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Formada em Direito, Administração com ênfase em Comércio Exterior e pós-graduada em Comunicação Corporativa pela Universal Class da Florida.
É lider climate reality change pelo Al Gore e ceo do site Belicosa.com.br onde escreve sobre comportamento digital e Netnografia.

Cidades Inteligentes e Habitantes Exaustos: A Dicotomia Entre Conexão e Saúde

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publicado em 13/11/2024 ás 07h00
atualizado em 12/11/2024 ás 17h37

A ascensão das cidades inteligentes tem revolucionado a vida urbana ao integrar tecnologia nas esferas pública e privada. No entanto, a hiperconectividade que essas inovações proporcionam também impõe um custo elevado aos cidadãos.

O aumento da exaustão mental, ansiedade e insônia são reflexos claros do uso excessivo de dispositivos digitais e da sobrecarga de informações – um fenômeno conhecido como Infobesidade.

Então como  é possível criar cidades que sejam ao mesmo tempo tecnológicas e promotoras de bem-estar? Como não gerar impactos da hiperconexão na saúde mental? Algumas iniciativas mundo a fora sugerem que precisamos descansar sem as telas por perto. E cidades inteligentes que investem em estratégias para reduzir esses efeitos e discutem o papel das políticas de desconexão são tendencia para não adoecer sua sociedade.

Os Impactos da Hiperconexão na Saúde Mental

A hiperconexão está diretamente associada à exaustão cognitiva e a problemas psicológicos. Segundo um estudo realizado por Mark Carrigan e seus colaboradores, a constante necessidade de se manter atualizado e responder a estímulos digitais contribui para o aumento de ansiedade e burnout.

A pesquisa destaca que, especialmente em ambientes urbanos, o uso de smartphones e redes sociais cria um ciclo vicioso: o cidadão se sente pressionado a estar sempre disponível, mesmo durante momentos de lazer. Essa falta de fronteiras entre trabalho, vida pessoal e descanso tem como consequência níveis elevados de estresse.

Outro estudo relevante, conduzido por Jean Twenge em 2017, sugere que o uso excessivo de dispositivos digitais afeta negativamente a saúde mental, particularmente entre jovens. Twenge observou uma correlação significativa entre o aumento do tempo de tela e a incidência de depressão e insônia, reforçando que a hiperconexão pode minar o bem-estar. Embora esses estudos ofereçam uma visão clara do problema, eles também sugerem que as cidades, enquanto agentes organizadores da vida cotidiana, têm a responsabilidade de mitigar tais impactos.

Desconexão: Uma Nova Perspectiva para as Cidades Inteligentes

Para evitar que as cidades se tornem verdadeiras armadilhas para a saúde mental, é necessário adotar um modelo de urbanismo que integre momentos e espaços de desconexão. Cidades inteligentes, como Copenhague e Singapura, já estão implementando estratégias inovadoras para reduzir a carga tecnológica sobre seus habitantes.

Em Copenhague, por exemplo, foram criados espaços verdes com Free zones digitais, áreas livres de sinal Wi-Fi. Essas zonas incentivam os moradores a desconectar-se voluntariamente da internet e reconectar-se com a natureza. A cidade investe também em programas de promoção de transporte ativo, como ciclismo e caminhadas, estimulando os cidadãos a se deslocarem de forma mais saudável e menos dependente de dispositivos. Como resultado, a qualidade de vida em Copenhague é considerada uma das melhores do mundo.

Já Singapura apostou na criação de programas de smart health, que monitoram o bem-estar dos cidadãos, mas também incentivam práticas de descanso digital. Por meio de aplicativos municipais, o governo orienta os habitantes a equilibrar o uso de dispositivos e a participar de atividades ao ar livre, como parques temáticos e jardins. Além disso, o uso de tecnologias como a iluminação inteligente, que reduz o brilho das telas em determinados horários, favorece uma melhor higiene do sono, diminuindo os níveis de insônia.

O Papel das Políticas de Desconexão

Cidades que desejam mitigar os efeitos da exaustão digital podem seguir o exemplo dessas metrópoles e adotar políticas de desconexão. Isso envolve a criação de espaços urbanos que estimulem a pausa digital, como parques, bibliotecas e centros culturais. Além disso, é fundamental implementar campanhas de conscientização sobre o uso consciente de tecnologias e encorajar empresas a adotarem jornadas de trabalho mais flexíveis e equilibradas.

Outra iniciativa importante é o desenvolvimento de aplicativos de desintoxicação digital, que enviam notificações para lembrar os cidadãos de pausarem o uso de telas. Em paralelo, as cidades podem incentivar o design urbano focado em mobilidade ativa e convivência offline, integrando ciclovias, praças e eventos comunitários. Essas estratégias ajudam a restaurar o senso de pertencimento e diminuem a sensação de isolamento provocada pela vida digital intensa.

Embora a hiperconectividade tenha trazido benefícios inegáveis para as cidades e seus habitantes, seus efeitos colaterais são evidentes na saúde mental e na qualidade de vida.

Como demonstram os estudos de Carrigan e Twenge, a pressão por estar sempre disponível e o uso excessivo de dispositivos estão diretamente associados ao aumento do estresse e de doenças psicológicas. No entanto, como evidenciam as cidades de Copenhague e Singapura, é possível utilizar a tecnologia de maneira estratégica para promover o bem-estar. A chave para isso é equilibrar conexão e desconexão, criando espaços urbanos que permitam pausas digitais e incentivem interações presenciais.

As cidades inteligentes do futuro precisam ir além da eficiência tecnológica e adotar uma abordagem humanizada, onde o bem-estar dos cidadãos é prioridade. Com políticas de desconexão bem planejadas, será possível criar espaços urbanos que não apenas aproveitem os benefícios da tecnologia, mas também preservem a saúde e o equilíbrio emocional dos habitantes. Afinal, a verdadeira inteligência de uma cidade está em promover o bem-estar de seus cidadãos, e não apenas conectá-los a redes sociais.

Por Maria Augusta Ribeiro especialista em Netnografia e comportamento digital no Belicosa.com.br

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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