O salário do escritor é o reconhecimento do leitor ou, na íntima relação com sua arte, sentir o alimento que nutre com alegria os momentos supremos na hora da criação, ver a obra ganhar corpo, e estar nas mãos das pessoas e nas bibliotecas. Outro gesto não há para superar a alegria que nos dá o ato de escrever.
Gonzaga Rodrigues, isento de apresentação, foi brotado no barro vermelho de Alagoa Nova que produz boa cana, certamente muitas louvações à terra e ao homem ele registrou em setenta anos produzindo crônicas, conquistou leitores anônimos ou revelados na amizade.
Às vezes fico a pensar como se sente o escritor, o poeta, o artista que lida com a arte da pintura, quando alguém, próximo ou em distante paisagem, sem o conhecer, mete-lhe na cara um elogio. Não elogio corriqueiro, mas cheio de palavras de reconhecimento ao prazer da leitura.
O leitor Jeová, de Sergipe, possibilitou a Gonzaga reviver com intensa alegria esse contentamento quando, depois de encontrar nas redes sociais o cronista paraibano, de forma elegante, agradeceu pela referência deste ao sergipano Genolino Amado, em crônica publicada em abril.
No carinho com que recebeu os efusivos agradecimentos do citado leitor, Gonzaga respondeu em bilhete, nos termos da boa educação, afirmando que “não aderi a sua terra apenas com a leitura benfazeja de Genolino. Ele foi aperitivo para toda a vida”. De forma confessional, acrescenta: “Depois tornei-me sergipano dos pardos não só com Gilberto Amado como sobretudo com Manuel Bonfim, com quem Silvio Romero discordava, fisgado pelo germanismo que dominou a Historiografia na sua época”.
Saudação enviada como resposta, alimentada pela fina educação, nosso cronista revela o trato dispensado aos seus leitores. Leitores que estão distantes, desconhecidos, mas sobretudo aos que cruzam com ele nas ruas desta cidade, os de hoje e aqueles que acompanham sua crônica há tantas décadas.
Gonzaga – Luiz Gonzaga Rodrigues – foi modelado na mistura de boas maneiras e na bondade reveladas à sombra do que restou de Padre Ibiapina na Casa de Caridade, em Alagoa Nova, onde sua mãe Antonina recolheu boas maneiras de acolher as pessoas, com oração e caridade.
Ao peso das nove décadas de vida, vejo Gonzaga andando igual a um pastor com os olhos no chão, como sempre caminhou, seja ao tempo quando morou na terra onde nasceu, na rápida passagem por Campina Grande e, a partir de 1951, em João Pessoa, cidade que carrega na palma da mão, conhece suas ruas e seu passado. Ele conhece o sentimento de sua gente e o imperceptível chuvisco das chuvas, sobre os quais escreve com elegância e paixão, então, o reconhecimento do leitor, sobretudo desconhecido, vivendo distante, chega como salário que a inflação não desgasta.
Escritor de reconhecida elegância na criação literária no gênero da crônica, com textos de grande beleza literária e alta inspiração poética. Ele aborda temas aplicados ao nosso cotidiano, a história de nossa gente, de nossa cidade. Sem nunca se ocultar em defender esta cidade, desde a ventura inicial dos que aportaram nas terras à beira do Sanhauá, e fazendo uma incessante profissão de amor à terra defendida pelo valente e saliente Índio Piragibe, Gonzaga se tornou nosso cronista-referência. Certamente iniciou o caminhar de escritor repetindo no coração a frase do salmista “guardarei as vossas leis; não me abandoneis jamais”. E terra que o acolheu, silenciosa como a voz de Deus, responde há mais de setenta anos, “jamais te abandonarei”.
Quem age dessa maneira, com elevada afeição à terra e às artes, conquista a admiração de seus patrícios e de dos que, atingidos pela expansão da voz pelas redes de comunicação, sobretudo pelo livro, tem o reconhecimento de além fronteiras. Ganhar um leitor, é o maior salário do escritor.
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