhum. Portanto, diga para eles que é daqui que tiro o sustento para minha família e se você chegou até aqui é resultado do que colhemos. Isto não envergonha ninguém e só dignifica.  Exemplifiquei este fato para demonstrar a vivencia de meu pai em família e as lições que levou até a idade adulta e profissional. O caráter e princípios se moldam no ambiente familiar quando incorporamos os valores que acreditamos serem nossa verdade. E foi nesse ambiente caseiro que Serafim construiu seu caráter e sua forma de ser probo, honesto, correto e comprometido com tudo que realizava de forma contundente. Às vezes chegava a ser impertinente nas providências a serem tomadas. Outro fato que nos marcou foi por ocasião em que o Reitor da época deu a ele uma portaria com a nomeação de minha irmã Maria Célia e ele devolveu o ato não aceitando, não admitindo. Minha irmã estava desempregada. Outro caso aconteceu com meu irmão Antônio Gumercindo Falcão Rodriguez, quando prestou vestibular para engenharia Civil na UFPB.  Passou, mas não foi classificado dentro das vagas oferecidas. Ficou “excedente”, como era considerado pelo CONSEPE e podia ser distribuído para outras Universidades. Serafim fazia ´parte do Conselho e foi contra o aproveitamento dos excedentes. Não consentiu que meu irmão fosse para o Amazonas.   Desestimulou meu irmão que no outro ano fez vestibular para Economia. Assim era a personalidade de retidão do patriarca. Procurei trazer aqui fatos dentro da vivência familiar que bem demonstram a personalidade rígida paterna. Quis contar como ilustração, os traços predominantes de seu caráter e que foram também levados para sua vida profissional e acadêmica. Esses episódios narrados nunca foram escritos nem na sua biografia elaborada por Itapuan Bôtto Targino no livro “ A Lição de Serafim Martinez”, onde se encontra detalhada toda sua vida à disposição dos que queiram conhece-lo mais a fundo.

Vou tentar justificar o porquê dessa homenagem, descortinando uma síntese de sua vida e quanto se dedicou ao Estado da Paraíba, sua terra de coração, que amou de paixão. Chegou à Paraíba em plena segunda guerra mundial, em 1942, recém-formado. Optou pela Paraíba, pois teve chance para escolher ou Acre ou Rondônia. Ao aqui chegar, assumiu cargo auxiliar na Diretoria de Viação e Obras Públicas, nomeado por Rui Carneiro em 20 de janeiro de 1942. Nesse órgão ocupou todos os cargos que um engenheiro poderia ocupar, chegando a ser diretor em 1943. Foi diretor dos Serviços Elétricos da Capital (1944). Administrador do Porto de Cabedelo (1945), Fundador e Diretor do Departamento de Estradas e de Rodagem da Paraíba (1946), Diretor do departamento de Saneamento do Estado, (1951); exerceu o cargo de Fiscal de Abastecimento d’Água em todo Estado até o ano de 1957. Assumiu inúmeros cargos de representação com participação em comissões, congressos, seminários e outros. Foi Sócio Fundador da Associação Rodoviária do Brasil e do Clube de Engenharia da Paraíba.

Publicou dentro de sua área de conhecimento vários trabalhos técnico- científicos merecendo destaque o primeiro Plano Rodoviário do Estado da Paraíba, Plano Diretor de ampliação do porto de Cabedelo e do Campus I Universitário da UFPB, participando de sua construção e implantação.

Recebeu várias condecorações e medalhas sendo as de maior relevância: Medalha do Mérito Educativo, outorgada pelo Conselho Universitário da UFPB, nos termos da Resolução nº 8/71; Medalha de Prata, em reconhecimento pelo exercício digno e ético da profissão (quarenta anos como engenheiro civil).  Recebeu os títulos de Cidadão Paraibano (28/12/1976) e Cidadão Pessoense (7/08/1975).

Na área da academia Serafim participou da fundação da Escola de Engenharia, criada pelo Decreto Federal nº 39.221 de 28/05/1956, e da fundação da Universidade Federal da Paraíba juntamente com outros companheiros e o suporte político do Governador José Américo de Almeida e do Deputado Abelardo Jurema, então líder do governo do Presidente da República, Juscelino Kubitschek, consolidando a federalização da UFPB – Lei nº 3855, de 13/12/1960.

Dito isto, numa breve história de Serafim que envolve a sua vida, vou dizer como foi para mim impactante ver a “ponte Serafim Rodriguez Martinez”, obra D’art, que é chamada também da “Ponte das Três Ruas”, que interliga o Campus Universitário I  da Universidade Federal da Paraíba, em João Pessoa, ao bairro dos Bancários, na confluência da rua Tabelião   Stanislaw  Eloy e Rua Bancário Waldemar de Mesquita Accioly. Tem 80 metros de comprimento, 15 metros de altura, 25 de largura, duas rotatórias em cada extremidade. Esta obra facilitará a mobilidade urbana de quem se desloca para a zona sul ou de quem segue para o Centro da cidade, com investimento superior a 15, 4 milhões. Sua construção visa evitar o engarrafamento diário de quem se dirigia para o trabalho no horário de pico, com pista dupla para o tráfego nos dois sentidos, calçadas para pedestres, além de ciclovias. Esta obra é fruto da parceria governo do Estado e Prefeitura de João Pessoa.  O Viaduto vai ao encontro da rua do meio até então sem nome que passou a se chamar Rua Antônio Gumercindo Falcão Rodriguez, numa feliz coincidência: a ponte tem o nome do pai e a rua tem o nome do filho.

O governador do Estado da Paraíba, João Azevêdo Lins Filho, fez um convite à população para a Solenidade de Inauguração da “ Ponte Engenheiro Serafim Rodriguez Martinez”, no dia 01 de novembro de 2024 (sexta –feira) às 16h:30 O público atendeu ao chamado e compareceu em massa. Falaram o Governador João   Azevedo Lins Filho, o Prefeito Cicero Lucena, o Secretário Deusdedith Queiroga, o deputado Adriano Galdino e o vereador Marcilio de HBE.

Ao iniciar a solenidade o Mestre de Cerimônias chamou-me para proferir o discurso em nome da família do homenageado, o que o fiz muito emocionada. Assim me expressei:

BOA TARDE A TODOS

Cumprimento, através do Governador João Azevedo Lins Filho, as autoridades, os amigos e os parentes presentes, ao mesmo tempo em que justifico a ausência dos que estão em Brasília e Salvador que não puderam comparecer.

Início minha fala com palavras de agradecimento ao Governador do Estado, João Azevedo Lins Filho, por sua iniciativa e outros que participaram do processo, como o deputado João Gonçalves, de atribuir a esta obra tão valorosa do seu governo o nome do meu genitor, Serafim Rodriguez Martinez, pela Lei Nº 13.271, de 29 de maio de 2024.  Feliz a família que vê o seu patriarca, mesmo depois de morto, receber o reconhecimento da sociedade com relação às obras executadas no curso de sua vida profissional. Serafim foi um homem muito simples. Nunca gostou de ostentação. Sempre se apresentou humilde, mesmo ocupando cargos relevantes de comando no executivo no Estado, como Diretor do Departamento de Obras Contra as Secas-DNOCS. Foi Secretário de Estado, Administrador, Chefe, Fundador e Diretor do Departamento de Estradas de Rodagem que é um órgão do Estado que sempre se notabilizou por sua atuação, probidade e execução como modelo e se perpetua até hoje com a administração exemplar do Engenheiro Carlos Pereira de Carvalho e Silva, que foi seu aluno.  Na área da docência, Serafim notabilizou-se como fundador da Escola de Engenharia e da Universidade Federal da Paraíba. Exerceu na vida acadêmica os cargos de professor, diretor, reitor, vice-reitor, pró-reitor administrativo, prefeito do Campus Universitário e outros. Diante de toda trajetória permaneceu na sua simplicidade e com ela conquistou a todos que conviveram com ele, desde o motorista e demais funcionários que o chamavam de “pai velho”, aos mais elevados servidores. Serviu a todos os governos sem nunca se meter na política. Era caracterizado como um técnico.

Agradeço ao Prefeito Cicero Lucena, que sancionou a Lei ordinária Nº15. 232, de 14 de junho de 2024, projeto de lei de autoria do Vereador Marcilio do HBE, que dá o nome de Antônio Gumercindo Falcão Rodriguez a uma das ruas que dão acesso a este viaduto. Numa feliz coincidência proporcionando o encontro do filho com o pai. Meu irmão foi economista da SAELPA autor da maioria dos projetos das subestações daquela modelar repartição.

Ao concluir, peço a Deus que esta obra seja um marco na mobilidade urbana de nossa cidade, levando a felicidade aos que nela trafegarem. Reforço, mais uma vez, em nome da família, nossa eterna gratidão ao Governador João Azevedo Lins pela sua atitude como mandatário do Estado, perpetuando a memória de Serafim Rodriguez Martinez como modelo de honradez e competência aos que não o conheceram e, sobretudo, aos jovens de meu Estado e do país. Eternamente gratos. Tenho dito.  Regina Rodriguez Bôtto Targino.João Pessoa, 01/11/ 2024

Encerro esta crônica dizendo que minhas palavras são insuficientes para descrever a importância e a influência que exerceu Serafim na nossa vida. Hoje reconhece o seu exemplo como legado para seus descendentes e para todos que foram seus alunos e conviveram com ele. Esta herança, que não é riqueza física, porque Serafim não era rico, constitui no maior patrimônio moral que vai sendo transmitido de geração em geração como uma ferramenta fundamental do êxito para permanência da união familiar. Posso afirmar que o nosso patriarca construiu, ao lado de minha mãe  Elza uma obra prima, como pai enérgico, amoroso, amigo e ter  educado seus filhos a serem fortes e capazes de enfrentar as vicissitudes da vida, a voar em liberdade e atingir seus próprios sonhos.

Melhor que ganhar presentes é ser lembrado, ser amado e respeitado como pessoa e profissional e tal sentimento experimentamos ao receber o reconhecimento da sociedade paraibana através do seu Governador João Azevedo Lins Filho. Isto aconteceu com relação a Serafim Rodriguez Martinez e seu filho Antônio Gumercindo Falcão Rodriguez. Após o evento, recebi inúmeras mensagens, telefonemas, e pude avaliar e sentir em cada uma delas a energia do amor, carinho e perceber que o homem se eterniza pelas suas ações concretizadas nos feitos que construiu e realizou. Trata-se, portanto, de uma “JUSTA HOMENAGEM”.

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