João Pessoa, 18 de novembro de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Sobrevoando o nordeste, há poucos minutos, o homem de jeito campestre ao meu lado abre a veneziana da pequena janela e começa a tirar foto no celular do seu filho.
Eu esbarrei com eles assim que entrei no BlablaCar.
Ele estava na mesma parada do posto que eu, onde estava esperando a chegada do motorista desse aplicativo.
Logo na saída ele fotografou o
Posto, as bombas, as pessoas, o cachorro sem dono, a estrada, o paralelepípedo e a viúva que havia pedido dinheiro para inteirar a passagem de volta a Campina Grande.
Por coincidência vi que ele estava entrando no avião também e que ele fez inúmeras fotos quando decolávamos.
Ela tirou foto da aeronave, da aeromoça, da aeroágua, do aeroporto, do aerochão, do aerobanheiro, dos tripulantes, do céu, da asa em movimento, do sol em riste. Ahhh, tirou selfie, mandou áudio pra alguém dizendo que estava decolando e que o avião era enorme. Estava tão feliz com esse momento, parecia que viajava a primeira vista e vez!
Passei uma vista detalhada e minuciosa em tidos tripulantes, não havia uma pessoa tão entusiasmada quanto seu Oswaldo, sim, Seu Oswaldo, não sei seu nome verdadeiro, mas como lembrava muito o pai de Andréa, minha grande amiga, resolvi chamá-lo de tal.
Sei que o mundo digital nos corrói e vicia, tento ver a beleza do mundo real por onde passo, não recrimino quem fica de olho somente no celular, mas os pais da fileira 14 que não souberam calar a criança que insistia em ligar seu “tablet” aos prantos e barracos em plena decolagem até atingirmos 10.000 pés, estes sim, confesso que… deixa pra lá!
Mas Seu Oswaldo estava ali atento a cada turbulência do voo longo, mas foi lindo no final vê-lo preocupado com as pessoas nervosas se levantando antes mesmo do avião parar, ele dava boa dia e bom retorno a todos que passavam por sua fileira, acho que imaginava o que toda essa gente apressada fazia ali, se voavam a turismo, se voltavam pra casa, se estavam longe de casa, se iriam encontrar alguém , se o destino era o final ou se ainda tinha muito percurso, se algum dia iria reencontrar alguém dali, depois parou e pensou que o “se” não existe e mudou os questionamentos para “quando”. Eu sei disso porque fui até lá falar com ele, ele me disse muita coisa linda, Seu Oswaldo é Seu Thales, mas não dei bola, pois não tinha nada a ver com o nome Thales.
Com bastante emoção, me despedi de Seu Oswaldo antes de chorar na sua frente e até me esqueci de me despedir do seu filho e na descida da escada uma lágrima escorreu do meu rosto! Como anda difícil atentarmos ao simples hoje em dia!
Quero daqui pra frente encontrar mais Oswaldos por aí.
PS. A ilustração é de Oswaldo, o Cruz
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TURISMO - 19/12/2024