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Kubitschek Pinheiro – MaisPB
Fotos – Marcos Hermes e Lucas Lima
Pedro Luís lançou novo álbum, neste mês de novembro e celebra sua chegada a gravadora Biscoito Fino – “E se tudo terminasse em amor?”, já contagia no nome do 5º disco da carreira solo de um artista que há muito está nos palcos e tem seu trabalho reconhecido nacionalmente. A produção solo começou em 2011 com o álbum “Tempo de menino”.
O amor é um lema, o liame em suas diversas manifestações. Nesse trabalho, Pedro Luís escolheu o amor como tema central, o amor geral. As canções vão do romântico até o afeto explícito pelas cidades, signos, ruas, pessoas, gestos e atitudes. Tudo começou a ser concebido ainda na pandemia e marca a primeira vez que o artista participa de todas as etapas do processo criativo, da composição à produção sonora. Pedro Luís é pedra de responsa.
As colaborações inéditas engradecem a diversidade deste disco de Pedro, que convidou parceiros como Lucky Luciano, que coassina duas faixas: “Abraços dos Amantes” e “Vem Amar Comigo” e os espaços abertos para novos talentos como Letícia Fialho, com quem divide a composição de “Gole Contra Golpe”. Essa faixa foi inspirada pela questionada letra de Letícia, que seduziu o artista.
Chico César, cantor e compositor paraibano, participa do álbum na faixa “Carinho na Rede”. A música foca na banalidade do discurso das redes sociais, muitas vezes num clima tóxico. O álbum chega ainda com colaborações de artistas como Gisele de Santi nas faixas “Muito Amor”, gravada em dueto, e “Choro Punk”, outra crítica social cujo endereço são às grandes cidades lotadas e vazias, no engajamento entre “seres ou não seres” da canção “Seres Tupi” dele, que Pedro Luís canta no disco “Vagabundo” gravado com Ney Matogrosso.
Enfim, “E se tudo terminasse em amor?”, é um discão. Confere a entrevista com Pedro Luís e muito mais.
MaisPB- A canção “Vem Amar Comigo” – poderia ser chamada de Amor, os versos são belos, até nos remete para algo antigo de outra canção de que nunca amanhecesse o dia. E você ainda fala no final “como é que está o tamanho dessa música?” – Vamos começar por aqui?
Pedro Luís – Quase todas as canções poderiam se chamar amor nesse álbum, visto que o “core” do projeto é esse tema, por diversas perspectivas. Quando comecei a provocar os parceiros, ainda em isolamento social em 2020, letras e ideias acerca do mote “amor” em um espectro amplo, foram chegando preciosidades como esta, de Lucky Luciano, que é talvez o parceiro que mais aceite essas provocações de “encomenda
MaisPB – A segunda faixa Golpe contra Golpe – é uma canção metafórica – mas está dado o recado e sua voz às vesses parece um aboio triste. É uma canção politica?
Pedro Luís – Essa é a 1ª canção que nasce das que fazem parte do disco. Em 2020 já em isolamento recebo essa letra preciosa da cantautora brasiliense Letícia Fialho e de fato ela nasce sim com uma certa melancolia talvez por conta do desafio inédito que estávamos experienciando pelo menos como geração: um mundo paralisado, sem os ritos das ruas e dos encontros. Foi uma pausa estranha, nada confortável, talvez isso tenha influenciado nessa atmosfera aboio triste como você bem sugere.
MaisPB – Tantos trabalhos com maestria, profissionalismo, que nem parece o quinto autoral, né?
Pedro Luís – Acho que esse álbum é o que mais me apropriei do processo, do nascedouro à finalização. Cada detalhe me moveu e envolveu como jamais antes havia acontecido – e olha que eu me envolvo bastante nos processos, via de regra! Os parceiros que busquei no caminho foram também fundamentais pra essa entrega.
MaisPB – Como está Pedro Luís de casa nova, a Biscoito Fino?
Pedro Luís – Gostando! Já havia participado em projetos alheios na Biscoito, mas experimentar o processo integral de por na rua uma cria tão cuidadosamente concebida está sendo um desafio interessante nessa casa tão identificada com ídolos meus e de todos que apreciam música brasileira.
MaisPB – Lindo esse negócio de Chico César dizer que ele já era um tijolo em sua Parede, numa alusão a Pedro Luís e a “Paraiba”, bem singelo da parte dele, não é?
Pedro Luís – hahaha, Pedro Luís e A Paraíba se não for obra do corretor é genial, pois Chico, meu amigo de estrada por quem tenho imensa admiração, é toda uma Paraíba, gigante em sua identidade. Esse mimo em palavras que ele me oferece é mais um exemplo do sujeito forte e gentil que ele é. E os temperos que ele traz pra Carinho na Rede, canção minha com Ana Carol, fazem muita diferença e agregam mais força ainda à canção e a sobre o que ela quer dizer.
MaisPB – Na faixa Na Flauta, nem precisou da flauta, esse choro bom que todo mundo quer, não é?
Pedro Luís – Sim! A flauta é metafórica na letra, mas o que me inspirou a criar a canção foi uma flauta de bambu do Cariri Cearense que ganhei de minha amiga e comadre Bianca Ramoneda, parceira em praticamente todos os meus projetos solo, inclusive nesse álbum com a direção artística dessa capa que eu adoro. Essa utopia de poder levar a vida na flauta é uma espécie de calmante pra que leva a vida na lida!
MaisPB – Muito Amor com Gisele de Santi é demais. Que voz bonita dela e você canta no mesmo tom. Vamos falar dessa canção?
Pedro Luís – Ah! Gisele é também uma cantautora admirável. Me impressionei quando ouvi seu álbum Vermelho e Demais Matizes e desde então me interessou a ideia de compormos juntos. Quando já estava com algumas canções do projeto prontas provoquei-a dizendo que faria um álbum em que a tônica seria Muito Amor. Ela me mandou um fio lindão da canção e eu devolvi de cá com meus fios que deságuam nessa trama leve, com ares de Luau. E sim, quem convida respeita a visita: o tom é o ideal para ela, mas como passeio bem por regiões agudas tudo deu “match”.
MaisPB – Carinho na Rede – parece muito com as coisas de Chico César – e parece outra canção politica, né? As risadas dele, que maravilha essa canção?
Pedro Luís – As risadas são minhas… Sim, é uma espécie de canção que propõe uma política de mais empatia nas tresloucadas redes sociais. Chico é um compositor imenso e como grande intérprete faz o que estes fazem: se apropriar de uma canção como se fosse sua! E assim foi nesse Carinho na Rede.
MaisPB – Que surpresa Muito Romântico de Caetano Veloso, cantando com um arranjo belo. Como veio essa sacada?
Pedro Luís – Caetano Veloso é uma das maiores referências da música e cultura nacionais, atravessa toda a minha vida como artista, pensador, cantor e compositor que é. Eu já vinha fazendo essa canção em alguns shows meus e gravá-la trouxe mais uma ampliação do espectro de amor que guia o disco. É um romântico papo reto, dedo na ferida.
MaisPB – Abraços dos Amantes parece ser a música mais delirante desse disco – que vai se encontrar com “A Barca dos Amantes” de Mílton Nascimento – falai?
Pedro Luís – Nessa canção eu queria dar voz às minhas emoções baratas. Quando demando a letra ao meu parceiro Lucky Luciano a premissa era essa. Ele, como sempre, deitou e rolou ao rabiscar os versos, só me restou fazer jus com o rio melódico e matar no peito do romântico que sou pra dar o meu melhor cantor de bolero dramático que habita em mim. Acho que temos um imenso manancial se canções que se entrecruzam nesse universo romântico e se a nossa remete a Milton já me acho digno de medalha de ouro.
MaisPB – Bom, eu queria saber muito mais, perguntar mais -mas não posso – mas diz ai – vai viajar para onde, vai cantar esse disco no Brasil inteiro?
Pedro Luís – A ideia é viajar por esse Brasil inteiro chamando toda a gente pra embarcar nesse multi romance comigo.
MaisPB – Tanta gente nesse disco – vamos elogiar a galera, Pedro Luís?
Pedro Luís – Todos os envolvidos no processo foram fundamentais pra chegar ao resultado que eu desejava desde os primórdios da concepção desse álbum. Mas destaco todos os meus parceiros de canções, os músicos que entregaram seus talentos e inspirações pra engrandecerem os arranjos, o André Moraes, que produziu junto comigo, por todo o seu talento de multi-instrumentista e arranjador inspirado e, especialmente, à Linda Benitez, minha agente que embarcou nessa viagem ousada sem senões, desde o princípio.
MaisPB – E capa, essa cama, que maravilha de sacada?
Pedro Luís – Aí é um destaque à parte: sob a genial Direção de Arte de Bianca Ramoneda fomos achando o caminho da imagem que definiria o álbum e esse meu novo momento. Minha comadre é craque, dentre outras coisas, do olhar e as referências que traz fazem muita diferença. Sobre a linda fotografia de Lucas Lima, feita em Lisboa em minha recente ida, fomos costurando desejos e referências, junto com o designer Carlos Alberto Rocha. É uma inspiração de Bianca a partir do quadro Morning Sun de Edward Hooper, obra de 1952. No Instagram da minha comadre ela faz uma postagem detalhada da construção da capa que vale ver. Naquela imagem e no texto dela estão contidas muitas possíveis respostas à pergunta E Se Tudo Terminasse em Amor? Vale saber.
OPINIÃO - 22/11/2024