João Pessoa, 21 de novembro de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Só vejo pardais voando, atualmente, pelas ruas da minha cidade. Um passarinho sem graça, marrom, que não canta nem faz nada de bom. Falam até que, não compõe a nossa fauna alada. Ouvi dizer que veio de fora. Alguém trouxe um casal , e o bicho empesteou o Brasil . Não sei se é verdade. Isso para não falar nos indefectíveis pombos, praga urbana, transmissores de doenças.
Tornei-me habitante da Av. Camilo de Holanda em meados da década de 1960 , quando meu pai ali comprou casa e instalou a família. Havia árvores por todo o logradouro. Não bastasse, vizinho a casa, havia um grande terreno baldio, também cheio de árvores. E, melhor ainda, havia a Mata do Buraquinho bem perto, exuberante. Todo esse vergel, aliado ao menor movimento de carros, menos barulho e agitação urbana, tinha um efeito excelente: pássaros à mancheias .
Todos os dias, sem falha, os pequenos visitantes alados chegavam sem cerimônia. Canários da Terra, amarelos e com penugem avermelhada na cabeça, vinham de revoada. Invadiam o jardim, o quintal, e até o terraço de trás , da casa. Cantavam lindamente a liberdade.
Muitos beija-flores vinham regalar-se nas plantas. Simpáticos sibites e graciosas lavandeiras eram assíduos. Vez em quando, um azulão , impondo sua forte cor. O galo de campina era raro, mas, aparecia. As lavandeiras, elegantes em preto e branco, eram reverenciadas: haviam lavado as vestes de Nosso Senhor.
Bem-te-vis , com seu canto único, brigavam com o gavião. Não podiam se ver , e a confusão começava. O rapinante acabava batendo em retirada. A luta era desigual, dois contra um. Provavelmente era o casal defendendo o ninho. Rolinhas de vários tipos não faltavam.
Um amigo morou alguns anos em Palmas , Tocantins , disse que era comum ver araras, tucanos e papagaios, nas árvores urbanas. Aqui, não tive esse luxo. Já não havia mais. Quem queria criar um papagaio em casa, tinha que mandar buscar longe, no Sertão.
Fato é que não vejo mais essas populações por aqui. A cidade cresceu, as árvores sumiram das ruas, novas ruas foram abertas, muitas, centenas, levando de eito o verde, da que, outrora se orgulhava de ser a cidade mais verde do mundo.
Restaram apenas os pardais.
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