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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Odeio fazer a barba

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publicado em 26/11/2024 ás 07h00
atualizado em 26/11/2024 ás 08h00

Quando quase me olho, não me vejo, coloco os óculos e a espuma já está feita, o barbeador e a lâmina mirando a pele bem perto das rugas, que fazem residências no meu rosto. Lembrei de uma história envolvendo Nelson Cavaquinho, Tom Jobim e Vinícius de Moraes,  mas não vou contar.

A canção “Rugas” de Nelson Cavaquinho, ainda sei cantar a capela. Odeio fazer a barba.

Passa por mim a lembrança de um homem jovem, com uma mochila nas costas, quando pegava carona pra universidade.

Nas traquinadas do jovem, tinha uma linda mulher. O rapaz envelheceu e hoje visivelmente preferiria não ter desistido daquela mulher, apesar do amor não ser correspondido.

Naquele tempo, uma moça deveria ou teria que se casar com um médico ou um juiz, que eram e ainda são um “bom partido”. O jornalista seguiu pelo deserto, até outras sacadas existentes, carregadas de significados,  nunca explicados, mas sem nada dizer.

Eu já tinha as palavras para expressar o amor, mas palavras são “cargas d’água”, elas não põem comida na mesa – reduzem a possibilidade do movimento amoroso, de quem se imagina capaz, jamais um capataz.

Nesse momento da vida em que vou trabalhar e volto para casa sem as emoções do Roberto,  escuto “Você perdeu”,  canção que passa longe da dor de cotovelo –  de Márcio Valverde e Nélio Rosa, cujo refrão é assim:  “Foi você quem se perdeu de mim, foi você quem se perdeu, foi você quem perdeu. você perdeu”.

Noves fora nada, nada mesmo, mas ainda me pergunto se fui, quem sou ou seremos e nunca fomos e isso se retém, mas a palavra do dia é “relaxe”, como se o verbo cruzasse com o olhar de quem quer me dizer alguma coisa, mas não diz.

Então, fiz a barba. Dessa vez não me cortei e o que pensei, o que se viu, vem de longe, de onde vem ( ? ) o que busco, o que sonho, o que já fiz dessa vida, que já vai mais da metade da passagem, mas acredite, minha mãe não dorme enquanto eu não chegar. De onde?

Kapetadas

1 – No fim do dia, este é mais um vício de linguagem que é o fim, mas amanhã tem mais…

2 – Memória, quando é muito boa, é muito ruim.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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