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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Carlos, o homem invisível

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publicado em 01/12/2024 ás 08h29

 

O último encontro com o jornalista Carlos Aranha foi no Banco do Brasil da Praça 1817. Não, não quero falar do último, nem da primeira vez, sequer da primavera. Entre o silêncio e o invisível esbarramos numa epopeia, a velha epopeia, essa palavra que a gente usava muito nos anos 80, assim como um happening.

 

Para alguns, Carlos Aranha está entre acenos do passado que o perseguem, nunca entre as frases, ditas ou escritas por ele, quando era um ser visível aberto a essas coisas ou coisa nenhuma.

 

Aranha viveu o gosto de um sonho que era para ele, mas acordou tarde naquele dia. Não guardo dele a fotografia que fizemos no interior do Banco do Brasil – até que procurei, mas lembro daquele momento, nós dois em plena lucidez.

 

Desde a primeira vez, talvez não, eu percebi nele um homem abalado pelo impossível, que sabia muita coisa, mas se agarrou ao jornalismo, certamente por uma questão de prazer e sobrevivência. Poderia ter sido cantor, mas não é fácil compor e cantar. “Ivone Pelo Telefone” que o diga.

 

Aranha sequer remexeu nos ciclos e se um dia foi realizado como aprendemos a gostar de imaginar que somos, mas o futuro é tão antigo quanto o passado. Carlos sabia o que sabia e isso parecia suficiente. O que é o suficiente?

 

Se ao menos a gente soubesse o que sabemos agora, se nos fosse oferecida a oportunidade de outra vida simples ou voraz, não diria outra palavra, senão, repetir a sacada do refrão do Rappa, “Paz sem voz, não é paz é medo”

 

Não estou dizendo exatamente nada, sobre o tempo em que ele ficou internado num abrigo num bairro da cidade – ali não era mais Carlos Aranha – não era mesmo – já tinha se despedido do mundo, ao morrer tantas vezes em demasiado na sua imaginação – sim, a gente morre todos os dias.

 

Cada vez menos tocado no vinco da vida, Aranha voltou para casa, não a casa de Cruz das Armas, mas talvez ao extremo, o segundo sol ou o mais ansiado perfume das flores invisíveis de quem é merecedor.

 

Fazer renascer na própria vida quando o dia não é mais rotina, quando a idade bate na porta, certamente aumenta a fome de viver, mas não foi o caso dele. Já vivia o claro e o escuro, sem perguntar que horas são. Pra quê? Deixou para trás a Lagoa do Parque Solon de Lucena pé ante pé que ele adorava, sem jamais estrangular o cisne.

 

Não sei se lançou reflexos ou reconfesso, sei lá,  procurando outra forma de vida. Claro que não.

 

Ontem olhando o mar não lembrei dele, ele não era do mar. Nem imagino a última vez que Carlos esteve diante do mar. Mas isso pouco importa.

 

Na superfície, ele não está, falamos muito e as palavras fazem-nos ver que o silêncio é maior e ter a certeza de que tudo isso será esquecido, até o mais singelo e verdadeiro gesto dele ou meu.

 

Não sei mais o que falar sobre Carlos Aranha – não sou nem mais doce ou misericordioso, nem guardo horas perdidas –  a continuação da vida é uma ordem até que todos nós nos percamos de vista.

Kapetadas

1 – Sustentar uma decisão é pior do que decidir.

2 –  Saber esconder a dor não significa que não dói.
 
Foto de Ivomar Gomes Pereira

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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