João Pessoa, 10 de novembro de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Em todas as partes do mundo, entre famílias e solitários espalhados nos confins, lugarejos e metrópoles, o amor do homem pelos animais, só tem crescido. Leis etc destinadas a proteção dos animais e responsabilizando as pessoas que fustigam esses seres têm funcionado, mas tudo é muito pouco. No Brasil, ainda se maltratam muito os animais.
Éramos e ainda somos grosseiros e cruéis com o mundo animal, até porque fazemos parte dele – um espelho – um por todos (?) e todos por nenhum.
Meu pai sempre teve cachorro, mas não era criado dentro de casa. Morávamos numa casa sem jardim e de muro acimentado – mas criava noutro muro, do Jatobá Clube, cuja chave era pendurada num armador de nossa cozinha – isso eu já disse aqui.
Há muito li uma história relacionada a Nietzsche e um cavalo, que datam que, em 1889, o filósofo alemão viu um camponês espancando um cavalo em Turim e, para ajudar o animal, abraçou-o e chorou. Após o incidente, Nietzsche perdeu a razão e a voz por 11 anos. Não sei se é lenda, com a palavra os historiadores.
O filósofo sofreu um colapso e foi levado de volta ao quarto pelas pessoas que passavam. Ao acordar, começou a balbuciar frases ininteligíveis, cantarolar, martelar o piano e soltar ruídos estranhos. Era natural em sua pessoa, creio, que se afirmava mais e mais e mais, porque assim falou Zaratustra, com a luz rara e precisa.
Quando vi o filme O Cavalo de Turim, da produtora Juliette Lepoutre, senti logo que não era um filme, mas uma experiência de vida. Diante de 145 minutos, o filme tem algo de humano, desumano, que prova a extasia sem limite.
O filme traz a história dolorosa de pai e filha que passam seis dias à espera que seu cavalo doente possa retomar as atividades que sustentava a família. Tudo é repetição, tudo é cruel naqueles tempos à luz fraca dos candeeiros. As imagens, a música igualmente cíclicas, os sons rudes penetram em nossos poros como coisa vivida, quase de agora.
O Cavalo de Turim, faz referência metafórica a estada de Friedrich Nietzsche que tentou proteger o cavalo das chicotadas de seu dono. A chegada do velho com o cavalo à casa, na primeira cena, seria então subsequente àquele momento. O que passa a acontecer seria, quem sabe, o efeito de uma maldição. A vingança de Nietzsche? Talvez.
O fato é que pai e filha, tal como aconteceu com o filósofo, começam a ser abandonados pela vida. Progressivamente, o cavalo se recusa a comer e a puxar a carroça, a água do poço seca, o fogo se recusa a manter-se aceso. Em dois momentos, eles são visitados por estranhos, a quem reagem com indiferença ou repulsa. Formam uma célula isolada e indivisível, como seres ou não seres desde sempre expelidos (ou auto-expelidos) do mundo social.
O filósofo morreu com demência em 25 de agosto de 1900, na cidade alemã de Weimar, mas o cavalo morreu antes.
A semana passada vi uma postagem de um cidadão que tinha colocado seu cachorro para doação, porque ele, o tutor, estava com câncer e não tinha mais como cuidar do animal. Veio a melhora, ele entrou no site e viu que seu cão ainda estava para adoção. Correu para o mais belo reencontro da vida.
Kapetadas
1 – A vida é a arte do encontro com o desapontamento.
2 – Se fossem forças amadas não precisava de armas
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OPINIÃO - 22/11/2024